Guia da Semana

Foto: Stock.xchng


Não importa o campeonato. O simples fato de passar na TV já é motivo suficiente para reunir em algum bar que tenha plasma, telão ou mesmo aquela tevezinha de 14", igual a da guarita do seu prédio.

Mesa escolhida, bebidas e petiscos variados a postos, é hora de tentar se concentrar na transmissão. Se o seu time estiver em campo, as coisas tendem a ser mais complicadas.

- Grande, rola de ir um pouquinho mais pra lá?

Os garçons possuem um ímã com pólos positivo e negativo que reagem de forma inversamente proporcional às suas necessidades. Quando você não quer nada, ele está plantado à sua frente. Quando deseja pedir qualquer coisa, está do outro lado do bar com cara de paisagem.

Com a tela desobstruída, você volta a acompanhar o jogo, tentando não se incomodar com as conversinhas nas mesas próximas a sua.

- Mas eles não estavam atacando para o outro lado?
- Já tá no segundo tempo, linda.
- Sei. E quem é esse bonitinho?
- Posso ver o jogo?

Na mesa do outro lado, as amigas do curso de enfermagem concordam com o comentário:

- Nossa, bonito mesmo. Que coxa é essa hein, Joyce?
- Porque não fiz o curso de massagista?
- Já pensou? Esses pernões na maca do ambulatório?

O contato com os vizinhos de mesa é tão perigosa quanto o de torcidas rivais nos estádios. Pasteizinhos, azeitonas chilenas e bolachas de chope, são apenas alguns dos protagonistas de uma guerra inglória com residual oleoso.

Vale tudo. As provocações aumentam à medida que os croquetes diminuem na bandeja de alumínio.

A equação de Boutec di Yskinnah, prova com números que, se o seu time estiver tomando um chocolate, haverá eqüidistância entre a sua cadeira e a de dezenas de torcedores do time que vence.

Isso quando no meio do jogo, para acalmar os ânimos, alguém "da casa" muda de canal. Num minuto a cobrança do pênalti, no outro, o Fagundão, de regata surrada, atracado com uma coroa enxuta. A sensação de estranhamento é a mesma de quando você sai do cinema e se depara com a claridade da praça de alimentação do shopping.

- Campeão, dá pra sair da frente.
- Oi?
- Tira essa maldita bandeja da frente.
- Pois não?
- Ah. Dá mais um chope.

Quando o jogo na telona não é do seu time e você não tem nada a ver com a história, melhor ainda. Você passa de consumidor a comentarista adjunto. Um desses raros momentos onde pode-se comemorar com qualquer bola na rede. Cabe a você descobrir quem são e onde estão sentados os torcedores envolvidos na disputa.

Obstrua a tela e sinta-se observado por alguns minutos. Puxe conversa com um dos garçons que esteja de passagem, não tenha pressa. Diga que o escondidinho estava uma delícia e que você gostaria de pegar a receita. Pergunte se ele não é de Alagoas. Diga que sua cara não lhe é estranha. Diálogo é a chave da confiança.

Fim de jogo. Alegria de uns, tristeza de outros. Hora de fechar a conta e ir pra casa.

- Garçom? Grande? Champião? Tiozão? Bigode? Mestre?

A demora atrelada a revolta te fazem pagar diretamente no caixa.

Moral da história: garçom que tenta se fazer de transparente fica sem os 10%.



Leia as colunas anteriores de Adriano:

? Dia dos Namorados na conveniência do posto: Casais e relacionamentos diferentes e o mesmo final feliz. Feliz?

? Tudo acontece no banheiro da balada: O universo paralelo dos banheiros masculinos.

? Não tenho mais roupa para sair: Você pode estar na lista do Samuel, da Glorinha ou do Curi, mas, infelizmente, camurça não combina com fio tinto, muito menos com lã fria.

? A fila anda: Sábios conselhos para se livrar das filas grandes e chatas que se formam nas portas das baladas.

? Só vim pra dançar: Uma das desculpas mais utilizadas pelas mocinhas festeiras.

? Não rola aquele chorinho?: Dicas para arrumar aquela dose a mais na balada.



Quem é o colunista: Adriano Abdalla. Libanês, paulistano e de sobrancelha junta.
O que faz: é redator publicitário e campeão pan-americano sub-17 de corre-cotia.
Pecado gastronômico: o maior pecado gastronômico é cometido por aqueles que comem esfiha com catchup. Francamente.
Melhor lugar do Brasil: Rua 25 de Março em época de Natal.
Fale com ele: [email protected]
Quer um chorinho? Então acesse seu blog.

Atualizado em 6 Set 2011.