As peripécias de Madame Mim no palco do Studio SP Foto: Beca Figueiredo |
Ela passou sua vida entre Buenos Aires, Rio de Janeiro e São Francisco (EUA). Agora, vivendo definitivamente em São Paulo, reúne todos os valores culturais que acumulou pelo mundo e vira dona de um repertório que mistura electro com elementos da música latina. Entre outras coisas, já dançou, atuou, desfilou, produziu e cantou. Hoje, a argentina Mariana Eva faz tudo isso e mais um pouco quando sobe nos palcos dos clubes mais descolados do país sob o pseudônimo Madame Mim. Galgando seu espaço no cenário nacional, ela chama atenção não só pela música, que segue as tendências contemporâneas importadas dos grandes centros urbanos europeus e de Nova Iorque, como também pelas apresentações performáticas onde ficar pendurada de ponta-cabeça, por exemplo, é absolutamente natural.
Madame Mim teve seu segundo CD lançado em agosto de 2007 pela gravadora Lua Music. O Electric Kool-Aid chegou às lojas com 11 faixas inéditas e dois remixes de DJs atuantes na cena atual, um do México e outro da Argentina. Mariana tirou um tempinho para responder as perguntas do Guia da Semana. Abaixo ela fala de sua carreira, da internet, de seu processo criativo, entre outras coisas. Confira!
Foto: Beca Figueiredo |
Eu sou argentina, mas vim pela primeira vez ao Brasil com quatro anos e morei aqui durante toda a minha infância. Depois morei em Buenos Aires e em São Francisco, nos Estados Unidos.
De que maneira se deu o início de sua carreira artística? Começou direto pela música ou passou por outras "vertentes" antes?
Eu era atriz. Fiz várias peças de teatro no Rio e em Sao Francisco, onde morei por dois anos, e também fiz uns curtas em Buenos Aires. Paralelo a isso, sempre dancei, desde pequena, e acabei ingressando na faculdade de dança Angel Vianna, no Rio de Janeiro. Também fiz Escola de Circo e cursos com a Intrépida Trupe. Já fui modelo e desfilei para o Mercado Carioca da Moda e para grifes de algumas amigas, além de ser Trip Girl em julho de 2005.
Quais são suas origens musicais? Consegue lembrar da primeira música ou artista que ouviu e gostou?
O primeiro CD que comprei foi o London Calling, do Clash. Eu ouvia música punk e new wave, mas também sempre estive bem conectada com o som da América Latina e, principalmente, da Argentina, porque tenho vários amigos e estou sempre lá e cá.
Nos anos 90 você foi integrante da banda Polux, de punk rock. Conte um pouco sobre essa época?
Foi ótima! Aprendi a tocar e a cantar com o Polux. Fizemos 250 shows por todo o Brasil e tocamos em vários festivais, como o Abril pro Rock, Humaita Pra Peixe, Motim e Planet Fashion, além de abrirmos para a banda alemã de digital hardcore Atari Teenage Riot.
Foto: Beca Figueiredo |
Eu comecei no punk porque não sabia tocar nada. Não havia alternativa para mim, não sabia como fazer outro som. Com o fim do Polux, eu parti para carreira solo e fiz o Mim. Comecei botando as musicas novas no computador e saiu o disco Eu Mim Meu, pela Lua Music, em 2005. Demorou três anos para ser feito e eu cansei do processo. Entao montei com o Superputo, as doutrinas do Dogma07 e assim surgiu o electropop da Madame Mim. O processo do punk ao electro foi totalmente natural, sem ser pensado, aos poucos.
O que é o Dogma07?
Eu e o produtor do disco, o Superputo, sentamos em uma mesa de bar e criamos o Dogma07, que são sete regras para compor as novas músicas e o novo CD. O objetivo é purificar a criação musical recusando o uso de equipamentos caríssimos e pós-produções que alteram o trabalho, o tornando pasteurizado. Assim pode-se enfatizar a espontaneidade e o divertimento tanto para o ouvinte quanto para o artista. Espera-se que o público possa se envolver mais intimamente com o disco, já que não há uma superprodução para aliená-lo da música em si, de suas letras e atmosfera. Com este objetivo, criamos sete regras que pode valer para qualquer disco. É importante citar que qualquer um pode fazer parte do Dogma07. É só seguir as regras e mandar um e-mail para [email protected]
que é cadastrado na lista.
