Por Marcus Oliveira
Galera reunida, cerveja gelada na mesa, petiscos variados, muita risada e assuntos para colocar em dia. Esse é o retrato dos bares das grandes capitais brasileiras após o horário de expediente. Depois de tanta curtição, chega a hora de pagar a conta e, quando menos se espera, onde foi parar sua carteira? Procura daqui, olha nos pertences dos amigos e nada. Até que você percebe que acaba de ser vítima de um furto.
Nas últimas semanas, a cidade de São Paulo foi uma das maiores protagonistas desse temido cenário. Por conta de fatos como arrastões, assaltos a grandes redes de restaurantes e locais de luxo, diversos estabelecimentos investiram pesado na segurança, e os clientes estão ainda mais atentos. Saiba quais as responsabilidades dos estabelecimentos perante essa situação, como se prevenir e o que fazer caso seja vítima de uma circunstância dessas.
Mãos pro alto!
De acordo com os dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, as ocorrências policiais registradas contra o patrimônio, no último trimestre de 2010, chegaram à marca de 279.286 mil casos, sendo 103.964 somente na capital. No total, são 129.259 de furtos no estado e 44.453 na cidade. Apenas no mês de fevereiro, cerca de 20 estabelecimentos foram invadidos por quadrilhas que renderam os clientes, levando celulares, bolsas, carteiras, notebooks e dinheiro.
Locais fixados em bairros como Vila Madalena e Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista, representam cerca de 62% do cenário da onda de arrastões. Outras regiões como Ipiranga, Jardim Paulista e Moema também registraram ocorrências. E o que vem a mente nessa hora é: o que fazer e de quem é a culpa?
Nu com a mão no bolso
O jornalista Felipe Horácio foi vítima de um furto em uma das casas noturnas mais badaladas de São Paulo, no mês de fevereiro. O jovem teve seus pertences puxados do bolso da calça em uma aglomeração na entrada do local. Levaram sua carteira de habilitação, dinheiro e a comanda. "Não tive reação, pois não esperava que isso acontecesse em um lugar em que o preço para entrar é caro e teoricamente de pessoas de 'alto' nível", comenta.
Orientado por um funcionário a procurar o setor de Achados e Perdidos, Felipe comunicou o ocorrido e teve uma surpresa quando soube que a perda da comanda equivalia a um prejuízo de R$ 300,00. "Tive de passar lá de hora em hora até o momento de ir embora, para ver se haviam encontrado algo. Me cobraram R$ 100,00 para sair, dizendo que me dariam um desconto. Depois de uma longa discussão, um amigo pagou a comanda para mim", ele conta.
Segundo o Presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB, Arles Gonçalves Junior, o que cabe no momento de um furto ou assalto é o bom senso do dono ou responsável do local. "Não há uma lei que especifique isso, quem consumiu tem a obrigação de pagar, mas o cliente sem dinheiro ou nada que possa quitar suas despesas pode negociar, já que é uma situação atípica", aconselha.
Cadê, cadê?
Restaurantes paulistanos como La Buca Romana, Suri, La Trattoria e Galeto´s foram vítimas das quadrilhas que fazem a "rapa", com dizem na linguagem popular. Normalmente sem capuz ou máscaras e em cerca de dez minutos, quatro ou cinco homens em média realizam as ações, divididos entre alguns que adentram os locais e outros que aguardam em carros estacionados logo à frente, levam os pertences dos clientes, funcionários e do caixa do local. Até o momento, não foram registrados casos de morte, apenas agressões físicas.
Em um bar localizado na região do bairro Paraíso, a assessora de imprensa Ana Carla Lopes estendeu a noite de sexta com os amigos para a tradicional happy hour depois do expediente. Depois de alguns chopes e aperitivos, chega a hora de pagar a conta e, para o espanto de todos, a bolsa de Ana havia sido furtada.
