Guia da Semana

Foto: P.H. Schneider

Daniel Snaith, do Caribou

Para quem estava incomodado com a mesmice musical que permeia a noite paulistana, a primeira edição do Fourfest, realizado no último dia 27 no Clash Club, mostrou que existe muita gente interessada em fugir do convencional.

A proposta de "mini-festival" agradou em cheio os moderninhos de plantão, que lotaram a pista do clube da Barra Funda com tatuagens, óculos estranhos e jeans skinny, prontos para dançar ao som do projeto canadense Caribou, a grande atração da noite.

O primeiro a subir no palco foi Renato Cohen, que tocou por cerca de duas horas um set incrível de tecno com influências da disco music de 40 anos atrás. Um aquecimento de alto nível para um evento que começou cedo, às 20h, um detalhe que merece ser elogiado, pois favorece os que precisam acordar cedo no dia seguinte para trabalhar.

Após os vinis de Cohen, o inglês Derwin montou seu setup e fez do Gold Panda a atração mais indigesta da noite. Sua música mistura melodias infantis, aparentemente inofensivas, com sons analógicos agressivos acompanhados por batidas quebradas (breakbeat, downtempo) e uma linha de baixo que fez tremer a estrutura da casa. Derwin dispara ao vivo os mais variados tipos de samples, construindo e desconstruindo sua música constantemente. Ninguém dançou, mas todo mundo gostou.

Já passava das 23h quando o canadense Daniel Snaith, de 32 anos, acertava os últimos detalhes para a estreia do Caribou no Brasil. A espontaneidade e simpatia do artista, que circulou pelo clube de chinelo e meias na maior parte da noite, são características de sua personalidade que também se reflete na música.

O que em princípio pode soar descompromissado, na verdade está ditando tendências. Não à toa, ele foi um dos destaques da edição 2010 do respeitado festival catalão Sónar. Quando está em estúdio, Daniel é o único responsável por gravar todos os instrumentos, um verdadeiro multi-instrumentista. Nos shows, ele conta com uma banda de apoio formada por três músicos (bateria, guitarra, baixo e programação eletrônica).

Caribou é daqueles projetos difíceis de rotular, que se mostra tranquilo ao unir a música eletrônica com a orgânica, o pop ao experimental. O show foi baseado em seu último álbum, Swim, lançado no exterior no início do ano. Realmente música de vanguarda, como há tempos não presenciava ao vivo. Para apreciar e dançar.

O então embrionário Fourfest, que já pode se orgulhar de uma bem-sucedida primeira edição, comprovou que existe espaço para propostas inovadoras de entretenimento. Basta encontrar um produtor com coragem e cacife para arriscar. Além de divertido e musicalmente imprevisível, foi um evento cultural.

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Atualizado em 6 Set 2011.