Guia da Semana

Foto: Getty Images

Talvez todas as pessoas já tenham ido, visto ou ouvido falar de artistas que ingressam na "carreira" de DJ. Eu mesmo já toquei com alguns e confesso que foi a visão do inferno. Naqueles momentos, ouvi sons estranhos que dificilmente alguma pessoa na face da terra conseguiria repetir.

O mais engraçado foi ver a casa lotada de pessoas que imaginavam um artista tocando e agitando a galera quando, na verdade, o que ele fez foi o verdadeiro samba do crioulo doido com as músicas que ele me pedia.

Infelizmente, essas situações ridículas ainda acontecem. Muitos artistas, principalmente da Rede Globo, se aventuram por esses caminhos, a maioria sem sucesso. Claro que existe o lado da curiosidade em conhecer a vida de DJ, sentir o que ele sente e participar de uma super festa com a pista bombando. Mas a distância entre a curiosidade e o profissionalismo é muito grande. Mesmo sendo artista, tendo conhecimento e gostando de músicas, não se faz um DJ da noite para o dia.

No mesmo dia, li duas notícias em um desses canais importantes da internet em que uma das antigas paquitas da Xuxa iria estrear como DJ numa noite. Reparei bem na foto e as unhas da figura eram maiores do que as pontas dos dedos, e ela estava com as mãos em cima dos vinis. Em Pick Ups, alguém pode imaginar como seria tocar com unhas enormes no sistema de vinil que exige sensibilidade?

Na outra notícia, o ganhador do BBB 2009 iniciaria sua carreira de DJ, tocando junto com percursionistas que mixariam percussões de músicas estilo MPB famosas com vertentes eletrônicas. A percussão com vertentes eletrônicas já existe e essas apresentações são feitas em várias partes do mundo, mas agregar MPB, se estivermos falando a mesma língua, os amantes de Djavan, Gilberto Gil e companhia irão pegar os caras de pau ao final do show.

Muitas vezes, nada acontece e essas notícias só aparecem para manter as figurinhas na mídia. Mas, infelizmente, quando acontece de eles realmente atuarem como "tocadores de músicas", o estrago é bastante grande. A visão é a de que o artista incorporou Moisés, bateu seu cajado na pista e abriu um buraco. O DJ residente tenta incorporar Deus para fazer o milagre da pista voltar ao normal, mas, às vezes, até ele está de saco cheio de resolver essas encrencas.

Eu sempre quis ser médico. Será que se eu resolvesse abrir um consultório e começasse a atender pacientes alguém reclamaria? Com certeza, eu seria preso.

No caso dos artistas serem DJs, eles vendem ingressos. Mas o culpado por essas coisas são somente os próprios DJs, que permitem que isso aconteça, por medo ou incompetência. O que poderiam fazer são leis que proíbam essas ações, legalizando a profissão de DJ. Isso seria um passo importante para acabar com essa bagunça.

Apesar disso, ninguém se preocupa em legalizar esta profissão e, às vezes, pessoas se aproveitam desta posição para conseguir vantagens momentâneas. O artista quer aparecer e o dono da casa noturna quer ganhar dinheiro. O DJ se faz de coitado e se esconde em algum canto enquanto as caixas são bombardeadas por centenas ou milhares de batidas desordenadas.

A história não mente e vários artistas se deram mal nessa atividade. Não vou dar o gostinho de citar nomes. Apenas aconselho que aprendam a tocar em um bom curso e bombarem a pista.

Como já disse em outras matérias, o DJ tem um dom, nasce com ele, igual ao artista. Mas entre ter um dom e achar que possui esse dom existe uma diferença muito grande, e isto se reflete no sucesso ou fracasso de uma pista.

Sejamos coerentes e fiquemos cada um no seu quadrad

Atualizado em 6 Set 2011.