Guia da Semana

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Cair na noite de vez em quando é ótimo! Se a balada for boa, acaba compensando o trânsito, as filas para entrar, a confusão para conseguir alguma bebida no bar e o zumbido que permanece apitando nos ouvidos durante o dia seguinte. Agora imagina passar por quase tudo isso diariamente, sem ter para onde fugir? Péssimo, não é?

Essa é a reclamação de quem vive nas regiões onde é grande o número de bares e casas noturnas. Nesses locais, não é preciso muito alarde para uma simples queixa verbal virar briga judicial. Os vizinhos acionam a prefeitura, que por sua vez pode multar e até fechar os estabelecimentos. Já os proprietários entram com vários recursos, alteram suas estruturas de funcionamentos e assim a briga vai se estendendo.

O Guia da Semana explica como funciona a fiscalização e também ouve gente que sofre com o problema da poluição sonora.



Fugindo da confusão

Carlos Alberto Paredes, mais conhecido como Betão, vibrou quando recebeu a notícias dos pais de que a família se mudaria da Mooca para a Vila Olímpia. " Eu era moleque, tinha 19 anos, só queria saber de badalar", afirma. No começo, tudo corria muito bem. Betão perambulava a pé pelas ruas do bairro até decidir em qual lugar iria passar a noite, hospedava vários amigos que moravam em bairros mais afastados da região e não precisava gastar nada com gasolina e estacionamento.

Na Vila Olímpia a balada é constante
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No entanto, com o passar dos anos, a vida foi ficando mais adulta e complicada. O então estudante de Direito conseguiu um estágio em um banco, passou a acordar às seis da manhã e a não ter mais tanto pique para sair de segunda a segunda. O barulho começou a incomodar: " Tinha um karaokê ao lado do meu prédio onde as pessoas cantavam até as 5 da manhã, durante a semana. Ia trabalhar super cansado no dia seguinte", conta.

Hoje, Betão está de casamento marcado com Luciana, também moradora do bairro em questão. Os noivos estão rodando a cidade à procura de uma casa que se encaixe no orçamento. O primeiro requisito? " Queremos morar em uma área completamente residencial, sem boates e bares por perto, nem que seja mais cara. Não agüento mais viver no meio da confusão", desabafa.



Combate aos ruídos

Com o objetivo de garantir o silêncio após as 22 horas, o Programa de Silêncio Urbano, mais conhecido como PSIU, foi criado em outubro de 2004 pela Administração de São Paulo. Na época, o então prefeito Paulo Maluf aprovou a lei nº 11.501 (que teve alguns dispositivos alterados em 1996) e as atividades que produziam poluição sonora passaram a ser fiscalizadas.

Os alvos maiores, é claro, foram os bares e as casas noturnas que funcionavam depois das 22 horas. A partir de então, para que o estabelecimento não fosse multado em alguma "blitz" do novo programa, além de todos os documentos exigidos anteriormente, se tornou necessário também um tratamento acústico nas casas, para não deixar vazar o som de dentro para fora.

Som abafado por paredes anti-ruídos
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Hoje em dia, o PSIU recebe mais de 1.500 reclamações por mês. As denúncias são separadas por áreas e fica a cargo das subprefeituras a fiscalização. Os estabelecimentos que supostamente estão se excedendo nos ruídos são intimados a solucionarem os problemas. Depois de um tempo, ocorre uma vistoria e caso o barulho persista, a casa é multada. Se nem depois da multa a vizinhança conseguir dormir sossegada, aí é caso para o já famoso lacre!

Márcio Salles, proprietário de uma casa noturna localizada no Centro da cidade, afirma ter uma relação tranqüila com o PSIU. " O PSIU fiscaliza quando há reclamações. Eles são firmes, porém sempre se portaram de maneira educada", conta. Assim que abriu o local, Márcio foi atrás do Programa para obter explicações de qual seria a maneira correta de proceder com a questão acústica.

Com vidros, portas e paredes anti-ruídos, o estabelecimento (que ele prefere não citar o nome) já está há quase três anos sem nenhuma reclamação. " Minha principal preocupação é manter uma casa que minimize os problemas entre meus interesses como empresário, e os interesses particulares dos meus vizinhos, que são completamente opostos", explica.

Já do lado de fora, onde os freqüentadores normalmente se aglomeram em filas e nos bares próximos antes de entrar na balada, Márcio aplica uma política de conscientização: " Eles têm que saber que da mesma forma que têm direito a se divertir, os vizinhos têm a dormir", afirma. Para evitar o tumulto, o estabelecimento conta com quatro seguranças do lado de fora e uma placa na qual destaca o porquê da importância de se manter em silêncio no local.

Denúncias e informações
Para quem mora em regiões barulhentas ou até mesmo para empresários que desejam se informar melhor para que seus estabelecimentos funcionem totalmente dentro da lei, basta entrar em contato com o PSIU nos telefones 6905-2635 ou 6905-2636, de segunda à sexta, das 8h às 18h, e de sexta e sábado, das 18h às 24h.

Atualizado em 1 Dez 2011.