Somos formigas operárias que marcham infalíveis e determinadas, que constróem o tempo e erguem a civilização, pertencentes a uma massa monolítica, homogênea, que agrega, unifica e padroniza. Como resistir à vontade da massa? Somente através da busca pela identidade. E é isso que nós, habitantes das grandes cidades, costumamos fazer. Resistir à feiúra do "nós" pelas cores do "eu".
O tempo passa e a sociedade urbana inventa e reinventa as noções de identidade, que em muito estão associadas ao perfil de consumo e ao comportamento do consumidor. É como se as peças que constituem a nossa identidade estivessem à disposição nas prateleiras dos mercados da vida. Divagações existenciais à parte e deixando de lado a tensão entre a massa e o indivíduo, vamos falar sobre um ser que vem invadindo a cidade e se multiplicando rapidamente. Mais um desses tantos estereótipos, inventados em escala industrial. Essa criatura é o "tiozão". Sim, aquele da balada, aquele dia. Lembra? Se jogando, bombando na pista...
Esses jovens tardios quase chegando aos 40 - e passando deles - geralmente ou obtiveram um prematuro sucesso profissional, ou são herdeiros que tem como profissão simplesmente viver como herdeiro. Muitos são divorciados e têm filhos. Outros tiveram mães ex-hippies que os incentivaram a se casar muito depois dos 30. Adoram a balada e não poupam esforços para chamar a atenção das meninas mais novas. Pagam para ter os melhores camarotes, têm em suas mesas garrafas de champagne, chamam o garçom pelo nome e o enchem de tapinhas na cara carinhosos. Têm orgasmos múltiplos e coletivos quando o dono da balada ou alguém importante na hierarquia da noite vem até eles.
Ao contrário dos barrigudos e tomadores de uísque das décadas passadas, os tiozões de hoje cuidam do corpo e rivalizam com o grupo dos "vinte e poucos" na hora de inflar o peito e brigar pelas fêmeas. Buscam se vestir replicando os catálogos das lojas de marcas eminentes e seus sapatênis geralmente são brancos. Comumente, se destacam na hora em que o DJ vai "bombar" a pista. Seus rostos são tomados por expressões de êxtase e vem à tona a fina mistura da dança-do-pai-bêbado-em-churrasco com a dança do maquinista, aquela dos socos e das puxadas no ar.
O tiozão vive os últimos dias da promessa hedonistas do gozo definitivo, são os últimos gritos de prazer antes que o tempo mostre sua força inexorável. É um errante eufórico e deslumbrado, um garoto extemporâneo, descendentes dos yuppies de Manhattan e primo distante do arcaico solteirão.
O exército dos tiozões é cada vez maior. A triste notícia é que a nossa festa não acaba antes dos 40.
Sim, a nossa festa.
Quem vos fala é um futuro tiozão.
Quem é o colunista: Ibrahim Estephan
O que faz: Cursa administração de empresas
Pecado gastronômico: Double Whooper (oito queijos, carne extra) às 7 da manhã
Melhor lugar de São Paulo: Minha casa
Fale com ele: [email protected]
Atualizado em 6 Set 2011.