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Festas de fim de ano significam como o próprio nome diz "festas de fim de ano" e nem o protocolo familiar, preenchido em duas ou mais vias, é capaz de conter esta legião, ávida por aquele "hohoho" mixado pelo DJ da moda.
Pouco depois da meia-noite, da ceia, e do momento sublime do "é pavê ou pá cumê?", puxado sempre por alguém de bigode, é hora de ganhar as ruas atrás da melhor festa natalina.
- Tchau pai, tô saindo.
- Juízo hein, hoje tá cheio de bêbado dirigindo na rua.
- Então é melhor o senhor também dormir aqui na casa da titia.
- Hein?
- Dá aqui esse copo de whisky.
"Quanto é pra entrar? E pra mulher? Tem café da manhã incluso? Se for de barba branca ganha desconto?"
Você roda, estaciona, vai pra outro lugar, cumprimenta desconhecidos, dobra a segunda à esquerda, pede informações no posto e, onde quer que decida amarrar a sua rena, filas intermináveis estarão a sua espera.
Toda aquela gente que lotou a 25 de março desembarcou agora, segundos antes do que você no lugar escolhido. O clima começa amistoso com uma inédita confraternização na fila, regida por uma orquestra de celulares - ligações a zero centavo nesta noite feliz. Pouco depois e ainda preso no mesmo ponto, como uma guirlanda colocada por maldade, no alto da porta da casa de um duende, a insatisfação é geral. Tem início a furação de fila com amigos do dono dando tapinhas no ombro do segurança. O espírito de natal é rapidamente esquecido no momento da revista.
"Onde a luz brilhar mais forte encontrarás o teu alento". Tá tá.
- Velho, voa pra cá. Esquemão!
- Será?
- Vem na minha. Open Bar de saquirita, jurupinga, coqueluche, mameluco, mazaropi.
Nomes complicados de drinques são um alerta de que você também terá dificuldade para pegá-los, se é que algum deles ainda poderá ser encontrado. Não prometa o que não pode cumprir. Via de regra prefira os que servem vodka, cerveja, água e refrigerante.
"Farta mesa de café da manhã".
Pelo amor do aniversariante do dia! Quem é que consegue depois de salpicão, farofa e mais dezesseis fatias de peru e pernil, pensar em croissant sabor gelo seco, às seis da manhã?
É, eu sei, um monte de gente consegue. Basta estar incluso para que a turminha se degladie em busca da última bisnaguinha da bandeja. Nem tribo do Camboja, pós-desastre natural, se comporta tão mal.
Pobre DJ! Agora é ele quem faz às vezes do velho Noel, recebendo crianças crescidas, uma a uma, em seu colinho, ouvindo pedidos musicais.
- Só toco essa se você provar que foi uma boa menina?
- Eu sou uma ótima menina. (e tenta roubar um beijo)
- Fofa? Dá pra levantar? Minha coxa tá gangrenando.
O relógio marca 4 da manhã e alguns amigos ainda ligam no seu celular, sentados em suas cadeiras de praia, lá no final da fila, que ainda dobra o quarteirão.
- Cara, desencana.
- De jeito nenhum.
- Pô, cem pau pra ficar só uma horinha?
- Mas é open bar e tender à vonts!
É, bem por aí mesmo. Se você não estiver afim de dor de cabeça em plena madrugada do dia 25, melhor reconhecer que você também está ficando velho e entrar de uma vez por todas para a legião do "é pavê ou pra cumê". Eu já entrei. Feliz Natal.
Leia as colunas anteriores de Adriano:
? Onde é o esquenta?: Foi-se o tempo em que apenas ir para a balada era suficiente.
? Como é difícil assistir jogo em bar: Copa América, Pan, Libertadores, Brasileirão séries A, B, C, café com leite e casados contra solteiros.
? Dia dos Namorados na conveniência do posto: Casais e relacionamentos diferentes e o mesmo final feliz. Feliz?
? Tudo acontece no banheiro da balada: O universo paralelo dos banheiros masculinos.
? Não tenho mais roupa para sair: Você pode estar na lista do Samuel, da Glorinha ou do Curi, mas, infelizmente, camurça não combina com fio tinto, muito menos com lã fria.
? A fila anda: Sábios conselhos para se livrar das filas grandes e chatas que se formam nas portas das baladas.
? Só vim pra dançar: Uma das desculpas mais utilizadas pelas mocinhas festeiras.
? Não rola aquele chorinho?: Dicas para arrumar aquela dose a mais na balada.
Quem é o colunista: Adriano Abdalla. Libanês, paulistano e de sobrancelha junta.
O que faz: é redator publicitário e campeão pan-americano sub-17 de corre-cotia.
Pecado gastronômico: o maior pecado gastronômico é cometido por aqueles que comem esfiha com catchup. Francamente.
Melhor lugar do Brasil: Rua 25 de Março em época de Natal.
Fale com ele: [email protected]
Quer um chorinho? Então acesse seu blog.
Atualizado em 1 Dez 2011.