Guia da Semana

Foto: Sxc.hu

Na década de 90 decidi aprender a encaixar músicas como os DJs da antiga Nova FM. Uma das primeiras regras que fiquei sabendo - e talvez a mais importante da época - foi que os DJs devem ter conhecimento, técnica, desenvoltura e, acima de tudo, agradar a pista que estão animando. Com essa idéia na cabeça, eles levavam centenas e até milhares de raríssimos vinis (ou bolachões) para festas únicas.

Era um verdadeiro teste de resistência tirar e colocar discos a festa inteira, muitas vezes durante 10 horas diretas. Sempre faltava alguma música que a rádio tocava e que era difícil de conseguir. Poucos DJs dessa época ganhavam cachês legais, mas a maioria estava tocando porque gostava. As contas eram pagas com outros recursos - quase todos trabalhavam de dia e tocavam à noite.

Esses mestres da improvisação tinham como idéia principal bombar a pista a qualquer custo, torcendo o nariz para algumas músicas ou entrando em êxtase com outras. A imagem deles era de DJ Ecléticos. Tocavam de tudo mesmo, fosse bom ou ruim. Os caras sempre tinham o que estava no auge e existia uma certa magia nas performances entre cada estilo.

Mas, atualmente, os DJs ecléticos fazem uma salada musical, muitas vezes sem técnica e atropelando estilos de música. Esses DJs começaram a aparecer em meados da década de 90 pra cá e sem êxito na mistura, muitos migraram para um outro estilo de discotecagem.

Do meio da década de 90, até o inicio de 2000, surgiu uma palavra vinda da Europa:

Segmento

Muitos DJs começaram a pregar essa palavra como religião e passar um para o outro, como uma epidemia. Eu já sofri este assédio dezenas de vezes e me lembro, até hoje, que um dos primeiros DJs do grupo O Rappa me disse que se eu não seguisse um segmento, não iria muito longe. Isso, então, começou a martelar muitos DJs, produtores, donos de casas noturnas, promoters e os famosos Baba-Ovos.

Mas o significado da palavra é muito simples:

Segmento é o ato de escolher um caminho a seguir. No caso da música eletrônica, se o DJ gosta de Trance ele vai tocar Trance a vida toda, mesmo se a festa que o contratou seja de Funk. Imagine a cena.

Então, seguindo a idéia do segmento, se você quer fazer uma festa para muitos gostos, terá que contratar muitos DJs, porque cada um toca um estilo e não se intromete no outro. Sendo assim, sua festa eclética, com cinco estilos diferentes, com média de cachês de R$ 400 por DJ, gastará R$ 2 mil apenas em profissionais. Muitos organizadores optam por isso, pois o motivo principal é que cada vez mais os DJs estão se segmentando. Está difícil entrar um único profissional que consiga agradar a todos os presentes numa festa.

Os segmentados defendem que tocam melhor que os ecléticos, porque possuem estilos próprios. Mas, com a internet aberta, ficou muito mais fácil conseguir os materiais específicos e virou um "cada um por si e Deus por todos".

O profissional segmentado nunca toca mais de quatro horas. Chega um momento em que a galera começa a conversar e o esquece, devido a falta de novidades na rotina de músicas apresentadas.

Com a evolução tecnológica, muitas vezes o cara da pista acha que o DJ está arregaçando, quando na verdade, ele gravou um set mixado e se faz de ´Robert´ para aparecer (ou está com um papelzinho trazendo a sequência a ser tocada). Pode parecer um absurdo, mas muitos DJs de rádio fazem isso e, infelizmente, tiram o lugar de profissionais comprometidos e talentosos.

A idéia principal de um Segmentado é a de que um DJ é um artista, como o Skank ou Jota Quest, porque ele assistiu a um vídeo do Tiesto ou do Fatboy Slim. Os caras estavam numa megaprodução, mas ninguém se ligou do que vinha antes e depois deles tocarem. Ou seja, o marketing deles atingiu os aspirantes a artistas direitinho. Será que Tiesto e Fatboy Slim tocam esse estilo desde que começaram? Claro que não. O conhecimento deles é muito mais amplo do que a maioria dos DJs brasileiros. Afinal de contas, o DJ é aquele que tem a técnica ou aquele que faz a pista?

O DJ segmentado não precisa ter "Electro House" tatuado na testa. Ele pode ser um estudioso da música, saber de onde vem o segmento dele, respeitar a Dance Music desde o começo. Respeitar os DJs mais antigos, músicas dos anos 70 e 80, saber de onde vem as bases das produções (e usar isso para a carreira) é uma decisão sábia.

Infelizmente, na maioria dos cursos de DJ do Brasil, você paga para encaixar batidas. A maioria dos futuros DJs respondem que a primeira coisa que eles querem tocar quando saírem dali é "Psy" e "Electro", mesmo não tendo a menor idéia do que seriam essas vertentes.

Acredito que os melhores DJs são os segmentados ecléticos.

Dei um nó na sua cabeça? Calma, vou esclarecer: O DJ segmentado eclético é aquele que toca para a pista, seja como for, onde for e esquece ele próprio. Na pista segmentada, o DJ faz a parte eclética com o conhecimento adquirido.Tire suas conclusões e escolha seus profissionais.

Quem é o colunista: DJ há 18 anos, produtor musical há três anos, divulgador de musicas para rádios desde 1997.

O que faz: DJ, produtor de música eletrônica e empresário do ramo de Rádio.

Pecado gastronômico: Lasanha e Pavê de Sonho de Valsa.

Melhor lugar do Brasil: Meu estúdio de produção musical.

O que está ouvindo no carro, iPod ou mp3: Musica eletrônica e diversos outros estilos que contenham letras bacanas e melodias.

Fale com ele: [email protected] ou acesse o site da Radio Giga!

Atualizado em 6 Set 2011.