É fato, e disso não discordo, que há aqueles que queimam o filme de todo um público. Tem aquela galera que é brega mesmo. Mas isso não tem a ver com o lugar que ela vai. Convenhamos que quem é brega o é porque nasceu assim, e vai ser sempre. Mas há também aqueles que simplesmente gostam de Revelação, Exaltasamba e afins... porque gostam e não porque querem cair na "pegação" ou algo parecido. Uma questão de gosto.
Foto: Rodrigo Pinheiro |
Exaltasamba no Santa Aldeia |
Fato também que muito pagode "mela-cueca" é produzido para vender. Óbvio. Inocentes os que acreditam que o rock também não se vende, ou qualquer outro estilo. Ninguém merece aquelas músicas que cantam dez vezes o mesmo verso (o que eles chamam de refrão) e dá até vontade de chorar. A situação é que alguém precisa alimentar as crianças, ou seja, ganhar dinheiro. Mas quem vai ao Santa Aldeia à tarde, por exemplo, sabe muito bem que não é só disso que vivem os "pagodeiros". Eles sabem tocar samba, aquele de raiz mesmo, que ao contrário do que o pré-conceito de algumas pessoas diz, são cantados também a plenos pulmões pelas garotas (e garotos), que não estão de barriga de fora. Aliás, como elas vão bem arrumadas! Cada vez que me vejo procurando uma roupa para esses lugares procuro a melhor calça, com aquela blusa que faz sucesso e uma bela sandália. Nada de plataformas, é salto fino mesmo, não precisa ser muito alto. Basta ser na medida certa para não deixar o pé doer, sem sair da pose.
Tem gente que xinga, faz cara feia... Mas não tem um que não saiba cantar a música do Pimpolho! E pior, sabem a do Pimpolho, sabem a do Fricote, mas muitos não sabem nem para que lado anda "O Penetra", do Zeca Pagodinho. E os grupos cantam essa, entre muitas outras. Como diria um mestre: "quando pisar no terreiro procure primeiro saber quem eu sou" (Moleque Atrevido). Sem essa de sair falando mal daquilo que não conhece, que não sabe nem para que lado anda. O samba e o pagode estão na base da história musical do Brasil. Foi lá no morro carioca que o batuque surgiu, no meio da galera. "Pelo telefone", de 1916, sem autoria muito certa, foi nosso primeiro samba. Um tempo depois a galera tentou elitizar a música e a coisa começou a ganhar novas formas. Mas a raiz permaneceu. E é essa raiz que serve de base para os meus fins de semana.
Para mim, que gosto, não tenho dúvidas. Certa vez havia um ensaio de escola de samba, com show do Revelação. Desci do metrô e... torci o pé! Não pensei duas vezes: coloquei minha rasteirinha e aproveitei o show até as 6h, quando meu pé virou uma bola. Foi uma semana de gesso, eu diria até que uma feliz semana de gesso.
Isso é a noite, um espaço para todos, onde há todas as possibilidades e o importante é descarregar ali tudo que você passou durante a semana toda, trabalhando, estudando ou seja lá o que for. Cada um na sua, sem cair nesse senso comum que separa o bom do ruim, porque isso só existe mesmo na cabeça das pessoas. A coisa é boa para mim a partir do momento que me diverte e faz feliz.
Para quem gosta e quer conhecer o que eu gosto, não faltam casas espalhadas por aí, que além da balada cheia de samba no pé, trazem tardes maravilhosas regadas à caipirinha e feijoada. E pasmem! Tanto são divertidas e sossegadas essas tardes, que é possível ver gente de todas as idades dançando, todas mesmo! O tempo passa rápido e nem é preciso saber exatamente o passo, porque ninguém está lá muito interessado se você é o Carlinhos de Jesus. A regra é básica e todo mundo entende: divirta-se! Mesmo se estiver de regata, porque, afinal, isso não diz absolutamente nada sobre ninguém.
Quem é a colunista: Carolina Tavares, uma pessoa eclética que só quer mesmo se divertir.
O que faz: Jornalista do site Guia da Semana.
Pecado gastronômico: tapioca de banana com chocolate coberta por sorvete.
Melhor lugar do Brasil: qualquer praia.
Fale com ela: [email protected]
Atualizado em 1 Dez 2011.