Guia da Semana

Foto: myspace.com/sanypitbull

Uma das atrações do TIM Festival desse ano é o DJ carioca Sany Pitbull. No começo de sua carreira Sany sonhava apenas em tocar em todos os estados brasileiros. Hoje, com mais de 22 anos de estrada, já subiu ao palco de 19 países diferentes, levando seu som - o funk - para lugares antes inimaginados.

Nascido na periferia da cidade maravilhosa, o ritmo está presente nos mais importantes festivais brasileiros. "O Festival de Verão de Salvador tem funk. No TIM Festival toco pelo segundo ano seguido", afirma o DJ.

Um bom exemplo do sucesso que está fazendo pelo mundo é sua apresentação na casa Fabric, em Londres - uma das mais badaladas boates inglesas - no começo de 2008. Um vídeo da festa caiu na internet e o reconhecimento veio à tona. "Eu não tinha noção que o Fabric tinha esse poder todo. Não sabia que esse vídeo iria me render matérias por aqui", diz, comentando reportagens de diversos veículos, entre eles o jornal Folha de São Paulo e o site G1.

No festival de 2008 Sany revela que irá inovar. "Dessa vez vou tocar uma coisa mais experimental, um som instrumental que o pessoal lá de fora já descobriu e valoriza pra caramba", fala. Destaque para a participação do grupo de choro Tira Poeira, que o acompanha durante a música O Morro Não Tem Vez. Haverá também a presença da banda Justice e da participação virtual de Daft Punk. Confira abaixo a entrevista exclusiva na qual ele conta um pouco mais de seu projeto e planos futuros.

Foto: myspace.com/sanypitbull


Guia da Semana: Para você, o que é o funk?
Sany Pitbull: O funk é o motivo da minha vida. Não é só música. É cultura. Uma criança não sabe nem falar "pai" nem "mãe", mas já dança. Você bota um CD, ela ouve a música e já dança. O funk, no Rio de Janeiro, é a música que canta e conta a história da cidade. Sem vergonha nenhuma, sem culpa nenhuma, apesar dos problemas. Até hoje muitos programas humorísticos usam o funk para falar errado. Isso não é um problema do funk. É um problema de educação do País. Não tem educação e não tem escola. O funkeiro não tem vergonha de não saber ler, não ter vergonha de não saber falar direito, mas ele consegue expor a sua alegria e a sua tristeza.

GDS: Antes o funk era conhecido mais como sendo do pessoal do morro, das classes sociais mais baixas. Agora todo mundo escuta, tanto o mais pobre quanto o mais rico. O que você acha desse cenário?
SP: Eu acredito que alguns preconceitos estão caindo. A novela América mostrou que o funk não era só uma coisa do preto e do favelado. Ele sempre esteve presente em todas as classes sociais, mas não com tanta força. Eu nunca imaginei que o funk fosse virar moda em São Paulo, a ponto de você ir a uma comunidade da periferia da cidade e encontrar MC´s e grupos de dança.
Essa coisa já transcendeu essa parada. O funk não é só putaria, Gaiola das Popozudas. Não é uma coisa só do Mr. Catra. A gente faz um funk muito bacana. Eu fico contente em saber que hoje o ritmo consegue circular em todos esses lugares e também em grandes festivais.

GDS: Como surgiu a oportunidade de tocar com o Tira Poeira no Tim Festival?
SP: Foi um projeto do Tira Poeira no ano passado. O Sérgio Krakowski, que mora na França, me viu pelo myspace e, quando veio ao Rio gravar o disco da banda me procurou. Foi aí que me chamou para fazer uma participação especial em sua música. A principio eu fiquei com um pouco de medo do que isso pudesse causar no trabalho do grupo.
´Cara, eu acho que é muita ousadia querer botar funk com chorinho´, pensei. Chorinho nada mais é que música clássica. É o clássico do samba. Apesar de serem dois universos que saíram da favela, eles nunca se encontraram. Mas aí me mostraram a música, a história que ela tinha e, quando vi, falei: "Vambora! Vamos fazer!"
Aí, a coisa deu super certo. Quando me chamaram para tocar no TIM, que é um espaço que você pode fazer misturas e pode viajar um pouco, pensei ´é o lugar perfeito para eu tocar com o Tira Poeira´. Nos shows que já estivemos juntos eu entro, toco minha música com eles e saio. Agora vai ser o inverso. Eu estarei fazendo a minha apresentação e eles vão subir ao palco mostrar O Morro Não Tem Vez.

GDS: Qual a diferença em tocar para um público mais elitizado e para o público da comunidade?
SP: Eu fico mais feliz quando toco na comunidade, tenho uma satisfação pessoal muito grande. A garotada que fica pela rua, perambulando pelo morro, vai me ver montar o equipamento e fazem diversas perguntas. Eles ficam ali prestando atenção. E eu acho isso bem legal, porque eu ´tô´ chamando a atenção de um garoto pra uma coisa que ele pode ser se ele quiser.
Ali é o funk sem maquiagem, o funk de raiz mesmo. Meu sonho é ter grana e montar uma escolinha de DJ dentro da comunidade. Tanto para discotecar quanto para produzir. Mas é muito bacana o outro lado também.

GDS: Você já se apresentou em outros países. Como foi tocar esse ritmo brasileiro para os estrangeiros?
SP: Lá fora o funk é visto apenas como música. Não existe esse preconceito de ser visto como música da favela, de cantar errado. Não tem essa de que quem escuta esse som é bandido, de que mulher que gosta de dançar essas coisas é mulher vulgar. Não existe essa história em volta do funk quando você vai para o exterior. Eles só olham para a música, para o ritmo. E o legal é que eles dançam do jeito deles. Eles se jogam da sua maneira e são levados pela música. Dizem que o estrangeiro não sabe dançar, mas eles sabem sim, e dançam muito bem.

Atualizado em 6 Set 2011.