Guia da Semana


Foto: Arquivo Guia da Semana
Clube Vegas: um dos mais movimentados da Augusta

Há algo de novo na chamada Baixo Augusta, região considerada a parte suja da famosa rua que já serviu de inspiração para músicas de diversos artistas, como Tom Zé e Roberto Carlos, e em breve terá um filme em sua homenagem, dirigido por Francisco César Filho, o Chiquinho. Quem costuma ler sobre a noite paulistana deve imaginar que sou apenas mais um jornalista querendo divulgar três novos bares que abriram na região nas últimas semanas, mas não é este o caso.

Não apenas estas três casas, mas também o filme Augustas, supõem que o preconceito contra a região está dando lugar a um certo glamour underground. Quem frequenta ali, percebe, há algum tempo, que a fama da rua está cada vez mais deixando de ser apenas pelas famosas casas de diversão masculinas. Passa a ser principalmente por outros tipos de diversão noturna um pouco mais comportada (mas não tanto).

Um dos primeiros indícios da grande mudança que ocorre foi a chegada do Studio SP na rua, há cerca de um ano. Não que casas como o Outs, Inferno, Vegas, Sarajevo, Astronete A Lôca, Funhouse, entre tantas outras, não fossem suficiente para dar status para a região, mas a abertura do clube vindo da Vila Madalena indicou uma nova fase para a rua, que na época ganhou também outros espaços, como o clube Boca.

De lá para cá, as calçadas da Augusta nas noites de sextas, sábados e dos demais dias têm movimentação cada vez maior. Até os chamados "Emos" a elegeram como point, se reunindo na maioria das vezes na frente de bares como Vitrine, Ibotirama e Cuca Ideal, assim como os alternativos, intelectuais e tantas outras tribos. Não à toa, os três e muitos outros bares passam frequentemente por problemas com a prefeitura por conta do PSIU. Sempre lotados, é quase impossível conseguir uma mesa nos mais tradicionais, dependendo do horário, o que faz a alegria dos donos de botecos, que até poucos anos, viviam às moscas.

Aproveitando este aumento de público, há quase que semanalmente um novo empreendimento nascendo na região, casas como Dex Bar, The Pub, Bar do Malandro e Tapas surgem e logo se tornam sucesso, cada uma com um público alvo diferente. Apenas o bar teatro Club Noir, aberto em novembro, parece não convocar uma multidão. Talvez pela decoração mais elegante ou por já estar mais afastado do tumulto das demais casas da noite da Augusta, ainda assim com grande movimentação. Mesmo durante o dia a rua perde sua cara de abandonada e passa a ganhar temakerias, sorveterias, lojas colaborativas, casas de açaí e até mesmo instituto de depilação.

As mudanças, o crescimento, a redescoberta da Augusta, porém, não podem ser considerados como algo totalmente benéfico. É comum, hoje, encontrar quem resmungue pelas noites que a rua morreu, que está se transformando em uma nova Vila Olímpia. É visível a mudança. Tido como um dos pontos de maior diversidade do país, a Augusta parece passar nas últimas semanas por uma pasteurização de seu público.

Mesmo em um show emo, realizado no Inferno na última sexta-feira 13, a maioria na fila apresentava um visual bastante tradicional, o mesmo encontrado em bares como os três tão citados pela grande mídia.

Por enquanto, os públicos ainda se misturam. Ainda é possível encontrar no baixo Augusta, mesmo durante o dia, figuras que você não imaginaria ver em qualquer outro lugar do país. Porém, estes estão se tornando cada vez mais minorias. Quem não conheceu a Augusta que fez sua fama pela vida noturna diversificada, corre o risco de nunca conhecer, percebendo apenas uma nova Vila Olímpia ou Vila Madalena. Ainda assim, tenho esperança de que o espírito da rua não morra jamais. Longa vida ao Baixo Augusta!

Quem é o colunista: Ravi Santana.

O que faz: jornalista, estudante de filosofia e sobrevivente do caos de São Paulo nas horas vagas.

Pecado Gastronômico: Carnes!

Melhor Lugar do Mundo: Alguma praia tranquila sob o sol escaldante de Pernambuco.

Para Falar com ele: [email protected] ou acesse seu blog

Atualizado em 1 Dez 2011.