Das plantações à dança: mulheres africanas costumam curvar perfeitamente a coluna Foto: Reprodução/ Vídeo "Dog Murras na Bahia" (Youtube.com) |
O funk do morro, o hip hop do gueto. Quando a periferia resolve se manifestar musicalmente, é certo que um batuque envolvente vai sair dali. O kuduro começou nos musekes (bairros periféricos) de Angola, país africano que fala a nossa língua, é prova da universalidade dessa tendência. Esse nome, dado à dança e ao ritmo na década de 90, quer dizer o que parece. Ku, para esse povo, é o mesmo que bunda para nós. No caso, bunda dura.
Nem é preciso dizer que, apesar de engessado, o quadril - principalmente os femininos e voluptuosos - é o símbolo do gênero musical. Pouco se deslocam as ancas e muito se mexem as pernas e braços. O corpo segue a batida grave e compassada do hip hop ou da dance music, com passinhos característicos do break, acrescentando aos poucos os remelexos típicos da dança africana, com direito a mão na cintura, trancos com os ombros e jogo acelerado de pernas.
As vozes do kuduro
Foto: Reprodução |
Kuduro no YouTube
Dog Murras na Bahia
Videoclipe: Comboio II - Os Lambas (Remix DJ Znobia)
Show Dog Murras - Fogo no Museke
Videoclipe: Wawaba - Buraka Som Sistema
Pioneiro do kuduro, Tony Amado deixou um legado cultural a dezenas de DJs, músicos e entusiastas de sua terra. Ele foi ponte entre os Estados Unidos e Angola, quando trouxe de lá fórmulas do ragga, além das bpm´s (batidas por minuto) baixas do house, do techno e do hip hop. A forma de cantar segue a estrutura cadenciada do rap e os tambores e outros instrumentos tradicionais da região dão o tom africano, bem como elementos do samba influenciam muitos dos ritmos populares brasileiros.
Apesar de já existir há mais de uma década, o kuduro não invadiu de jeito o Brasil. Ele foi incorporado aos poucos nas discotecagens de DJs de funk carioca e ao axé da Bahia. Grande representante atual dessa batida afro, Dog Murras (foto) já tocou até em trios elétricos de Salvador. Ao lado de Tony e outras quatro seguidores do gênero, Murras foi também personagem do documentário Kuduro, Fogo no Museke, idealizado e dirigido por Jorge António, em 2007. Além da apologia à gostosura das mulheres, as letras do Dog Murras, que tem cinco álbuns na bagagem, mostram a realidade miserável de sua pátria, tão dura quanto seu português colonizado.
Angola Bwé de Caras - (Dog Murras) Angola dos kota bué que tem que pode E que tudo fazem Angola dos inocentes, que na calçada morrem de fome Angola que p´ro angolano é rica, é boa e maravilhosa Angola que p´ro angolano é só desgraça ou vir da caixa Angola tu banga kiebe, casas de praia, carros de luxo Angola sukula zuata, estradas é buraco e casas sem tecto Angola que tem de tudo, que estende à mão e ajuda os outros Angola que não tem nada, está desgraçada e bwé rebentada Boa angola p´ro chinês, boa angola p´ro português, boa angola p´ro libanês hum.hum.hum p´ro angolano Boa angola p´ro senegalês, boa angola p´ro inglês, boa angola p´ro francês humc..humc p´ro angolano É minha angola É tua angola É minha angola É nossa angola (bis) |
Entre DJs e MCs da terra do kuduro, se destacam Znobia, Helder: O Rei do Kuduro, DJ Malvado, Puro Prata, SeBem, Fofandó e Noite&Dia.
Bunda dura no mundo
Lisboa-Luanda: conexão cultural Foto: Divulgação |
Até mesmo Portugal, que colonizou o país africano até 1975, se pegou dançando com a bunda dura. Maior representante do gênero em terras lusas, a equipe Buraka Som Sistema (foto) faz bom uso do kuduro para rimar sobre batidas eletrônicas. Um dos principais responsáveis pela popularização do gênero no mundo, o trio formado pelos produtores Lil John , DJ Riot e Conductor beberam do som dos morros cariocas, das raízes africanas e do que há de mais tecnológico no universo hip hop e dance do mundo. De toda essa influência saiu o que eles denominam breakbeat, club e ghettotech.
Atualizado em 6 Set 2011.