Foto: Divulgação/ Bruno Mooca |
Daniela Caldellas e Daniel Albinati não têm do que reclamar. Criador do projeto eletrônico Digitaria, o duo formado em 2004 lançou o primeiro disco dois anos depois pela Gigolô Records. O selo alemão, assim como seu dono, o DJ Hell, só é um dos mais conceituados e importantes do mundo. Para se ter noção, o casting da gravadora tem Vitalic, Grace Jones, P. Diddy, Miss Kittin, The Hacker e Fischerspooner.
Nesse meio tempo, os Danis lançaram o single Teen Years, que demorou quase nada para estourar nas pistas de todo o planeta. Não foi à toa que, na época, alcançou o Top 10 do Beatport, o maior site de downloads de música eletrônica. Prestes a lançar o segundo álbum, que terá 10 tracks de experimentalismo puro, a dupla de Belo Horizonte conta com a co-produção e mixagem de Xerxes de Oliveira, um dos ícones da indústria nacional de beats. Lá vem chumbo.
Para saber o que o Digitaria anda aprontando, o Guia da Semana deslocou os holofotes do eixo Rio-São Paulo para Minas Gerais. Confira o bate-papo com Daniel.
GDS Vocês já terminaram o álbum novo? Como foi trabalhar com o Xerxes?
Ainda não está pronto, mas acredito que fica até o fim de julho. Trabalhar com ele tem sido incrível, ele é uma pessoa com uma musicalidade ímpar, além de conhecer muito de áudio. Achamos que era o caso de finalizar o álbum no estúdio dele, trocar idéias, referências etc...
GDS Quais os seus próximos passos?
Terminar esse disco e lançá-lo. Também estamos trabalhando em músicas que não sairão no disco, que devem ser lançadas como singles. Estamos planejando montar um selo para dar vazão à nossa produção também, sem ter que passar por intermediários. Fora isso, os planos são os de sempre: continuar compondo, viajar, tocar ao vivo...
GDS O Digitaria já teve mais integrantes, não? O que aconteceu?
O Digitaria surgiu de um encontro de amigos que gostavam de fazer musica. Começamos com a proposta de sermos uma banda de rock eletrônico, mas muito rapidamente a parte rock foi sendo deixada de lado em prol de musicas bem mais sintéticas. Nosso ex-guitarrista estava também mais ligado em ser DJ na época do que em produzir e acabou saindo. Esse processo culminou com a saída do baixista também, restando apenas o núcleo de criação, eu e a Daniela. Atualmente nosso som é bem mais eletrônico, sem abrirmos mão de tocarmos tudo que for possível ao vivo, levamos muito equipamento para o palco e tentamos fazer com que cada apresentação seja diferente da anterior. Nosso primeiro disco foi quase todo composto por nós dois, de forma que foi muito fácil adaptar tudo. No momento, estamos mais felizes que nunca. Temos feito mais apresentações, a comunicação é mais fácil, podemos tocar em mais lugares etc... Estávamos um pouco cansados do formato rock que a gente tinha, cheio de meandros e performances. Estamos buscando uma relação mais direta entre a música e o público. Alem do que a coisa "electro rock" também já cansou, né? A cada esquina tem uma banda de "electro rock" ou alguma coisa parecida, queríamos nos distanciar o máximo possível dessa estética.
GDS Então o Digitaria foge de rótulos? O que influencia vocês no processo de composição??
Nossas influências são enormes. Música eletrônica, rock, música experimental, cinema, literatura... a vida no geral. Acho que tudo que vivemos é nossa maior fonte de influência. Quanto aos rótulos para a música, preferimos não usá-los. Acho que isso apenas iria limitar nosso campo de criação. Simplesmente nos sentamos e fazemos música, sem nunca termos pensado em ir nesta ou naquela direção.
GDS Que estilo de e-music ou no geral que vocês nunca incluiriam num set??
Nossa, a gente tenta nem pensar em estilos para nada. Acho que tem coisas boas em todos os tipos de música. Techno, electro, house, rock... Eu não ouço, por exemplo, trance, mas imagino que exista muita coisa boa no trance, ou influenciada pelo trance. Acho estranho não gostar de um gênero inteiro de música, não assumir que ali dentro deve existir alguma coisa que presta.
Foto: Divulgação/ Alexandre Magalhães |
GDS Qual música do Digitaria é xodó de vocês?
Teen years pelo motivo óbvio, que foi um hit em vários lugares do mundo. Dogon pelo amor que as pessoas têm por ela, mesmo sem ter tido a promoção que merecia. Mas acho que minha preferida do primeiro disco é Ordo Sirius B.