As regras do Dogma07 segundo Madame Mim 1. As composições devem ser feitas em no máximo duas horas. Ligamos o despertador e quando o alarme tocar a música tem que ficar do jeito que está. Isso inclui letra, arranjo e instrumentos. 2. O computador não deve ser utilizado. Criamos e gravamos do jeito que ouvimos. 3. Plugins, filtros e auto-tune são proibidos. Além de pasteurizar o som, sempre tem algum "nerd" que fica horas escolhendo e regulando dúzias de plugins. Não deve haver "nerds" no processo. 4. O equipamento utilizado na composição e gravação não deve ser caríssimo. Para permitir produções de baixo orçamento, criamos um teto de U$ 2.000,00. 5. O estúdio de gravação deve ser caseiro. Não existe nenhum vazamento capaz de arruinar uma boa música. 6. Os teclados devem ser tocados com dois dedos. Sem super-instrumentistas mostrando o que ficam treinando sozinhos no quarto o dia inteiro. 7. A música não deve conter efeitos sonoros externos ao momento da gravação (barulhos da natureza, explosões, discursos do homem chegando na Lua.) |
Qual a importância da internet para você? Tem algum projeto exclusivo para esse meio?
Acho que o meu processo de composição, o Dogma07, foi inspirado na internet, no público do myspace, youtube, na cultura dos blogs. O processo torna a composição acessível a qualquer um, que é o que a internet trouxe para o século 21. Eu não só divulgo meu trabalho pela internet como também foi ela que me ajudou a construir o que é o meu trabalho hoje. Além disso, faço um podcast desde marco de 2005 que está no UOL. Fui uma das pioneiras em podcast e também estou sempre postando coisas novas no fotolog, flickr, myspace e youtube.
Fale um pouco do seu novo CD. Quando será lançado oficialmente?
O meu novo CD se chama Electric Kool-Aid. Tem 11 músicas inéditas e dois remixes de DJs que estão acontecendo agora: a dupla Fauna (Argentina), que fez uma versão da musica Ultra-preñada em cumbia eletrônica, que eles chamam de Cumbia de la Jungla, e Chikas, do DJ All (México), que já fez um remix antológico da Maria Daniela.
Foto: Beca Figueiredo |
No início não vou disponibilizar as músicas para download porque a gravadora tem parcerias de venda de faixas pela internet, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, e isso prejudicaria esse processo. Mas com certeza vou disponibilizar para as pessoas ouvirem. Meu foco não é vender disco, esse é o foco da gravadora. O que quero é que as pessoas vão ao show, tornando-o cada vez mais legal.
Como foi o processo de elaboração, produção e gravação do disco?
A gravadora me convidou para fazer o CD e tínhamos um mês para gravar tudo, mixar e masterizar. No entanto, eu e o produtor, o Superputo, estávamos tranqüilos, pois já tínhamos fundamentado o Dogma07, que fez o processo ser rápido, prazeroso e espontâneo.
E como DJ, o que você anda fazendo? Qual a importância desse trabalho para sua formação musical?
É legal porque coloco sons que gosto e que tem a ver com o meu trabalho, projetos de musica eletrônica que acontecem na América Latina e na Espanha, que as pessoas chamam de latin-electro. O bom de ser DJ é poder experimentar na pista minhas produções e ver como funcionam outras músicas. Isso me traz experiência pra fazer a galera dançar, que é o que curto.
Atualmente, quem te influencia?
Bandas do novo cenário eletrônico latino-americano e europeu, como Maria Daniela y su Sonido Lasser (México), Que Out, Miranda (Argentina), Dirty Princess, Superputa, Chicos y Chicas (Espanha).
Para saber mais:
? Myspace
? Fotolog
? Trama Virtual
? Superbacana DJs
Atualizado em 6 Set 2011.