Foto: Divulgação/ 3Plus |
No Myspace do Mixhell, Iggor Cavalera e Laima Leyton definem o projeto como "Grindcore/ Tropical/ Ghettotech". Misto de electro, rock, hip hop, funk e tudo mais que transite entre esses estilos, o som do casal mais badalado da e-music nacional foi escolhido pela votação realizada no site do Skol Beats no primeiro semestre deste ano. Com cinco filhos e a responsabilidade de tocar antes do duo francês Justice no festival, o ex-Sepultura e a artista plástica dividem o tempo entre os cuidados com os pupilos e os ensaios e produções no home studio. Há poucos dias do evento, Iggor e Laima toparam conversar com o Guia da Semana sobre os preparativos para o DJ set que farão no dia 27 de setembro.
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Guia da Semana: Em 2007 vocês estrearam no Skol Beats e, neste ano, foram escolhidos pelo público para voltar ao palco do festival. O que vai ter de diferente e o que permanece em relação ao ano passado?
Iggor e Laima: Ficamos super felizes com a escolha do público! Isso mostra que as pessoas têm acompanhado nosso trabalho. A apresentação deste ano vai ser uma evolução natural do nosso trabalho. Vai ter mais bateria ao vivo, mas dessa vez eletrônica, com mais intervenções ao vivo em cima do DJ set.
GDS: Quais equipamentos e instrumentos vocês levam?
I e L: Depende do palco, em DJ sets é um set básico de DJs + a MPC com samples. Em festivais somamos aos CDJs e à MPC Sampler um teclado Micro Korg, bateria Rolland eletrônica misturada a bateria acústica e o sintetizador ms20 da Korg.
GDS: O que vocês armazenam na MPC pra soltar lá na hora?
I e L: Samples e beats que viemos coletando nas viagens e trocando com outros produtores. São samples de vozes à capela, de sons de objetos variados e principalmente de batidas de baile funk, hip hop, techno e acid que podem transformar ao vivo as versões da música que estamos tocando.
GDS: E o setlist? O que vocês levam pronto e o que vocês fazem ao vivo?
I e L: É muito difícil a gente tocar uma faixa original. Normalmente fazemos várias edições para ficar mais com a nossa cara e remixamos algumas coisas para o set. No set do Skol Beats não faltarão tracks do Mixhell, como Dance or Die e Highly Explicit, que foi remixada pelo francês Brodinsky e pelo produtor finlandês Houratron. O remix que fizemos para o duo alemão CLP e que acaba de sair pela Boyz Noise Records, chamado Ain´t Nobody Cooler também entra. Faremos uma versão especial dele com bateria ao vivo. Além de muitos outros edits com novas tracks de Soulwax, Boys Noize, Radioclit, Goose...
GDS: O que vocês têm aprontado em estúdio? Saiu coisa nova especialmente para o Skol Beats?
I e L: Na verdade, para cada apresentação nossa procuramos ter algo novo, nem que seja uma música reeditada para um DJ set. Para os grandes festivais, como o Skol, trabalhamos num set completamente novo que mostre o andamento do nosso trabalho. Grande parte do Mixhell está nas produções próprias a remixes e re-edits. Apesar de só nós dois nos apresentarmos ao vivo, o trabalho de produção é feito em trio: nós dois e o produtor e músico Max Blum. Neste ano lançamos uma música inédita na coletânea do Skol Beats (feita pela ST2) e alguns remixes na Europa. Estamos trabalhando duro com o nosso parceiro para o lançamento de um EP.
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GDS: Vocês vão abrir para o Justice. Isso tem influenciado na preparação do set do Mixhell?
I e L: O Justice foi uma das influências do Mixhell sempre. Há dois anos eles nos convidaram para discotecar com eles e o 2ManyDjs numa festa super secreta em Paris. Tivemos a chance de tocar a doze mãos nos picapes. Foi muito divertido. O Xavier e o Gaspard são muito amigos nossos, já tocamos com eles várias vezes na Europa, inclusive numa grande festa de Natal com todos nossos amigos. Vai ser uma honra recebê-los e tocar com eles pela primeira vez aqui na nossa casa!
GDS: Como é que foi essa festa de Natal
? I e L: A banda Soulwax convidou todos os amigos com quem tinham trabalhado em 2007 para tocar numa festa de Natal. Em princípio era para ser uma festa para no máximo mil pessoas, num centro cultural em Gent, na Bélgica. À medida que eles foram convidando os amigos, todo mundo foi aceitando tocar na festa, Justice, Boyz Noise, Goose, Tiga, Crookers, Brodinski, Riton, Erol Alkan, Mixhell... Cada um deu um jeito de liberar a data para estar lá. No final, a festa teve que mudar de lugar para comportar o público de mais de 20 mil pessoas, era difícil decidir qual palco ver em cada momento.
