Guia da Semana

aFoto: Getty Images


Cada vez mais, a "profissão" DJ aparece em todos os campos no Brasil. Como se não bastasse a quantidade incrível de pessoas que se formam como DJs todos os meses e não sabem 30% do que é necessário, inúmeras reportagens são colocadas em jornais, revistas e internet - sendo que a grande maioria delas são matérias pagas - e falam de artistas, jogadores de futebol, BBBs e até mesmo ex-fazendeiros (aquelas pessoas do reality show da TV ).


Atualmente, não é difícil encontrar artigos sobre artistas falidos, esquecidos, jogados em algum canto, com muito tempo livre e prontos para usar sua imagem para aparecer em outras áreas, mas, ultimamente, a coisa está saindo do controle. Em vários lugares acontecem festas que usam a imagem dos "artistas" para chamar público.


Ao contrário do que muitos pensam, essa tática de levá-los para tocar em festas não é recente. Isso já vem de muitos anos atrás - creio que desde o início da década de 90, ou até antes. Mas o estouro aconteceu mesmo quando Malhação foi ao ar. Depois de alguns meses, Dado Dolabella e Rodrigo Santoro já faziam pose de DJs enquanto nossos colegas faziam apoios, executando as mixagens ou fazendo exatamente aquilo que mandassem a ele. Quando acabava a apresentação, o mesmo DJ tentava levantar a pista depois do furacão de fãs, embaladas pelo péssimo gosto do artista, que levava embora toda a vibe da casa.

Hoje, mais do que nunca, o importante não é mais o DJ estudioso da música. Muitas agências de DJs concordam com isso, investem tempo e marketing em um produto da mídia que é momentâneo, mas que leva a credibilidade pelo que vale financeiramente, como um produto que tem prazo de validade e, muitas vezes, por ser um total charlatanismo, como se fosse qualquer pessoa da pista que tivesse subido na cabine para assumir o lugar do DJ profissional.

De uma forma mais radical, a maioria dos profissionais diz que a noite está prostituída, e se transformou em um completo circo de inexperiência e aparência. A pessoa que é DJ não é somente aquela que gosta de músicas. Um bom profissional é, além de alegre e carismático, um músico que sabe exatamente o que deve ser feito para comandar a pista.


Esta semana assisti ao ótimo documentário Introduzindo o Drum `N` Bass no Brasil, em que Patife, Marky Marky, Coloral, entre outros ícones DJs do Brasil, que muitos nem sabem o significado desses caras para a cena que eles trabalham, falavam da relação do DJ com a música e a dificuldade das pessoas assumirem os DJs como músicos. Mesmo dentro da ordem dos músicos não são reconhecidos, o que os deixa muito distante da profissionalização e exclui todos os DJs de qualquer reconhecimento.

Ora, se não somos técnicos, músicos, artistas, o que somos? Por que tantos querem ser DJs se ninguém reconhece o trabalho? Por que a alegria de ver a pista bombando ficou de lado para ser substituída por imagem e dinheiro? Muitas perguntas permanecem sem resposta, mas o DJ brasileiro está realmente sendo banalizado pelas situações "fakes" que são mostradas em todo o mundo.

Até mesmo DJs famosos, com nomes reconhecidos, divulgam falsas turnês, tiram fotos com profissionais gringos e dizem que tocaram na casa X, Y ou Z. Uma vergonha que, no meu ponto de vista, explica o porquê da Skol Sensation White deste ano no Brasil não haver nenhum DJ brasileiro. Isso mesmo: uma festa no Brasil sem DJ brasileiro.


As discussões sobre este assunto estão pipocando nas redes sociais e crescendo a cada dia. Os DJs estão começando a perceber que a culpa disso tudo é somente deles, que servem de apoio (o famoso "papagaio de pirata") para pessoas que não têm o menor jeito para ser DJs, mas que trazem público e dinheiro para a casa que contrata. Na verdade, isso é um tiro no pé, porque a consequência da noite do artista se reflete na noite ou semana seguinte.


As noites brasileiras estão sendo tomadas por "produtos de marketing" que não levam a vibe para as festas. Alguém aí lembra da palavra dançar? Hoje ninguém diz "Eu vou dançar muito na balada X". As pessoas dizem "Hoje eu vou ver o fulano da novela Y tocar na balada X" ou "Vou até a balada Z ver o DJ X tocar".

Parece que não existe mais a vibe que existia antes. Hoje, o que dá dinheiro é o chamado "house copo", aquele que a pessoa faz passos para esquerda e direita com o copo de vodca e energético na mão. Esta é uma transformação que acontece, devido a muitos fatores, principalmente à tecnologia que facilita as pessoas serem DJs.


Mas, no meu modo de ver, o único culpado de uma noite catastrófica é o próprio DJ. Ele não é somente o comandante da cabine ou da pista: ele também deve opinar sobre o que e quem entra na cabine para tocar, mesmo que isso custe o seu emprego. Aquele papo que há lugar para todos na noite e que os bons ficam e os ruins somem não pode ser mais levado dessa forma. Assim, teremos mais profissionais ruins do que bons.

Dessa forma, a ruindade será regra e os bons ficarão desempregados. É muito simples ver isso, só prestar atenção na quantidade de baladas boas que existiam antes e quantas existem agora - e, principalmente, quanto tempo dura uma boa balada. DJ bom é o "artista" que estuda o comportamento, o músico que tem o bom gosto e a pessoa que tem caráter e o carisma de contagiar por onde passa.

Leia as colunas anteriores do DJ Fabio Reder:

Chega o dia da Parada Gay

Fones de ouvido

Falidos viram DJs

Quem é o colunista: DJ há 18 anos, produtor musical há três anos, divulgador de músicas para rádios desde 1997.

O que faz: DJ, produtor de música eletrônica e empresário do ramo de rádio.

Pecado gastronômico: Lasanha e pavê de Sonho de Valsa.

Melhor lugar do Brasil: Meu estúdio de produção musical.

O que está ouvindo no carro, iPod ou mp3: Música eletrônica e diversos outros estilos que contenham letras bacanas e melodias.

Fale com ele: [email protected] ou acesse o site do colunista.


Atualizado em 1 Dez 2011.