A cantora nos estúdios da Columbia Records, nos primeiros anos de carreira
Talentosa, pioneira e conturbada a são alguns adjetivos que marcam os 55 anos de carreira de Aretha Franklin. É claro que não são capazes de sintetizar sua história, mas ajudam a explicar façanhas como a de ser a primeira mulher negra a estampar a capa da revista Times, a entrar no Hall da Fama do Rock e ter ganho 20 Grammys, além do título Dama do soul.
Aretha aprendeu os três pilares de sua arte - a música, a religião e a questão negra em casa, com seu pai, o reverendo C.L Franklin. Na Congregação Batista de Detroit, ela começou no coro e sua primeira gravação, mesmo que caseira, foi aos 14 anos.
Já com 19 anos, casada e mãe de duas crianças, lançou seu primeiro álbum, nomeado Aretha Franklin, pela gravadora Columbia, em 1961. O trabalho contou com a dedicação de San Cooke e John Hammond, grandes produtores da época. No entanto, com gravações principalmente de standards do jazz, o disco não estourou.
A história começa a mudar com o lançamento de dois singles que viraram o álbum The Tender, The Moving, The Swinging, em 1962, que trouxe Try a little tenderness, um dos primeiros hits da cantora. Na sequencia, lança um tributo à amiga e cantora Dinah Washingthon. Ambos são elogiados pela crítica.
O sucesso absoluto viria sob o contrato com a gravadora Atlantis (arquirrival da Montown, que tentou várias vezes contratar Aretha, sem sucesso). O álbum Never Loved a Man the Way I Love You alcançou o topo das paradas, em parte devido à produção de Otis Redding, que acrescentou uma dose de funk nas batidas e estimulou a cantora a buscar registros vocais mais autorais, criando sua marca musical, com notas soltas e altas pontuando estrofes e melodias. É de Redding a autoria da música Respect, primeiro lugar da parada Billiboard no ano de 1966.
Aretha é coroada pela publicação como a Rainha da Black Music, e, dois anos depois, emplaca o definitivo Lady Soul, concluindo sua migração do jazz tradicional para o universo do soul. Canções como Chains of Fools, A Natural Woman, Groovin e Ain't no way tocaram tanto e venderam tantas cópias que concederam à artista os seus primeiros Grammys nas categorias black e pop music e jazz. Tamanho sucesso a coloca na capa da revista Time.
Da Lady Soul para a Senhora do pop
Foto: Getty Images
O parceiro Ron Isley junto com Aretha e a Orquestra Filarmônica da Filadéfia numa apresentação em julho do ano passado
Ao chegar os anos 70, Curtis Mayfield, Ray Charles, James Brown e todos os demais compositores queriam ser gravados por Aretha Franklin. A década será a fase de consolidação da cantora, e também o período mais conturbado, rendendo manchetes para revistas de fofocas.
Com contrato milionário renovado com a gravadora Atlantis, a cantora passou a gravar um trabalho por ano, às vezes, até dois. Tal produtividade permitiu a ela que explorasse diversos estilos. O gospel foi um deles, rendendo o mitológico Amazing Grace, gravado ao vivo em 1972 com o coro da New Temple Missionary Baptist Church, de Los Angeles, regido pelo seu pai, o reverendo C.L Franklin. O resultado foi um álbum duplo só com tradicionais canções gospel e spirituals - nome dos antigos cantos africanos na América - recheando um culto para lá de animado. Amazing Grace vendeu mais de dois milhões de cópias, ganhou mais um Grammy e alcançou a marca de disco de platina duplo.
Seu temperamento intempestivo, mas até então discreto, começa a ser motivo de comentários após o fim do casamento com Ted White, parceiro de muitas músicas, em 1969. Depois disso, Aretha foi presa algumas vezes, por excesso de velocidade, direção perigosa motivada pelo álcool e porte de maconha. No auge do movimento Black Power, se envolvou com grupos extremistas, o que contrariou seu pai, e buscou, uma musicalidade ainda mais próxima do funk e da disco music. Do período, os álbuns Sweet Passion e Sparkle se destacam, mesmo que com pouco apelo comercial. Em 1979, seu pai é atingido por tiros numa tentativa de assalto, permanecendo em estado vegetativo até a morte, em 1984.
Cena do especial This Christmas, Aretha
Os anos 80 vão marcar um novo período artístico em sua carreira. A primeira mudança foi a assinatura do contrato com a Arista Records, por onde lançou Aretha, em 1981. O título, igual ao primeiro álbum, traz um sentido de relançamento, apresentando uma cantora pop, a dama dos shows beneficentes e das parcerias com jovens cantores.
Com Jump to It, de 1982, ela reestabeleceu seu posto de hitmaker, retomando o topo do ranking da Billiboard com a faixa-título. Três anos depois, o állbum Who's zoomin' who, uma produção que flerta com o rock e melodias da world music, foi o sucesso do verão, eternizando temas como Freeway of Love. Aretha grava especiais como We are the world, campanhas a favor de refugiados e todo tipo de evento social, além das campanhas e vitórias do Partido Democrata, hábitos e posturas que mantém até os dias de hoje.
Em 1985, gravou com a dupla Eurythmics Sisters are don' It for Themselves, inaugurando sua fase de duetos, a qual faz parte o duplo compilado Jewels in the Crown: All-Star Duets with the Queen e diversos especiais para televisão. A consagração do período foi o hit I Knew You Were Waiting (for me), um dueto com George Michael, de 1987. A música bateu recorde de execuções, fazendo de Aretha a única cantora a ter dois Tops One na carreira, garantindo, em definito, sua entrada no Hall da Fama do Rock, celebrada e oficializada no mesmo ano.
Mas a vida não dá mole nem para ela, que teve de enfrentar mais uma separação e a morte de câncer da irmã e confidente Carolyn, em 1988. Após o evento, passou a ficar mais tempo em Detroit do que Nova Iorque, e ter uma vida mais regrada, mesmo que mantendo uma robusta agenda de shows e lançamentos. Desses, vale o destaque de duas retomadas gospel: os discosOne Lord, One Faith, One Baptism, de 1987, e This Christmas, Aretha, de 2008, seu último trabalho. A nós, fãs, resta agora aguardar A Woman Falling Out of Love, 51º álbum e primeiro lançado pelo seu próprio selo, o Aretha Records, e imaginar qual das faces a diva estampará no novo trabalho.
Atualizado em 6 Set 2011.