Guia da Semana

Foto:Divulgação

Pipocam aqui e ali críticas ao trabalho solo do ex(?)-Los Hermanos Marcelo Camelo, "Sou", algumas positivas, outras negativas. Até aí, tudo bem. O que incomoda um pouco é que parte das críticas negativas (sobretudo por parte da imprensa musical paulistana) julga o disco "arrastado" e "muito influenciado pela MPB e pela Bossa Nova". Ouvi o CD algumas vezes e se trata de uma obra mais intimista, sim, mas jamais "arrastada". Possui uma levada meio jazzística e o auxílio em diversas faixas da banda Hurtmold - se na coluna passada reclamei da minha falta de empolgação quanto ao cenário musical de hoje, o Hurtmold faz parte do estatisticamente insignificante número de artistas que me contradizem. Quanto ao fato de ser "influenciado pela MPB e pela Bossa Nova", ora, qual o problema disso? A impressão é que, para alguns jornalistas (e para os seus leitores), música brasileira soa como um palavrão.

Só para ilustrar. Ainda no assunto Marcelo Camelo, pessoas que meteram o pau nele teceram loas ao Little Joy, projeto de um ex-companheiro do hermano, o Rodrigo Amarante, ao lado do Fabrizio Moretti, baterista do Strokes. Em suma: enquanto um é chato por soar brasileiro, o outro é super-mega-cool por se juntar a um integrante da super-mega-cool banda nova-iorquina. Parece uma má vontade danada com o que é feito no Brasil, não é? Em tempo: ainda não escutei o disco do Little Joy, mas acredito que seja bacana, o Amarante é um cara talentoso.

E não pára por aí. Um dos alvos principais desses "Policarpos Quaresma ao contrário" é o Caetano Veloso (coincidentemente, o cantor elogiou há pouco em seu blog os discos do Camelo e do Amarante). Oquei, até acho que a parte mais representativa da obra dele esteja lá nos anos 60/70, mas certos "críticos" detonam cada novo disco do Caetano apenas por ser... um disco do Caetano. Dificilmente se encontra alguma resenha negativa realmente embasada, que analise musicalmente os trabalhos do filho da Dona Canô. Aí a justificativa deles é: "o Caetano é arrogante, merece ser zoado". Ora, arrogante por arrogante, e os irmãos Gallagher, do Oasis (um dos queridinhos do povo indie), são o quê?

Reclamam também das letras, consideradas sem nexo, prepotentes, "vexatórias". Fico imaginando se o próprio Caetano, ou o Gilberto Gil ou qualquer outro artista brasileiro tivesse escrito os seguintes versos: "um mulato, um albino, um mosquito, minha libido". Seriam ridicularizados pela crítica indie. Mas como foi o Kurt Cobain e foi em inglês, então pode. Dois pesos e duas medidas, sabe? Sei não, mas tenho a impressão que jornalismo não deveria ser assim (tá bom, fui bem Poliana agora).

Dei essa volta toda para tentar explicar que, ao contrário do que os Policarpos do mundo bizarro pregam, uma coisa não exclui a outra. É possível gostar na mesma medida de Pixies e Nara Leão, de Sonic Youth e Cartola (ainda que o Cartola seja um dos poucos poupados por essa turma, vai entender). A música brasileira está entre as mais ricas que existem e é elogiadíssima mundo afora. Concordo que atualmente não passa pelo seu melhor momento, porém, batendo na mesma tecla da coluna anterior, qual música, de qual país, passa?

Quem é o colunista: Alex Menotti

O que faz: Jornalista.

Pecado gastronômico: Carne de porco, esse animalzinho mágico

Melhor lugar do Brasil: São Paulo

O que ele ouve no carro, em casa e no IPod: Bandas de garagem dos anos 60, jazz, punk rock nova-iorquino dos anos 70, Spiritualized, Flaming Lips, Cartola e os sambistas da velha, Toquinho & Vinicius, James Brown, Dylan e por aí vai...

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Atualizado em 6 Set 2011.