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Há poucos dias de promover a sétima edição de aniversário da Circuito, a equipe da tradicional festa de techno da cidade comunicou à imprensa que o evento não será mais open air. O motivo é recorrente: falta de alvará. Embora ainda não confirmada, a comemoração, que aconteceria na Magic City, um parque aquático em Suzano, será provavelmente deslocada para a pistona da Clash, casa onde fixou residência.
Um desperdício de line-up se isso não ocorrer. Magal, Snoop, Propulse, Mau Mau e Mara Bruiser, representantes da cena techno brasileira, se revezariam nos picapes das 8h às 18h. Headliner da edição, o projeto Sino Live!, de Renato Cohen e Charles Siegling, do Technasia, faria sua estréia na noite. Enquanto espera-se por boas notícias, confira a entrevista do Guia da Semana com a metade brasileira dessa parceria techno.
Guia da Semana Na edição de aniversário da Circuito você vai fazer uma parceria inédita com o Siegling, do Technasia. Como surgiu a idéia de tocar junto e como vai ser essa apresentação?
Renato Cohen: Essa parceria, na verdade, já existe faz tempo. Conheci o Charles em 1999 ou 2000, quando ele veio tocar por aqui pela primeira vez. Desde lá tocamos algumas vezes na mesma festa, tanto no Brasil como lá na Europa, e, sem querer, começamos a trabalhar juntos. Ele tem me ajudado a mixar o meu próximo álbum, que será lançado pelo selo dele, o Sino. No dia da festa, faremos um live: mixaremos músicas minhas e deles, sempre inventando alguma coisa ali na hora, ao vivo.
GDS Quando sai seu novo álbum?
O 16 Billion Drum Picks está previsto para sair lá pelo começo de setembro. São 14 faixas e tem um pouco de tudo que eu gosto. Techno para pista, trabalho com músicos, tem muita coisa para DJ mesmo, está bem variado...
GDS Por falar em techno para pista, você não se incomoda com a galera que chama qualquer música eletrônica de techno ou qualquer balada de technera?
Não me incomodo com isso não (risos). Para mim pouco importa o rótulo. Brasileiro tem mania de querer botar nome, imprensa também. Sei que é para tentar explicar melhor e tal, mas tento fugir disso. Mesmo porque o techno é tão abrangente quanto o rock. No rock você tem uma infinidade de vertentes, desde heavy metal a pop rock. O que vale é a intenção do techno. O que me prende a ele é o groove e ao mesmo tempo a força que ele tem, aquela batida 4X4, como descrevem. Gosto de tudo que tem groove. É música feita para dançar.
GDS O que você tem achado da cena eletrônica brasileira?
Em São Paulo ela é boa. No Brasil, em geral, acho que ela deu uma decaída. Parece que está tudo muito comercial. Aqui na capital a cena é mais consistente, as pessoas sabem do que gostam, têm referência sobre música. Os clubs de São Paulo são muito bons também. Adoro A Loca, o Clash, onde toco sempre. Acho que é a casa que mais gosto hoje em dia, tem muito o espírito dos tempos de Lov.e.
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"Meu IPod" Top 10 1 Herbie Hancock - Head Hunters 2 Makossa & Megablast - Kunuaka 3 Soil & "Pimp" Sessions - Summer Goddess 4 Hermeto Pascoal - Montreux Jazz (1979) 5 Cinematic Orchestra - Ma Fleur 6 Shawn Lee´s Ping Pong Orchestra - Voices And Choices 7 Nigeria Disco Funk Special: Sound of underground Lagos dancefloor 1974-79 8 Damn - Youth Style 9 Me & You - Floating Heavy 10 Flying Lotus - Los Angeles |
GDS Há alguns anos era mais comum ter festas open air de techno. Os problemas que ocorreram com as raves e a conseqüente burocratização com esquemas de alvará têm prejudicado isso?
Antigamente a gente fazia festa nesses lugares maiores, abertos e afastados para ninguém encher o saco por causa do som. Mas eu acredito que quando elas eram mais freqüentes as pessoas iam pela festa, não pela música em si. A burocratização atrapalha sim, como atrapalhou essa edição da Circuito, mas eu prefiro os clubes, porque a acústica é melhor.
GDS Você, que fica mais na Europa do que aqui, conte o que as pessoas têm falado da música brasileira por lá.
Os europeus não conhecem só os clássicos, como Chico Buarque. A Internet facilitou o acesso às coisas menores, menos conhecidas. Em relação à música eletrônica eles não sabem muita coisa do Brasil, porque nosso país não tem cena, é tudo muito comercial. Do techno, além de mim, eles falam do Murphy e do Pet Duo, que está fazendo carreira lá. De outros estilos não sei muito, por é difícil quem curte techno ir em festa drum´n´bass, por exemplo. Mas Marky e Patife também são nomes fortes.
GDS Que estilo de música você não tocaria de jeito nenhum?
Electro house. Para mim é o fim da linha, porque soma tudo o que há de pior possível da dance music desde os anos 90 com o pior do eletrônico comercial que já existiu. É o tipo de música mais sem alma que eu já ouvi na vida, música morta. Prefiro até tocar axé. Costumo dizer que electro house é como a Jovem Guarda para a MPB. Rolou uma popularização muito grande para atingir a massa. Não tem como um estilo durar 15, 20 anos sem decair na qualidade.
GDS O que faz Renato Cohen fora dos picapes?
Eu fico em estúdio o dia inteiro, produzindo música. Não acredito em inspiração, acredito em trabalho todo dia. Com esforço e trabalho contínuo a gente consegue bons resultados. Nos tempos livres prefiro evitar os clubs, gosto de curtir música mais orgânica, um jazz, funky. Há um tempo, antes de ir pra Europa, eu ia muito no Geni, ver o Bocato tocar.
Alvará é negado e Circuito cancela festa "Caros amigos, É com tristeza que anunciamos que o Corpo de Bombeiros da cidade de Suzano, onde se realizaria, no dia 29 de junho, a festa Circuito 7 Anos, não expediu o Auto de Vistoria necessário para a liberação do alvará para o evento. Depois de inúmeras tentativas junto aos órgãos competentes, e mesmo garantindo cumprir todas as exigências de segurança, a Circuito não foi capaz de conseguir a liberação da festa. Dessa forma, é com tristeza que anunciamos que a festa Circuito 7 Anos não será mais realizada. A Circuito não realiza eventos sem alvará e não vai fazer festa na ilegalidade. Todos os ingressos comprados serão integralmente devolvidos nos postos de venda onde foram adquiridos. As pessoas que fizeram reservas na pousada Magic City também terão seus depósitos devolvidos integralmente. Pedimos desculpas ao nosso público. A Circuito lamenta o episódio e lamenta também a dificuldade imposta pelos órgãos competentes para a realização de festas de música eletrônica. Depois da Fazenda Arujabel (Arujá) e do Lago (São Bernardo do Campo), o Magic City é mais um local onde, dificilmente, festas voltarão a ser realizadas. Atenciosamente, Staff Circuito" |
Atualizado em 6 Set 2011.