Guia da Semana

Foto: Sxc.Hu

Houve um tempo em que descer para o lado centro da Augusta de noite significava participar de um ramo que a Wikipedia define elegantemente como "meretrício". Até que um dia (ou mais provavelmente uma noite) alguém resolveu que os jovens moderninhos de São Paulo estavam preparados para pedir licença à moça da bolsinha e estacionar o carro. Assim surgiu o Vegas, um dos clubes mais famosos da cidade.

Tempos depois, o Studio SP saiu da Vila Madalena e desembarcou por ali, atraindo um movimento que fala por si. Um quarteirão acima, nasceu o Boca Club, uma homenagem a minha tia, que quando me deu carona pela primeira vez para a Augusta, declarou chocada: mas aquela região é boca! É Boca! A coisa toda continuou com o Tapas, Vanilla, Club Noir... Até a Prefeitura resolver entrar na onda e reformar as calçadas - a mesma Prefeitura que hoje só se mostra presente na hora de caçar alvará e fechar bares por causa do PSIU.

O que era apenas uma rua virou a região mais boêmia de São Paulo.

Agora o Vegas deve fechar, mais interessado em revitalizar alguma outra região, sem querer saber se o seu destino seria se tornar um ícone - como a vizinha Lôca - ou ter que fechar na mágoa - como a finada Lov.E. Mas se ainda vamos descobrir o quanto o Vegas precisa da Augusta, já dá pra apostar que a Augusta não precisa mais do Vegas. Os próprios proprietários dele sabem disso e abriram mais dois bares na região.

O Volt fica na Haddock Lobo, pertinho da Astronete, dando seguimento ao processo intenso de colonização noturna do trecho entre a Augusta e a Rua da Consolação. É um bar conceito: quando começou o Cidade Limpa, aproveitaram para comprar os néons dos inferninhos e botaram tudo nas paredes. Tá lá a mulher rebolando o quadril, levantando a perna, o drink caindo no copo, ou um laço, que deixam no ar a dúvida sobre o clube noturno que os colocavam na fachada...

E muitos espelhos! Ir ao banheiro é uma aventura. Dá pra achar a porta pela (grande) fila, mas estando lá dentro o desafio é saber de que lado vão sair as pessoas e onde está instalado o vaso sanitário. A iluminação é um pouco excessiva. Mas esperar o que de um lugar com esse nome? Já o Z Carniceria investe numa sintonia mais roots - com rock e uma decoração rústica, inspirada no abatedouro que a casa abrigava no passado. As carnes penduradas chamam atenção, mas os carros-chefe do cardápio são vegetarianos.

Já o Sonique, criado por outros proprietários, pega carona nos já consagrados vizinhos Leblon, Exquisito e Geni, mas sugerindo uma proposta de clube noturno, em vez de bar. Seguindo o jeitão D-Edge de ser, aposta em uma decoração simples e chique. Os sofás pretos são confortáveis e o drink de grapefruit - toranja, para os íntimos - é uma delícia.

Agora, 40 reais de consumação? Oi? Alguém avisa que não estamos na Vila Olímpia?

Longe de mim querer defender a formação de um gueto, afinal o apelo da Augusta está justamente em sua mistura. Mas fica registrado que pela primeira vez, começa aparecer o medo de que a Augusta se revitalize um pouco demais...

Leia as colunas anteriores de João Pedro:

Gambiarra

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Quem é o colunista: João Pedro, mas pode me chamar de Johnny.

O que faz: Estudante de Relações Internacionais.

Pecado Gastronômico: Pacotes inteiros de wafer de chocolate

Melhor Lugar do Mundo: Minha cama.

O escuta no carro, iPod, mp3: Músicas calmas, para dançar e tudo que fica em algum lugar entre as duas.

Para Falar com ele: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.