"Ninguém que estava comigo percebeu movimento estranho, anormal, que pudesse chamar a nossa atenção. Chamei o garçom para explicar o fato e pedi ajuda aos clientes e amigos que estavam comigo, para lembrarem de algo que pudesse ter passado despercebido, mas ninguém viu nada", lamenta.
Para não sair ainda mais no prejuízo, a jovem entrou em contato com as operadoras bancárias para cancelar cartões e meios que pudessem ser utilizados pelos bandidos, mas não foi tempo suficiente. "Usaram meu cartão sem chip para realizar compras. Fiquei ainda sem CNH, objetos pessoais, cartões de banco, dinheiro, enfim, tudo que há em uma bolsa de mulher. Não tive nenhum tipo de respaldo do local e tanto os garçons quanto os seguranças chegaram a duvidar do fato. É uma pena, mas ao bar não volto mais, pois fui mal amparada".
Em casos como o de Ana Carla, a questão é mais delicada. De acordo com Arles Gonçalves Junior, Presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB, cabe ao local oferecer o serviço de segurança ou não. Um restaurante com um profissional contratado, por exemplo, não cobra do cliente uma taxa específica, pois se o fizesse, automaticamente teria de arcar com todas as despesas de um furto. "O código de processo civil fala isso. Afinal, o cliente paga por um serviço que não foi prestado da forma que deveria, portanto, os locais arcariam com a responsabilidade se especificassem uma taxa de serviço a mais", explica.
Previna-se!
- Evite levar valores altos em dinheiro e dê preferência ao cartão; - Procure andar com cópias autenticadas dos documentos e não os originais; - Certifique-se de cancelar os cartões e tudo que possa dar prejuízo financeiro; - Procure não manter bolsas, carteiras e objetos de valor em cima da mesa ou fora do seu alcance visual; - Ao perceber um furto, procure a gerência para verificar se consegue reunir informações sobre o ocorrido e chame a polícia; - Se ninguém viu nada, vá até a delegacia e faça um B.O. (boletim de ocorrência |
Causa e efeito
Um dos casos de violência em estabelecimentos mais marcantes ocorreu em 2009: o diretor de teatro Mário Bortolotto foi atingido por dois tiros em uma tentativa de assalto na sede do Espaço Parlapatões, reduto da classe teatral na praça Roosevelt, em São Paulo. O caso ganhou repercussão nacional, e a indignação plantou uma semente que cresceu e deu frutos positivos.
Segundo um dos fundadores do grupo e responsáveis pelo espaço, Hugo Possolo, a presença dos policiais aumentou depois do ocorrido e continua frequente, mesmo após um ano do fato. "Buscamos formas de ajudar. Organizamos uma forma de arrecadação para o Mário. Fizemos uma doação para a família e participamos de outras atividades para colaborar com as despesas", comenta.
De acordo com Hugo, o Centro da cidade é conhecido como o reduto da violência, mas, com essa onda de arrastões, é notório que os demais bairros estão sujeitos a episódios como o que ocorreu no Parlapatões. "Levantam uma imagem que shopping é um lugar seguro, mas não é. Há assaltos em joalherias, por exemplo. Sou a favor do cidadão andando na rua, ocupando seu espaço, e foi isso que mudou a praça Roosevelt, o fato de as pessoas estarem nas calçadas inibe os bandidos".
Atenção!
- Evite movimentos bruscos durante a abordagem; - Avise o ladrão sobre o movimento que está fazendo, por exemplo, para pegar a carteira; - Não reaja e nem discuta com os assaltantes; - No hora da abordagem, não tente esconder objetos com celulares, joias ou chaves; - Busque não ficar olhando diretamente para os assaltantes; - Tente identificar marcas como tatuagem ou algo que possa identificá-lo depois; - Registre sempre um boletim de ocorrência; - Caso seja intimado a depor ou reconhecer um suspeito, colabore; - Tenha à mão o telefone dos bancos onde mantém suas contas e anote em locais que não sejam apenas o celular. |
Atualizado em 10 Abr 2012.