Diante dos altos índices de violência noturna em grandes capitais do país, cresce a procura por serviços alternativos de transporte para levar jovens a festas. Comodidade, conforto e principalmente segurança são os atrativos que motivam a procura por esse tipo de serviço. O sono dos pais passa a ser tranqüilo e principalmente duradouro, sem aquele incômodo telefonema pela madrugada: "Pai, vem me buscar!".
Já entre os jovens, não há aquele medo de beber um pouco a mais e voltar dirigindo ou até mesmo arriscar a vida no carro daquele amigo que bebe todas e, além do mais, é sua única carona. Os mais interessados, os motoristas de vans e taxistas, vêem na atividade uma oportunidade de aumentar a renda significativamente.
Para o motorista de van, Carlos Eduardo Corrêa, 42 anos, o serviço surgiu quando os jovens do prédio onde mora sua mulher, no bairro São Judas, em São Paulo, incentivaram para que ele os levasse às festas. Durante a semana, o motorista trabalha para uma emissora de TV e em eventos diversos. Segundo ele, ainda que não seja sua principal fonte de renda, a atividade virou rotina aos fins de semana. Raves e baladas são os eventos que mais geram procura.
Rumo à rave
Noite fria de sábado nos arredores do metrô São Judas. Da estação, surgem jovens trajando jeans, bonés, jaquetas e camisetas largas. Nas costas, as mochilas; nas mãos de alguns, garrafas de vinho e vodca. Ali é o local combinado para encontrar Carlos Eduardo. O destino da noite é a rave no Estância Alto da Serra, em São Bernardo do Campo, ABC paulista. Cada passageiro desenbolsa R$ 25,00 pelo serviço.
Fernanda segura os remédios |
Se comodidade e segurança são consenso entre os usuários do serviço, é exatamente a despreocupação em não voltar por conta própria que estimula o abuso do álcool e, por vezes, de drogas ilícitas. Dentro da van, garrafas passam de mão em mão no famoso "esquenta". Eduardo comenta que as abordagens policiais são freqüentes. "Eles revistam todas as mochilas do pessoal. Eu nunca tive problemas. A gente sabe que um ou outro bebe e usa outras coisas, mas dentro da minha van nunca aconteceu".
Já um colega de profissão de Eduardo não teve a mesma sorte. "Um amigo meu (optou por não mencionar o nome) foi parado pela polícia. Quando já estavam terminando de revistar o pessoal, um cara no fundo da van acendeu um cigarro de maconha". Resultado: a van e todos que nela estavam só foram liberados no dia seguinte, quando o policial teve certeza de que a rave já havia acabado.
A animação já começa dentro da van |
Entregues à festa, todos se despedem de Eduardo. O reencontro está marcado somente para o final da tarde do dia seguinte, ao final da rave. Conforme relata o motorista, comumente voltam exaustos e dormem a viagem toda. Dias mais tarde, de baterias recarregadas, voltarão à estação São Judas para mais uma viagem cujo destino cada passageiro escolherá: o divertimento responsável ou a irresponsabilidade desmedida.
O empreendedor
Dodô e seu táxi - iniciativa que deu certo |
Com a Madrugada Viva, cresceu a clientela do taxista Douglas Tonon Ricardo, 36 anos, o Dodô. Em uma iniciativa ousada, Dodô criou há dois anos o site Táxi Dodô Baladas. Com cerca de 3 mil acessos mensais, o site apresenta programação das principais baladas e shows do Espírito Santo e oferece, é claro, o serviço de transporte 24 horas aos baladeiros de plantão. Quem se cadastra, obtém até 20% de desconto nas corridas.
"A clientela é variada, mas são principalmente os jovens que procuram", afirma. Em virtude da grande demanda, Dodô terceirizou parte do serviço ao firmar uma parceria com mais 40 taxistas. Cada um deles paga a Dodô uma porcentagem do valor da corrida. Até R$100,00, o valor é de R$1,50; acima de R$100,00, a cota é de 10%. Para incrementar o serviço e atrair ainda mais clientes, o taxista empreendedor formou uma equipe de quatro fotógrafos que saem às festas à procura de boas imagens para postá-las no site.
O negócio cresce a cada dia e o que começou como um site, será uma empresa ainda este ano, segundo Dodô. "Já perdi algumas parcerias de anunciantes porque não tenho uma empresa. Este ano, se tudo der certo, o Táxi Dodô vai se tornar uma empresa".
Realidade Alarmante Direção e abuso de álcool por parte dos jovens é uma combinação amarga. Este ano, a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia divulgou uma pesquisa na qual foram entrevistados 1000 universitários de São Paulo e Rio de Janeiro. Os resultados são alarmantes: - 31% dos entrevistados admitiram ir e voltar dirigindo das baladas mesmo que tenham bebido, ainda que pouco. - 18% confessam que mesmo tendo bebido em grande quantidade, voltam da balada ao volante. - 36% dos jovens já teve alguém do grupo envolvido em colisão de trânsito relacionada ao uso do álcool. Estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que 3 entre 10 motoristas brasileiros ingerem álcool antes de dirigir. A maior parcela é composta por jovens. Entre os mais de 4000 motoristas submetidos ao teste do bafômetro em cinco capitais brasileiras, 19,3% estavam com níveis de álcool acima do permitido pela lei. A capital com maior índice é Vitória, com 41,6 %. |
Fotos: Gabriel Oliveira
Atualizado em 6 Set 2011.