Guia da Semana

Bem-vindo a 2008!! Vamos celebrar? Mas sou contra essa mania de celebrar o final de ano com espumantes..! Ora, por que no final de ano? No Brasil está instituída uma grande injustiça com as bebidas de bolhinhas. Elas não devem ser consumidas apenas nas festas de finais de ano ou em celebrações solenes...Por que não ser consumida sempre, sem cerimônia? Sempre que algo bom acontecer, sempre que um dia feliz passar, sempre que um amigo querido vier lhe visitar ou mesmo se não for tão querido como na visita da sogra, por exemplo...(mas não é o caso da minha...)!

Ah, você está achando que eu estou atrasada, que a época de falar sobre espumantes passou? Bem, engano seu. Temos 365 novos motivos para abrirmos um espumante ou champagne, ou prosecco ou o vinho com "bolhinhas" de sua preferência. É isso mesmo. Por que a discriminação? A venda de espumantes nas festas de finais de ano é enorme. Chega a representar 40% das vendas de todo o ano, mas considero isso uma tremenda injustiça. Os espumantes, que sempre celebram a alegria, devem ser consumidos o ano inteiro... Ao preparar esse texto li um artigo falando que o espumante é "um brinde ao otimismo". Adorei. Não é verdade? Já viu alguém abrir um espumante porque está triste? Ou se afundar numa garrafa de champagne porque está deprimido?

Sim, esta é uma bebida alegre, festejada, que inebria todos os sentidos humanos, até a audição, que não está presente em outros vinhos. Testa-se a visão ao examinar sua cor brilhante e delicada, suas borbulhas persistentes, sua mousse cremosa... Testa-se seu aroma de flores, de brioche (no caso dos champagnes), seu paladar excitante, as cócegas na língua e, unicamente no caso dos vinhos espumantes, a audição, pelo delicado ruído de suas borbulhas subindo ao topo da flûte ou pelo som do "tim-tim", do brinde do qual não se pode escapar ao abrir essa bebida. Ah,tem o barulho da rolha espocando, porque não, é um estímulo a audição. Faltou o tato. Bem, sentimos o tato na degustação de vinhos ao avaliar o peso ou corpo da bebida no centro da língua. Ai está, todos os sentidos. É sem dúvida, a bebida completa. Além do mais, sempre associada à alegria. Então, por que não elevá-la à categoria de nossa companhia a qualquer dia do ano?


Existem outras pessoas com mais autoridades do que eu para defender essa tese. Como posso refutar a opinião de especialistas como a Madame Bollinger, a famosa senhora francesa produtora da champagne preferida do James Bond, que assim respondeu a uma jornalista quando, no início do século XX, lhe perguntou quando bebia champagne:

"Eu bebo quando estou feliz e quando estou triste. Às vezes bebo quando estou sozinha. Quando tenho companhia é obrigatório. Beberico quando não tenho fome e bebo quando estou faminta. Fora isso, não toco numa champagne, a não ser que tenha sede".

Outra grande personalidade mundial afirmou: "Na vitória você merece a champagne, na derrota você precisa dela", disse Napoleão Bonaparte.

Só alguns comentários sobre nomenclatura. O champagne é um espumante, mas nem todo espumante é um champagne. Muitos ainda têm o hábito de chamar de "champagne" qualquer vinho que tenha bolhas, mas é errado. Só pode ser chamado de champagne a bebida proveniente da região francesa que leva esse nome, localizada perto de Paris. Ou seja, espumante feito em outra parte da França não é champagne, é espumante, palavra que designa o estilo da bebida gasosa feita atrás de segunda fermentação em todo o mundo. Existem dois métodos para fazer o espumante. Método champenoise, feito como se faz na região de champagne, quando a segunda fermentação acontece na própria garrafa, ou método Charmat, quando as bolhas são formadas em grandes autoclaves de inox e só então engarrafadas. Não existe método bom ou ruim. Os dois são certos e geram bebidas de qualidade. Não vai ser por aí que você vai definir se a garrafa que tem nas mãos tem qualidade ou não. Vai precisar provar! Dura tarefa...


Dizem os especialistas que o resultado do método champenoise são 49 milhões de borbulhas em cada garrafa. Bem, na próxima vez que abrir o espumante, pode conferir se o dado está certo. Mas não caia na tentação de fazer como nas corridas de Fórmula 1 e jogar toda a espuma para fora da garrafa. Se fizer isso, será o mesmo que tomar coca-cola sem gás, ruim, além de ser um grande desperdício de boa bebida. Não se deve abrir o espumante fazendo barulho porque deixa escapar o precioso gás do qual precisamos para manter as características da bebida. Mas que é gostoso de ouvir é!

Não quero aqui falar de marcas, pois o importante é celebrar a vida com a bebida mundialmente conhecida para esse fim. Passei esse final de ano num lugar bem "low-profile", melhor nem comentar, com um casal de amigos e nossos filhos. Tomei cerveja, pois não tinha vinho, mas na hora do brinde tinha um espumante francês blanc-des-blancs demi-sec. Bem, não era o meu ideal, prefiro os secos ou dry, ou brut aos adocicados como o demi-sec. Meu amigo perguntou se deveríamos comprar a garrafa? Por que não? Vamos brindar o novo, isso merece um espumante!" A bebida pode não ter sido a melhor, mas comecei o ano novo muito bem.

Que motivos para brindes não os faltem!

Quem é a colunista: Denise Cavalcante, jornalista.

O que faz: Trabalha com eventos de vinhos e gastronomia.

Pecado gastronômico: Abrir garrafas de vinho para tomar sozinha, mas não ter coragem de abrir os melhores só para mim!

Melhor lugar do Brasil: Minha casa, ao lado do meu filho.

Fale com ela: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.