Guia da Semana


Foto: Sxc.Hu



Embora "boteco" tenha uma conotação negativa, os legítimos botecos são preciosidades que estão desaparecendo de São Paulo. Primeiramente, vamos tentar definir o que são eles. Não se trata de um bar esculhambado, onde vale tudo. Sou do tempo em que existiam requisitos mínimos para se "instituir" um boteco. A começar pelo cardápio. Não podia faltar bolinho de bacalhau, carne de sol, torresminho, lanche de pernil, sardinha empanada, amendoim de tudo quanto é jeito, acepipes e os salgadinhos tradicionais. Também necessitava uma especialidade qualquer para adquirir caráter, tipo a "joana D´arc do Bar Juriti ou o lanche de mortadela do Bar do Mané, no Mercadão.


Os trabalhadores se vestiam apropriadamente e era notável o esmero. Balcão tinha de ser de aço inox e as paredes, de azulejo branquinho. As prateleiras tinham que estar abarrotadas com verdadeiras coleções de bebidas nacionais e importadas. Cervejas adequadamente (não estupidamente) geladas e o chopp refrigerado com gelo (não eletronicamente), o que faz uma grande diferença. Eu, pessoalmente, preferia os de "Português", pois sempre achei que eles estavam para os ´butécos´ como os suíços estão para os relógios. E o principal: tudo a preços honestos. Sendo assim, o "boteco" se tornou o inimigo numero 1 das esposas, porque verdadeiramente rivalizava com elas na companhia dos maridos.


Nos bons e velhos botecos do centro podia-se ver pessoas de todas as classes sociais conversando, bebericando e convivendo, desde doutores, médicos ou advogados até operários. Não existia espaço mais democrático que este. Seu charme e aconchego especiais não tinham explicação.


Era nos ´butécos´ que se comentavam e se resolviam os problemas da humanidade. Segue uma lista dos melhores e que me dão saudade: Dix Bar, na Rua São Bento, Salada Record, na Praça Júlio Mesquita, Candeias, na Rua Paula Souza, o Salada Paulista, que anotava o consumo no mármore branco do balcão e, o último a sucumbir, o Bar Barão, na rua Barão de Duprat.

Alguns bares antigos e tradicionais do Centro de São Paulo ainda resistem, mas não conseguiram se manter alheios à modernidade. Acabaram se descaracterizando e perdendo a originalidade, restando poucos dignos de matar a saudade.


Mas ainda existem alguns!


Me escrevam que eu conto aonde é!

Quem é o colunista? Chef Luiz Spagnolli

O que faz: Consultor em gastronomia e negócios da alimentação

Pecado gastronômico: A combinação "Cuarto de quadril + Malbec"

Melhor lugar do Brasil: Paraty - RJ. É claro!

Fale com ele: chefluizspagnolli @yahoo.com.br

Atualizado em 6 Set 2011.