É madrugada de sexta. A fila de entrada na balada da Rua Gumercindo Saraiva - zona sul de São Paulo - quase contorna a esquina. Para entrar na boate Pink Elephant, é preciso muito mais do que dinheiro e uma reserva. Caso não seja famoso (ou amigo de um), o jeito é se amontoar entre os jovens com roupas de grife, nas grades que os separam do clube de luxo. Enquanto esperam, todos eles são submetidos à boa vontade da hostess, que escolhe a dedo os poucos que entram.
Para poucos
Embora a cena acima não seja novidade, os clubes paulistanos estão indo cada vez mais além no conceito de casa elitizada. Ao que parece, o critério de acesso passou a variar de acordo com o humor de quem está na porta. "Fui convidado para uma festa fechada na Pink. Mesmo com nome na lista a hostess não liberava a entrada, afirmando que precisariam sair 40 pessoas para entrar apenas dois. O problema é que enquanto aguardávamos, alguns conhecidos dela entravam sem a menor dificuldade", afirma o gerente de loja Henrique Camurati.
Entre os que conseguem entrar, o público costuma seguir um estereótipo. Eles: camisas pólo Ralph Lauren (ou Lacoste) e jeans Diesel. Elas: chapinha, bolsas Chanel e vestidos de grifes. Boné, chapéu e chinelo de dedo, nem pensar. Mas ao que parece, as restrições no código de vestimenta não assustam os frequentadores. "Gosto da Museum, é muito bem frequentada, com gente bonita e, acima de tudo, interessante", diz o empresário Gabriel Medeiros, referindo-se a outra famosa casa do gênero na capital paulista.
Critérios duvidosos
Situada no bairro do Itaim, a Disco Club também é conhecida por ser uma balada projetada para receber poucos e exigentes clientes. Em um ambiente fechado, o som predominante é o house, nos picapes de nomes como Pete Tong, Deep Dish e Steve Lawles, que já se apresentaram na boate onde acontecem festas particulares de Gisele Bündchen e Naomi Campbell.
Outro estabelecimento paulistano conhecido pela sua restrição fica em uma casa de toldo preto, colado em uma parede cinza na rua Álvaro Anes, quase esquina com a Cunha Gago, no bairro de Pinheiros. Sem letreiros luminosos, placas ou nada que a identifique o lugar, o "Bar Secreto" (nome criado pela imprensa), está na boca da dos fashionistas e moderninhos.
Mesmo com convite na mão, nome na lista e dinheiro na conta, a entrada no estabelecimento é condicionada pelo aval da hostess, conhecida pela sua clara preferência a estilos mais alternativos. O lugar não conta com assessoria de imprensa, nem divulgação do espaço, mas a mídia espontânea é garantida por celebridades como Madonna ou a modelo Agyness Deyn.
O preço da exclusividade
Mas além da portaria, o divisor de frequentadores continua sendo o aspecto financeiro. Para entrar na Museum, o cliente deve estar disposto a consumir de R$ 50,00 (mulher) a R$ 170,00 (homem), o que levando em conta o preço da cerveja (R$ 15,00), não é muita coisa. O camarote da Pink Elephant custa de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil reais, mas pode chegar a R$ 10 mil, dependendo do evento.
A ideia é atrair um público majoritariamente feminino (e os homens por consequência), incentivando a consumação. Por essa razão, algumas casas costumam até vetar grupos masculinos muito numerosos. "Quando saio com as minhas amigas, elas nunca gastam nada, acabo bancando tudo. Além de nunca sair sozinho de lá, estou sempre cercado de belas mulheres", revela o publicitário Carlos Henrique, confirmando que a estratégia das casas, financeiramente, pode dar resultados.
O que diz a lei
Apesar de constrangedor para quem aguarda na fila de espera, não há nada que impeça a seleção de público pelas casas noturnas, do ponto de vista legal. Como são propriedades particulares, todas elas têm o direito de exigir o traje julguem adequado, ou qualquer outro tipo de restrição que não caracterize discriminação em virtude de opção sexual, classe ou cor de pele.
Mesmo assim, para quem se sentir ofendido, o advogado José Ricardo Martins aponta o caminho legal a ser tomado. "Caso a pessoa se sinta lesionada, ela pode até entrar com uma ação, porém nessa situação é preciso ter testemunhas comprovando a ofensa, que é caracterizada como dano moral. Mas geralmente tal medida não compensa. A dor de cabeça é enorme e o resultado dificilmente é favorável".
*Procuradas pela redação, as casas noturnas não se pronunciaram até o fechamento desta reportagem.
Fotos: Getty Images
Atualizado em 6 Set 2011.