Guia da Semana

Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal


Tatá Aeroplano recebeu um convite meu há um tempo atrás. Ele aceitou fazer parte do projeto musical Pro Mundo Ficar Odara, sendo o DJ anfitrião, que recebe seus convivas na pista de dança e os abrilhanta com suas músicas e convidados. Já dancei muito ao som dele na pista do Studio SP (quando ainda era em Pinheiros), bebendo champanhe com minha amiga Cassandra. Tatá é aquele grande músico que foi muito influenciado pela Tropicália, que gosta de "Rocks" de Caetano Veloso e que diz que sua banda, Cérebro Eletrônico, que lançou o "Pareço Moderno", seu último álbum, não tem nada de moderno! Eu gosto da figura dele, dos inúmeros projetos em que ele está envolvido e do pouco que dele li (e ouvi).

Astronauta Pinguim é um outro grande músico que já pediu, para minha alegria e honra, uma horinha na Odara (o nome próprio do projeto virou o seu apelido), para tocar músicas tomadas de sintetizadores MOOG. E é claro que ele vai tocar!

Tatá Aeroplano, paulista, e Astronauta Pinguim, gaúcho. Moradores aqui de São Paulo. São admiradores mútuos assumidos e tem destaque, cada um ao seu estilo, na cena musical independente nacional. Há pouco tempo, Tatá dividiu o palco com o Pinguim, que era o maestro de um dos shows do Festival Mix Music 2008 - uma produção do amigo Rodrigo Araújo que chamou pro mesmo palco Maria Alcina, Perla, Rita Ribeiro e Márvio. Eu perdi esse show, mas alguns amigos - que não perdem os shows nessa cidade - me contaram da maravilha que foi. Um pouco antes, o Pinguim já havia participado de um especial no SESC Pompéia, em homenagem à Tropicália, ao lado de Tom Zé, Roberta Sá, Júpiter Maçã, Curumim e Guizado, com a direção de Lucas Santtana.

Essa configuração harmoniosa, de redes interligadas, formadas por ídolos, amigos e estilos musicais distintos, é uma coisa que me deixa muito feliz na música. A convivência com personalidades, que às vezes se dizem contrárias, adversas a tudo o que é diferente delas, é o fator que me faz crer que elas podem ser mesmo diferentes no estilo, mas nunca podem ser contrárias à adversidade. A Odara sempre se afigurou em tal convivência e quis receber um público nunca contrário aos variados estilos musicais que ela apresenta, com o único objetivo de entreter e de fazer dançar numa pista sem preconceitos musicais.

Inicialmente havia apenas um único DJ no projeto, que tocava durante a festa inteira: Eu.

Nasci em São Paulo ouvindo moda de viola, música sertaneja e forró. Interessei-me pela Tropicália ao final da adolescência. Mas, antes disso, uma namorada já havia me apresentado um disco de sambas tocados por João Gilberto. Nas Odaras, quando eu subia para as pick-ups, a música estava latente e transparente em mim. Eu queria tocar tudo o que eu ouvi e gostei durante toda a minha vida até então. Tudo o que eu descobri sozinho e tudo o que meus amigos me apresentavam como novidade. E assim eu fazia. De Luiz Melodia a Ivete Sangalo. De Chitãozinho & Xororó a Rolling Stones. Foi assim que eu sempre gostei de agitar as pistas da festa.

Acredito que quem curte Cole Porter e consegue buscar disposição para ouvir Cauby Peixoto (ou quem curte Alice Cooper e consegue buscar disposição pra ouvir Ney Matogrosso), está em muito maior vantagem sobre quem curte Cauby Peixoto e evita buscar disposição para ouvir Cole Porter. Além de ter mais disposição para se divertir em uma Odara inteirinha.

Na última festa que aconteceu em 17 de janeiro, muitos amigos foram convidados e abalaram as estruturas do Salvador Dali, casa do centro de São Paulo, espaço onde a Odara reside. Cassandra Mello abriu a noite mandando o som mais eclético de todos. Depois entrou Mancha Leonel que agitou a pista com sambas e rocks. O ápice da noite ficou por conta do nosso DJ amigo Johnny Harp, que bombou as caixas de som com seus funks geniais, pra delírio da galera. E para terminar a noite, o DJ Yuri mostrou ao público que ainda havia muito som diferente para sacudir o esqueleto até o sol raiar. A próxima Odara agora acontece só em fevereiro.

Quem é o colunista: Rodrigo Faria, 27, é produtor musical.

O que faz: produções em música, teatro, TV e cinema.

Pecado Gastronômico: purê de batatas e a culinária de Mamãe Mello!

Melhor Lugar do Brasil: "um lugar pro coração pousar".

Para Falar com ele: [email protected] ou acesse seu blog.

Atualizado em 1 Dez 2011.