GDS: Quem mais é referência para vocês?
I e L: A gente se identifica muito com Soulwax e o 2ManyDJs, porque o som deles transita entre o rock e o dance. Hoje somos amigos e eles nos ensinaram um monte de coisas, desde como mixar com CDJs até como usar um sintetizador. O Justice e o Soulwax são as melhores coisas que aconteceram na música nos últimos anos. A sintonia entre o pesado e o dançante é a maior influência que temos deles. E também o Boyz Noise, porque ele é nosso DJ favorito atualmente.
GDS: Vocês chegaram a votar em algum artista para o SB?
I e L: Votamos bastante no Justice e no Digitalism, no Soulwax, no Crookers, no Brodinsky e no Boyz Noise, porque queríamos receber os amigos com quem temos trabalhado ultimamente aqui no Brasil. Votamos também no Anderson Noise, no Gui Boratto e no Killer on the Dance Floor. Além de amigos, eles representam diferentes vertentes da música eletrônica brasileira.
GDS: Do passado do Iggor todos sabem, mas e o seu, Laima? Trabalhava com artes plásticas, não?
Laima: Na real eu entrei na faculdade para estudar música, mas na metade do primeiro ano achei muito chato e me apaixonei por artes plásticas. Fui trabalhar no MAM (Museu de Arte Moderna), onde fiquei por 10 anos em contato com a arte moderna e contemporânea. Música sempre foi a paixão, sempre fuçava nos computadores e editava músicas em softwares toscos só para ouvir a minha versão. O contato com a arte contemporânea me fez refletir sobre a contemporaneidade e, assim, achei o meu modo de produzir arte contemporânea através da música.
GDS: No começo foi difícil encontrar sintonia? É mais difícil montar uma banda ou uma dupla de música eletrônica?
Iggor: Não. Foi a nossa sintonia que fez a gente começar o Mixhell. Montar banda é um saco! Djing is the future.
Laima: Sintonia em arte e em música era algo que já existia, desde que nos conhecemos, antes o Iggor tinha o Sepultura e eu o MAM, só falávamos disso o tempo todo. Isso cresceu e tomou nossas vidas juntos, o Mixhell é o nosso sexto filho.
GDS: E na hora do ao vivo? Como fica?
Iggor: No trabalho de estúdio a Laima é mais nérd e eu sou mais do feeling, do arranjado, do campo das idéias. Ao vivo as coisas invertem, eu sou mais responsável, preocupado, e a Laima parece que está lá para curtir a balada.
GDS: Qual é a rotina de vocês? O que mudou desde que souberam que participariam do festival?
I e L: Nossa rotina é bem atípica. Além do trabalho de música, temos cinco filhos. É atípica porque trabalhamos a maior parte do tempo à noite. Então, acordamos normalmente por volta das 11h da manhã, trabalhamos em e-mails e os preparamos para a escola. Quando todos saem de casa nos trancamos a tarde toda em nosso home studio. O final da tarde é geralmente tumultuado. Voltamos ao estúdio durante a noite ou saímos para tocar. Desde que soubemos do Skol - estávamos em turnê na Europa, na época - não mudamos nossa rotina. A maior diferença é que ensaiamos com a bateria e outros elementos num estúdio fechado.
GDS: Faz pouco tempo que vocês voltaram da turnê. Qual foi a melhor experiência que vocês tiveram por lá?
I e L: Em junho deste ano estávamos no Hove Festival, na Noruega, que teve como headliners Beck e Jay-Z, além de MSTRKRFT e bandas de heavy metal como o Cavalera Conspiracy [novo projeto do Iggor com o irmão Max] e também o Mixhell. O que mais nos surpreendeu foi perceber como as pessoas estavam dispostas a ouvir diversos tipos de som num mesmo espaço. De Midnight Juggernauts a Bad Religion numa pequena ilha no mar da Noruega vimos um fã que headbangeava [neologismo para o ato de sacodir a cabeça e o cabelo para frente, típico dos metaleiros] com toda força no show do Cavalera Conspiracy e mais tarde se entregar aos passos do dancefloor no set do Mixhell. Ah! Lá também vimos pessoas vestindo um modelo de moletom do Mixhell que nem imaginávamos que existia!
Atualizado em 1 Dez 2011.