Guia da Semana

Foto: Getty Images


No dia 8 de fevereiro, o Contru (Secretaria de Controle Urbano), órgão que fiscaliza estabelecimentos públicos em São Paulo, fechou um templo sagrado dos DJs, a Galeria dos DJs. Ela é conhecida assim pela influência que teve em todos os DJs desde o início no Brasil, importando e vendendo materiais para profissionais e estabelecimentos em todo o país.


A autuação aconteceu de repente, com a presença dos fiscais, que deram 24 horas para as irregularidades serem corrigidas. Como o prazo era muito pequeno para executar as mudanças dentro da legalidade, no dia seguinte as autoridades fecharam a galeria de lojas até as correções serem feitas.

Os lojistas alegam pagar taxas sobre taxas para a manutenção do prédio, mas que não são repassadas para realizar essas melhorias. Os aluguéis têm aumentado, e muitas lojas não sobrevivem a altos valores e precariedades da estrutura, que não possui nem um banheiro público.

Conhecida como "Galeria dos DJs", ela recebeu este título por causa das lojas frequentadas por DJs e vender produtos e materiais para profissionais de outros estados. Muitos desses artigos são raridades e difíceis de encontrar.

Mas a sua grande importância está na atuação que a galeria e suas lojas tiveram no início da década de 90, quando importavam os principais hits para clubs, rádios e espaços de festas e vendiam para todo o país.

Se os EUA são conhecidos pelos embalos de sábado à noite e seus clubs da década de 70, e a Europa pelas grandes bandas da década de 80, podemos até chegar a dizer que o Brasil foi um dos principais países do flash house e da dance music, na década de 90.

Brasileiros como Sect, Gui Boratto e Corona ganharam o mundo, além da difusão de grupos como Tecnotronic e C&C Music Factory ficaram muito famosos por aqui por causa dos DJs que compravam e vendiam as músicas na Galeria do DJs.

A galeria também foi ponto de encontro de artistas e personalidades da música brasileira e mundial. Diversas fotos são mostradas em várias lojas com cantores, artistas e grupos que não passaram em nenhum outro lugar além da Galeria.

Sinônimo de início dos DJs do Brasil, o local é realmente um marco histórico dos principais clubs e DJs da história brasileira. Nomes como Ricardo Guedes, Mark Marky, Carlo Dallanese, Iraí Campos e clubs como Over Night, Bradway, Toco e Rhapsody compravam e circulavam pela galeria com mais história da palavra DJ em todo o mundo.

Atualmente, a galeria abriga algumas lojas que funcionam desde o seu início, além de cabeleireiros afros, escola de DJs, serviços gráficos, lanchonetes e muitos espaços interessantes. Por outro lado, é reduto de pessoas suspeitas de ilegalidade, esconderijos de camelôs e uma sede de torcida organizada famosa e grande.

Infelizmente, os pontos negativos são maiores que os positivos. Então a galeria sofre com a má administração e a segurança - exatamente os pontos que o Contru relacionou, e exigiu as mudanças necessárias, fechando o espaço com tudo o que tem dentro, até que seja legalizado.

A culpa disso tudo não é do órgão que fiscaliza e está fazendo seu trabalho, mas da administração que não empregou o dinheiro recebido, e dos lojistas que não compareceram às reuniões para discutir melhorias e que nunca chegaram a um acordo.

Com todos esses anos de história, a Galeria dos DJs poderia ser um museu dos DJs brasileiros, com os primeiros toca-discos, mixers, fones, vinis, fotos, vídeos e tudo o que foi decisivo para o crescimento dos profissionais da música e DJs no Brasil. Isso seria fácil de fazer, não haveria um DJ que não tivesse orgulho de fornecer uma parte de sua carreira para ser mostrada em um lugar que pode ser um ponto turístico de São Paulo.

Após o fechamento, no dia 8, a Galeria dos DJs permaneceu com suas portas abaixadas por três dias, e reabriu no dia 11 com autorização do Contru, depois de algumas mudanças básicas feitas de acordo com o órgão. Mas ela ainda não está livre das ações: após 60 dias, o Contru retornará ao prédio e, se as regularizações não estiverem prontas, o órgão fechará a galeria, e só reabrirá com a autorização legal. De acordo com os lojistas, há muito que fazer.

O prazo é suficiente para regularizar toda a situação desde que haja boa vontade e colaboração de todos. A importância da Galeria dos DJs é imensa, comparada ao tamanho do problema que foi gerado, e este obstáculo só mostra um pouco mais dos valores e problemas que um local importante pode passar quando mal administrado.

Aquele que vira as costas e menospreza a história, faz isso com ele próprio. A Galeria dos DJs é a minha história e de todos os brasileiros que, alguma vez, dançaram em algum lugar.

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Quem é o colunista: DJ há 18 anos, produtor musical há três anos, divulgador de músicas para rádios desde 1997.

O que faz: DJ, produtor de música eletrônica e empresário do ramo de rádio.

Pecado gastronômico: Lasanha e pavê de Sonho de Valsa.

Melhor lugar do Brasil: Meu estúdio de produção musical.

O que está ouvindo no carro, iPod ou mp3: Música eletrônica e diversos outros estilos que contenham letras bacanas e melodias.

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Atualizado em 1 Dez 2011.