GDS Quais equipamentos vocês usam para discotecar e para produzir?
A Daniela, que é a DJ oficial da banda, usa CDJ e picape. Para tocarmos ao vivo, levamos vários controladores, efeitos externos, mesas e teclados, alem dos dois laptops com as seqüências principais. Para produzir, computadores e nossos synths analógicos, além de efeitos externos, mesas, guitarras e pads.
GDS Vocês têm algum trabalho paralelo ao projeto?
Nós nos dedicamos 100% ao Digitaria. É claro que sempre fazemos uma coisa ou outra fora da banda, como DJ sets e tal, mas achamos importante poder dedicar nosso tempo à banda. Nossa rotina gira em torno disso, de compor muita música, trabalhar em cima delas, promover a banda, tocar ao vivo.
GDS Como é estar num casting como o da Gigolo Records?
É sempre bom estar num selo que oferece suporte para o artista. A Gigolo e o Hell têm muitos contatos em volta do mundo inteiro e isso fez com que nossa música fosse ouvida por muita gente. Só por sermos do selo, já temos uma atenção automática por parte das pessoas que gostam de musica eletrônica ao redor do mundo. Além disso, eles nos encaixaram em várias coletâneas, além de terem organizado uma tour na Europa em 2006.
GDS Qual foi a melhor festa em que vocês tocaram?
Houve shows inesquecíveis... uma vez tocamos num iate em Florianópolis, foi surreal. A primeira vez que tocamos com o DJ Hell em Belo Horizonte também foi incrível. A primeira vez na Espanha, por ter sido nosso primeiro show fora do Brasil. Na Colômbia também, porque jamais imaginamos que tinha tanta gente lá que gostava da nossa música. Atualmente temos tocado na Clash com freqüência e tem sido sempre incrível também, o publico é bem animado. Tocar em BH também é sempre bom, cheio de amigos em volta.
GDS Como é a cena em BH?
Atualmente BH está com uma cena muito forte e muito legal. Acho que só perde pra São Paulo em número de casas noturnas com festas interessantes de música eletrônica no Brasil. Temos um festival forte, o BPM, que acontece anualmente e esse ano rolou numa das principais praças da cidade, para mais de 4000 pessoas. E temos artistas muito legais aqui, como Menorah, Indústria de Plásticos, Roger Moore e Retrigger.
GDS O que vocês acham que falta na cena eletrônica brasileira?
Acho que a cena está ótima, melhor que nunca. Os produtores têm seus lugares garantidos, têm tocado como nunca e é excelente ver projetos como o Database, Click Box ou o Gui Boratto fazendo sucesso no exterior sem terem que misturar samba em suas músicas - a música eletrônica brasileira que faz sucesso no mundo todo tem esse sucesso porque é boa, não porque é engraçada, alegre ou exótica. Acho que falta ainda uma consolidação maior da cena, com mais espaços para apresentação, por exemplo.
GDS O que você acha do que anda tocando nas rádios FM? É tudo muito comercial?
Outro dia eu fui cortar o cabelo e a cabeleireira estava ouvindo uma rádio muito, muito comercial, e começou a tocar Gui Boratto. Eu tomei um susto muito grande, não sabia que o som dele tinha chegado a esse nível de exposição. Acho que quando a musica é boa, ela quebra barreiras, vai longe. Acho que "comercial" é um elogio, não uma ofensa. CSS [Cansei de Ser Sexy] é comercial e é bom, Gui Boratto é comercial e é bom. Ninguém quer ficar num gueto o resto da vida, todo artista tem a pretensão de ser ouvido por um grande número de pessoas. Para melhorar o nível das FMs, tem que ter música boa, bem produzida e bem trabalhada comercialmente. As pessoas estão abertas a ouvirem musica eletrônica, basta chegar até elas. Acho que a divulgação desse tipo de música por aqui está ok, com vários sites, uma revista ou outra, festas... é claro que tem o que melhorar. Não chegamos nem perto da estrutura que tem, por exemplo, na Europa. Mas acho que, comparado com o passado, está excelente. O importante é melhorar sempre, um dia chega lá.
GDS Quem são os caras da e-music para vocês?
Nossa, tanta gente...Dopplereffekt, Kraftwerk, Lassigue Endthaus, Thom Yorke, The Shamen, Martin Gore, Vitalic, David Carretta, Claude Von Stroke...É uma lista infinita.
Top 10 Last FM/ Digitaria ? Manic Street Preachers ? Depeche Mode ? Duran Duran ? Belle and Sebastian ? Shamen ? Vitalic ? Radiohead ? Front242 ? Sparks ? Dopplereffekt. |
Atualizado em 6 Set 2011.