Uma das melhores épocas da música eletrônica foi de 1988 a 1992, quando existia o estilo que hoje chamamos de Flash House: uma vertente da música eletrônica, composta de timbres sintéticos feitos por teclados, batidas sincronizadas e quebradas ao mesmo tempo e, como principal característica, um vocal melódico e outro com base de Hip Hop. Ou seja, enquanto um fazia uma melodia em uma parte da música, o outro fazia Hip Hop em outra parte, seguindo o mesmo sentido da letra.
Hoje é muito fácil notar o Flash House nas produções de Pitbull, Usher, Far East Movement, Ne-Yo, entre outros que fazem parcerias para suas produções terem uma pegada mais pesada. Mas, se fossem somente os vocais a diferença, até poderíamos dizer que é pura coincidência. Recentemente recebi uma produção que eu poderia jurar que era de 1990, mas era de 2010, por causa da produção instrumental criada nela e sem vocais.
Muitos produtores estão resgatando timbres famosos do final da década de 80 e começo da década de 90, inserindo partes delas em suas produções ou até mesmo as músicas inteiras. Podemos dizer então que a nostalgia das pistas dos anos 90 está voltando?
Infelizmente, não. As músicas podem conter as bases ou timbres dos anos 90, mas é só isso. Dificilmente poderemos resgatar a melhor época da dance music, quando as pessoas iam para as baladas para dançar, fazer passinhos, namorar, "paquerar", etc ...
Atualmente, as festas de flash back são as melhores festas que acontecem, com lotação máxima, consumo alto, gente bonita que vai para se divertir e matar saudade, mesmo pagando valores altos para isso. Um reflexo disso é o sucesso de festas em parques de diversão e cruzeiros em navios que, uma semana antes de acontecerem, já têm lotação máxima.
Do outro lado, temos a música eletrônica "conceito", segmentos como techouse, dark house, crack house, entre outros criados recentemente para diferenciar muitas vezes os DJs que tocam e suas tribos seguidoras. Na maioria das vezes, essas festas precisam de esforços enormes para lotação, preocupação com segurança e até socorro médico, pois os resultados finais não são tão agradáveis. Mas, volto a dizer, isso é "na maioria das vezes", não quer dizer todas.
Como na moda, trazer de volta sucessos do passado não é vergonha pra ninguém, pelo contrário. Mostra criatividade de juntar o antigo ao moderno com a música não é diferente e, se isso está acontecendo, é porque o público está sentindo falta de mais energia nas pistas, vocais fortes, letras poderosas e que chamem as pessoas á pularem e "put your hands up in the air".
Isso acontece constantemente. Aconteceu também na década de 90, quando muitos grupos resgataram sucessos dos anos 60, 70 e 80, criando ótimas versões eletrônicas. Mas, por outro lado, acontece pela velocidade do mercado em consumir novidades.
O grupo Black Eyed Peas é um reflexo perfeito disso. Músicas como Pump It e a atual The Time trazem sucessos antigos à tona, para fazerem sucesso com muita criatividade. Com as mudanças rápidas e o anseio por novidades, muitos produtores não têm tempo de criar novos timbres e aproveitam os antigos como base de seus sucessos, mas que viram um tiro certo com o feeling certo de encaixá-los nos pontos certos. Outros produtores se preocupam em mudar os tons, distorcê-los, etc ... para que as pessoas não reconheçam de onde vêm as bases da música.
Geralmente achamos que muitas músicas são novidades, timbres novos, produções novas, mas 80% das músicas eletrônicas que são lançadas contêm pedaços de sucessos antigos copiados. Muitas delas também são músicas antigas em versões atuais e as pessoas não sabem disso.
Você pode estar dançando uma música dos anos 50, como a produção de Yolanda Be Cool, e não saiba, mas isso não muda nada. O que importa realmente é que as produções são contagiantes e merecem estar onde estão e que muitos sucessos de gênios não morrerão. Isso é certo e, daqui a dez anos, continuaremos dançando "Time Of My Life" de outra forma, talvez com o Patrick Swayze presente na festa em 3D ou em holograma, por que não?
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Quem é o colunista: DJ há 18 anos, produtor musical há três anos, divulgador de músicas para rádios desde 1997.
O que faz: DJ, produtor de música eletrônica e empresário do ramo de rádio.
Pecado gastronômico: Lasanha e pavê de Sonho de Valsa.
Melhor lugar do Brasil: Meu estúdio de produção musical.
O que está ouvindo no carro, iPod ou mp3: Música eletrônica e diversos outros estilos que contenham letras bacanas e melodias.
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Atualizado em 1 Dez 2011.