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Segundo testemunhas, John, adepto da diversão descompromissada na mesa de bar, estava com seus companheiros na área externa do local quando um grupo de jovens nada amistosos começou a atacar e agredir os clientes da casa. Tatiana, a amiga, disse que uma garota pediu o isqueiro emprestado a John. Ele não tinha fogo. A garota ficou irritada, chamou seus amigos e o resultado foi um jovem de 19 anos assassinado a facadas, no meio de todo mundo, no coração de Sampa. Aos criminosos foi atribuído o título de "punks".
Cenas como essa, apesar de trágicas e tristes, acontecem frequentemente em todos os grandes centros urbanos do planeta, inclusive em São Paulo. Brigas de gangues, espancamentos covardes, assassinatos, humilhações públicas e outras atrocidades acabam sempre sendo atribuídas a "tribos" já conhecidas da população em geral: punks, skinheads, góticos e etc.
No entanto, ao olhar o histórico de todos esses movimentos, nota-se que nem sempre a violência e o preconceito são via de regra. Na verdade, na maioria dos casos, os que seguem esse tipo de doutrina maléfica são excluídos do convívio entre os que perpetuam suas tribos com os conceitos originais, voltados ao lado cultural e musical.
O Guia da Semana coloca um feixe de luz sobre um dos movimentos considerados mais violentos da sociedade urbana atual, os skinheads. Conheça a história do grupo e saiba qual a real relação que eles têm com a violência na noite.
Skinheads
" Eu estava saindo do metrô Clínicas à noite, quase 23h, quando ouvi passos de gente correndo atrás de mim. Só deu tempo de virar a cabeça e já tomar um soco. Caí no chão, eles passaram me chutando e saíram correndo. Pelas roupas e pela situação, eles eram skins. Usavam suspensórios e botas e me bateram porque sou negra". (A.M., 21 anos).
" Curto ska e me visto como skinhead. Se sou um deles? Sim, mas sou tradicional. Estou envolvido nisso pela música e não pra brigar na rua. Aliás, acho isso uma besteira sem tamanho. Cada um faz o que quer e ninguém tem nada a ver com isso.". (M.P.G., 31 anos)
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Os skinheads são descendentes diretos dos mods, que surgiram na Inglaterra nos anos 60. Na época, a rivalidade existente era entre eles e os rockers. Enquanto os primeiros se vestiam de maneira alinhada, se locomoviam em lambretas e curtiam soul, r&b e ska, os segundos ostentavam jaquetas de couro, topetes, andavam de motos potentes e ouviam o rock and roll feito na década de 50. Com o tempo, os mods se dividiram em duas partes: uma mais culta e refinada, que acabou dando origem ao psicodelismo, e outra mais simples, que depois de acrescentar suspensórios e botas no visual e investir nos cabelos mais curtos, passou a ser tratada como skinhead.
Até o final da década de 70, os skins não tinham nenhuma relação com a política, o nazismo ou o racismo. Por conta da influência da música jamaicana, muitos deles eram negros, inclusive. Ocorriam brigas entre gangues rivais e em estádios durante jogos de futebol, mas nunca por motivos mais "sérios". No entanto, alguns poucos já davam indícios de uma atitude nacionalista e xenófoba, tornando claro e público o ódio a paquistaneses e asiáticos. O boom e o racha maior do movimento se deu quando os punks se dividiram, tal como os mods fizeram anteriormente. O resultado foi a formações de duas vertentes distintas, uma mais tranqüila e outra, chamada de street punk, que acabou absorvendo boa parte dos novos skins, que passaram a se interessar também pelo punk rock e pelo hardcore.
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Segundo M.P.G., que se julga um skinhead tradicional, ocorre uma falsa caracterização do movimento pela mídia. " A imprensa sempre focou na parte nazi dos skins. Aí, depois de um tempo, passou a associar uma coisa à outra, como se todo skin fosse nazi e vice-versa. Isso está completamente errado. Assim como em qualquer outro lugar ou manifestação, há pessoas e pessoas, boas e ruins, burras e inteligentes. Com os skinheads também funciona assim, não dá pra generalizar", afirma.
Já para A.M., que diz ter sido agredida gratuitamente por skinheads, o movimento é o que menos importa. " Eu tenho certeza que eles eram skinheads, mas isso é o que menos interessa. O que preocupa é que existe no mundo gente que machuca outras sem motivo algum, chegando às vezes até a matar. Skin, punk, gótico, roqueiro, não faz diferença. Tem é que acabar com a violência".
Os amigos de John, o garçom assinado enquanto tomava uma cerveja, garantem que os agressores eram punks. No entanto, diante do ato violento em si, mudaria alguma coisa dizer que são hippies, emos ou skins? Esse tipo de barbaridade acaba, muitas vezes, ficando impune no Brasil. E por causa dessa impunidade é que as mãos das pessoas de bem continuam atadas ao medo.
Atualizado em 6 Set 2011.