Guia da Semana

Balanças de precisão, tubos de ensaio, fogo elétrico, pós químicos e maçarico. Essa parafernália digna de laboratórios de pesquisa ganhou um espaço cada vez maior em bares de vanguarda. Impulsionados pela cozinha de Ferran Adrià (expoente da gastronomia molecular), buscam na mudança do estado físico das bebidas fazer uma releitura dos drinques. A novidade, aos poucos chega por aqui e mostra que, independente do formato, não há limites para a coquetelaria.

"A mixologia molecular veio para criar experiências, propor algo novo para quem está consumindo, usando os mesmos elementos dos drinques clássicos, mas apresentando-os de outra maneira", aponta Herbie, sócio da Drink Design, empresa de consultoria e treinamento para bares e restaurante. Dessa forma, a nossa Caipirinha ganha o acompanhamento do nitrogênio, o Sex on the Beach passa a ser consumido em pastilhas e até mesmo o tradicional Mojito vem em espuma, pra ser tomado de colher.

Origem e fundamentos

O conceito surgiu no final dos anos 90, com o chef francês Hervé This, que começou a estudar os fenômenos que aconteciam quando ele cozinhava. Outros acompanharam essa vertente - aliando gastronomia a experimentos químicos - como o Ferran Adrià, do El Bule; e Heston Blumenthal, do The Fat Duck - e desenvolvendo pratos a partir de fenômenos químicos, transformando sólidos em líquidos - e substâncias quentes em frias. Esse movimento foi absorvido pelos bartenders londrinos em um primeiro momento, o resto da Europa em sequencia e, por fim, o mundo.


Herbie a frente da empresa de consultoria Drink e Design

Tendência nos EUA, Alemanha e Inglaterra, muitos dos bartenders que investiram na área alcançaram o mesmo patamar dos chefs de cozinha. No país, a técnica chegou com as grandes marcas de bebidas e empresas da área, que incentivaram o aprendizado e a troca de experiências entre nossos profissionais. O objetivo é que o consumidor, posteriormente, passe por uma gôndola de supermercado para comprar uma bebida e tente reproduzir em menor escala essa sensação especial.

Para que a experiência seja possível, junto dos blends de qualidade e de uma diversidade de frutas, os balcões de bares passam a trabalhar com equipamentos como o maçarico, o sifão, a balança de precisão e as bases de vidro. Compostos químicos auxiliam nas técnicas de esferificação, emulsificação e gelificação, tais quais como alginato de sódio, cloreto de cálcio, goma gelana, gluconato de cálcio e citrato de sódio. Como é uma nova tendência, a coquetelaria molecular não se sustenta, necessitando de uma base nos drinques clássicos como forma de obter referências. Caso contrário, corre o risco de se transformar em um prato ou sobremesa.

Drinques moderninhos


Esferas de Rossini, com caviares falsos de morango e champagne

Uma das principais dificuldades para a difusão da técnica é a falta de referências ou as informações desencontradas. "Acabamos sempre na tentativa e erro, já que muitos profissionais não gostam de transmitir todos os seus segredos". Afirma Gerson Bendzius, bartender especializado na técnica. Para que o resultado dê certo e não surpreenda negativamente, ele trabalha com químicos profissionais, que informam a maneira correta de manipular os ingredientes e realizar as transformações. Enquanto isso, ele entra com a técnica de saborizar os drinques e suas receitas.

A tendência ainda deve demorar para emplacar no Brasil. São poucos os bares que oferecem os drinques especiais e, mesmo nesses, apenas 5% do cardápio é voltado para a área. O número reduzido de profissionais qualificados e o alto valor agregado de conhecimento e técnica assustam os donos de bares, que preferem não inovar. Mas para quem ainda não teve a oportunidade de experimentar, fica a explicação de Herbie. "Já fugimos do conceito chapeuzinho e melancia. Esses drinques são de assinatura, assim como são os pratos dos chefs de cozinha. A proposta é que eles causem a mesma sensação, trabalhando os sentidos e os sentimentos".


Confira algumas receitas que o especialista em mixologia molecular Gerson Bendzius montou para o Guia da Semana


Veja alguns bares que apresentam drinques moleculares:

São Paulo

Kinoshita

MyNY

Rio de Janeiro

Bar do Copa

Baretto Lontra


Veja mais dicas de bebidas no Drink Design

*Fotos: Nathalia Clark/APH

Atualizado em 6 Set 2011.