Ah, você está achando que eu estou atrasada, que a época de falar sobre espumantes passou? Bem, engano seu. Temos 365 novos motivos para abrirmos um espumante ou champagne, ou prosecco ou o vinho com "bolhinhas" de sua preferência. É isso mesmo. Por que a discriminação? A venda de espumantes nas festas de finais de ano é enorme. Chega a representar 40% das vendas de todo o ano, mas considero isso uma tremenda injustiça. Os espumantes, que sempre celebram a alegria, devem ser consumidos o ano inteiro... Ao preparar esse texto li um artigo falando que o espumante é "um brinde ao otimismo". Adorei. Não é verdade? Já viu alguém abrir um espumante porque está triste? Ou se afundar numa garrafa de champagne porque está deprimido?
Sim, esta é uma bebida alegre, festejada, que inebria todos os sentidos humanos, até a audição, que não está presente em outros vinhos. Testa-se a visão ao examinar sua cor brilhante e delicada, suas borbulhas persistentes, sua mousse cremosa... Testa-se seu aroma de flores, de brioche (no caso dos champagnes), seu paladar excitante, as cócegas na língua e, unicamente no caso dos vinhos espumantes, a audição, pelo delicado ruído de suas borbulhas subindo ao topo da flûte ou pelo som do "tim-tim", do brinde do qual não se pode escapar ao abrir essa bebida. Ah,tem o barulho da rolha espocando, porque não, é um estímulo a audição. Faltou o tato. Bem, sentimos o tato na degustação de vinhos ao avaliar o peso ou corpo da bebida no centro da língua. Ai está, todos os sentidos. É sem dúvida, a bebida completa. Além do mais, sempre associada à alegria. Então, por que não elevá-la à categoria de nossa companhia a qualquer dia do ano?
Existem outras pessoas com mais autoridades do que eu para defender essa tese. Como posso refutar a opinião de especialistas como a Madame Bollinger, a famosa senhora francesa produtora da champagne preferida do James Bond, que assim respondeu a uma jornalista quando, no início do século XX, lhe perguntou quando bebia champagne:
"Eu bebo quando estou feliz e quando estou triste. Às vezes bebo quando estou sozinha. Quando tenho companhia é obrigatório. Beberico quando não tenho fome e bebo quando estou faminta. Fora isso, não toco numa champagne, a não ser que tenha sede".
Outra grande personalidade mundial afirmou: "Na vitória você merece a champagne, na derrota você precisa dela", disse Napoleão Bonaparte.
Só alguns comentários sobre nomenclatura. O champagne é um espumante, mas nem todo espumante é um champagne. Muitos ainda têm o hábito de chamar de "champagne" qualquer vinho que tenha bolhas, mas é errado. Só pode ser chamado de champagne a bebida proveniente da região francesa que leva esse nome, localizada perto de Paris. Ou seja, espumante feito em outra parte da França não é champagne, é espumante, palavra que designa o estilo da bebida gasosa feita atrás de segunda fermentação em todo o mundo. Existem dois métodos para fazer o espumante. Método champenoise, feito como se faz na região de champagne, quando a segunda fermentação acontece na própria garrafa, ou método Charmat, quando as bolhas são formadas em grandes autoclaves de inox e só então engarrafadas. Não existe método bom ou ruim. Os dois são certos e geram bebidas de qualidade. Não vai ser por aí que você vai definir se a garrafa que tem nas mãos tem qualidade ou não. Vai precisar provar! Dura tarefa...
Dizem os especialistas que o resultado do método champenoise são 49 milhões de borbulhas em cada garrafa. Bem, na próxima vez que abrir o espumante, pode conferir se o dado está certo. Mas não caia na tentação de fazer como nas corridas de Fórmula 1 e jogar toda a espuma para fora da garrafa. Se fizer isso, será o mesmo que tomar coca-cola sem gás, ruim, além de ser um grande desperdício de boa bebida. Não se deve abrir o espumante fazendo barulho porque deixa escapar o precioso gás do qual precisamos para manter as características da bebida. Mas que é gostoso de ouvir é!
Não quero aqui falar de marcas, pois o importante é celebrar a vida com a bebida mundialmente conhecida para esse fim. Passei esse final de ano num lugar bem "low-profile", melhor nem comentar, com um casal de amigos e nossos filhos. Tomei cerveja, pois não tinha vinho, mas na hora do brinde tinha um espumante francês blanc-des-blancs demi-sec. Bem, não era o meu ideal, prefiro os secos ou dry, ou brut aos adocicados como o demi-sec. Meu amigo perguntou se deveríamos comprar a garrafa? Por que não? Vamos brindar o novo, isso merece um espumante!" A bebida pode não ter sido a melhor, mas comecei o ano novo muito bem.
Que motivos para brindes não os faltem!
Quem é a colunista: Denise Cavalcante, jornalista.
O que faz: Trabalha com eventos de vinhos e gastronomia.
Pecado gastronômico: Abrir garrafas de vinho para tomar sozinha, mas não ter coragem de abrir os melhores só para mim!
Melhor lugar do Brasil: Minha casa, ao lado do meu filho.
Fale com ela: [email protected]
Atualizado em 6 Set 2011.