Foto: Divulgação |
Há quase uma década mantendo acesa a tradição do samba de raiz na noite paulistana, a comunidade do Samba da Vela realiza edição especial no Sesc Pompéia nesta sexta, 18 de julho.
Um dos fundadores do projeto, o compositor Paquera, conversou com o Guia da Semana sobre a história da roda de samba mais respeitada da cidade. Junto de Magnu Sousa, Maurílio Oliveira e Chapinha, ele conduz a celebração que acontece toda segunda na Casa de Cultura de Santo Amaro.
Como um verdadeiro culto ao samba, o quarteto - dois deles fazem parte do Quinteto em Preto e Branco - e convidados cantam sucessos como "Acendeu a Vela", "Foi Ela" e "Caminho de Luar". A celebração dura até a vela se acabar.
Guia da Semana Como surgiu o Samba da Vela?
Paqüera O Samba da Vela nasceu de uma falta de opção para ouvir boa música na década de noventa. Nessa época, o axé, o pagode romântico, manipulado pelas gravadoras e editoras, e a maçante inserção da música norte-americana, que ainda hoje continua a infestar a nossa cultura, eram a principal forma de lazer do povo. Por conta disso e também pela falta de renovação dos compositores de bons sambas, tivemos a idéia de montar um reduto que valorizasse o criador e suas criações com base na linhagem tradicional do Samba de Terreiro. Nossa intenção era apenas retirar da gaveta e da geladeira artistas desconhecidos, que nunca tiveram a oportunidade de mostrar suas criações. E deu certo!
GDS E por que a vela? O que ela representa para vocês?
A vela é simplesmente um relógio, ela controla as apresentações dos sambas. Para mim ela representa a conexão entre o criador e a criatura, a minha forma de dizer às pessoas o que acontece ao meu redor, na linguagem da minha terra e com a música do meu povo, o samba.
GDS O que mudou de oito anos para cá?
As mudanças foram poucas desde a fundação da Comunidade. A mais significativa foi a formulação das regras para amostragem dos sambas, pois a quantidade de compositores e sambas era muito grande, tivemos que organizar para dar melhor oportunidade a todos. No resto, é acender a chama, cantar o samba e, quando ela acabar, não tem choro e nem vela. É ir para casa, com a alma lavada e a mente renovada.
GDS Qual o segredo para ter dado tão certo?
Trabalho, comprometimento, voluntariado e orgulho em defender tudo o que a gente acredita, o Samba Brasileiro.
Foto: Divulgação/ Roger Soares |
GDS O que vai no repertório de vocês?
Todos os sambas que os compositores tiverem para mostrar. Mas, para fazer parte do acervo da Comunidade, tem que ter a linhagem do samba tradicional de terreiro. Isso é avaliado pelos organizadores e pelo público presente nos nossos encontros às segundas.
GDS Como é o samba hoje no cenário musical do Brasil e do mundo?
O samba da década de 60 até hoje sobrevive às armadilhas das gravadoras, das editoras, da mídia e dos meios de comunicação. Ele é nossa identidade cultural, reconhecida no mundo inteiro. No entanto, não é protegida pelo órgão responsável pela cultura popular. Somente o povo o protege e com ele sobrevive. E é por ele que o Samba da Vela existe.
GDS Qual a opinião de vocês sobre os novos artistas do samba?
Os novos intérpretes do samba não estão dispostos a arriscar suas carreiras com os novos compositores. Eles cantam os sambas dos clássicos compositores - a maioria já no andar de cima - enquanto os novos se arriscam gravando suas obras por conta própria. Por sorte, alguns estão se dando bem, como o Quinteto em Branco e Preto, o Samba da Vela, o Berço do Samba de São Mateus, que estão aí fazendo os seus trabalhos. Ainda tem a Graça Braga, cantora e compositora da Vela, uma das raras exceções. Em breve ela deve lançar o seu primeiro trabalho. É uma pena, o Samba da Vela está cheio de bons sambas e espera a visita dos intérpretes, para que eles descubram o talento dos novos compositores.
GDS Em que o samba se difere do pagode?
Tudo é samba. Alguns manipulados para gerar lucro rápido, com letras sem conteúdo, mas de forte apelo comercial, e outros preocupados com a preservação da boa linhagem tradicional de terreiro. Salve as Velhas Guardas!
GDS Quais os melhores lugares para se freqüentar uma boa roda de samba?
Em Sampa temos o Bar Samba e o Salve Simpatia, ambos na Vila Madalena, o bar Vila do Samba, na Casa Verde, e o Você vai se quiser, este último de minha propriedade, juntamente com Edvaldo Galdino e Graça, que funciona somente aos sábados, das 13h às 21h, na Consolação. Lá, nossa marca principal são os sambas tradicionais e os novos sambas dos compositores das Comunidades.
Serviço
Samba da Vela - 8 Anos (saiba mais)
Atualizado em 6 Set 2011.