Foto: Gladstone Campos |
Miúdos de perua e galinha |
Recentemente, para ser mais exato há duas semanas, estive em Recife por causa da abertura da nossa primeira franquia do Boteco da Pizza.
Aproveitando esta inauguração, acabei chegando dois dias antes para conhecer Caruaru, cidade famosa pelas festas juninas, pelo forró (dizem que lá é a capital do ritmo), mas também famosa pela maior feira ao ar livre do Brasil, sem contar os famosos restaurantes de bodes e pelos artistas plásticos, que são tantos e realmente maravilhosos.
Mas vamos deixar de lado todos estes atributos a esta pequena, porém grandiosa cidade do sertão Pernambucano, de clima ótimo, por causa da altitude. E, por incrível que pareça, chega a fazer frio o bastante para todas as noites usarmos casacos!
De novo estou me perdendo nas histórias... Ah, não poderia deixar de citar minha amiga tão carinhosa que nos recebeu tão bem lá: Ana Guanaes! Uma baiana que mora em São Paulo e trabalha em Caruaru. Recebeu-nos durante dois dias, com alegria e comidinhas. Fomos tratados como príncipes, pois ela colocou seus amigos para nos levar aos restaurantes e conhecer um pouco da gastronomia Caruaruense. Eis que eu e meu amigo e fotógrafo Gladstone Campos fomos almoçar no restaurante da Perua! Restaurante da perua?! A primeira coisa que perguntei ao simpático e eficiente proprietário, Sr. Adelmo, foi:
Por que Perua?
A resposta foi curta e grossa:
Porque servimos carne de Perua aqui!
E eu só conhecia as peruas paulistanas! Bom, após esta resposta, nos colocamos à disposição para começarmos os trabalhos de degustação.
Nada como um delicioso miúdo de perua e galinha para antepasto. Caldo gostoso, moídos ao ponto certo, com uma ótima farinha de mandioca, realmente bom! Caseiro, feito com amor, cozinha simples, mas com gosto de mãe! Após comermos em três os miúdos, vamos ao seguinte prato: a carne de sol de bode.
Eis a questão: tinha ido lá só por causa do bode. Depois que comecei a criar cabritos em São Paulo, tenho feito algumas pesquisas neste Brasil afora para aprender um pouco mais sobre esta iguaria que no Nordeste predomina em todos os cardápios. Agora é que começo a entender o real significado deste prato tão abrasileirado, tão pernambucano, baiano, etc... Todo Nordeste é inundado com iguarias feitas de bode ou cabrito, se preferirem.
Voltando ao bode, aliás, não resisti a carne de sol de bode assada com queijo de coalho, feijão de corda, salada, manteiga de garrafa e ai vai ..... Pedi também a galinha à cabidela, carne de sol na brasa e a perua à cabidela também.
Aquilo nos foi servido com alegria pelo nosso anfitrião, Adelmo, que, tenho certeza, não estava entendendo muito bem como três pessoas poderiam comer mais de 5 pratos que normalmente servem bem até três pessoas. Mas depois, com calma, expliquei minha fome de saber, minha vontade de conhecer e de experimentar nossa tão gostosa cozinha regional, principalmente quando bem feita. Não me daria permissão para lhes contar qual prato foi ou estava melhor, pois todos eram maravilhosos, e realmente o restaurante da Perua também faz a melhor carne de sol de bode. Não me lembro de ter comido algo tão gostoso e suave. Enfim, após três horas entre peruas, galinhas, bodes, cervejas e até uma cachaça de tira gosto (eu não estava guiando!), fomos de táxi, pois respeitamos a lei absurda seca!
Eis que chega, para terminar com chave de ouro a nossa refeição, um belíssimo queijo de coalho assado com mel de engenho. Capítulo à parte, pois não sou muito chegado a doces, este estava especialmente gostoso. Soube então de Adelmo que o grande segredo desta sobremesa é saber comprar o queijo certo e usar um mel de engenho que não seja demasiadamente doce ou enjoativo.
Parabéns pela ótima refeição, pelo ótimo atendimento e, principalmente, a nossa amiga Ana, que me levou até o paraíso do bode, ou melhor, da perua. Não também esquecendo o Kiko, amigo de Ana e empresário em Caruaru, que nos indicou e cuidou da nossa reserva e nos apresentou tão bem ao nosso já velho amigo Adelmo (após horas em seu restaurante, algumas cervejas e pitus, claro que já estávamos íntimos, rindo, conversando e contando os "causos").
Quem é o colunista: Sérgio Arno.
O que faz: Chef de Cozinha e empresário.
Pecado gastronômico: Adoro Pastel. Inclusive os coloquei no cardápio do La Vecchia Cucina.
Melhor lugar do Brasil: Salvador.
Fale com ele: [email protected]
Atualizado em 6 Set 2011.