Guia da Semana

A Rua Augusta, o Largo do Arouche e o Vale do Anhangabaú são alguns dos lugares que, na década de 90, por exemplo, nunca iam passar pela cabeça de um empresário interessado em uma área para abrir uma casa noturna. O Centro sempre foi, para a grande maioria, um antro de marginalidade, forrado de prostitutas, usuários de drogas, sem-tetos e criminosos. Porém, graças a investidores privados e aos incentivos da prefeitura, algumas áreas da região ganharam outra cara. Hoje em dia, badalar no Centrão é ser "cool". E quanto mais fundo o buraco que a pessoa descobrir, mais "cool" ela se torna.

A vista da janela da sala de Fernando de Souza
Foto: Fernando de Souza.


No entanto, só quem mora ou tem um contato maior com o perímetro é que sabe do mundo de "dores e delícias" em que vivem seus habitantes. Da janela de seu apartamento na Rua dos Andradas, no bairro de Santa Efigênia, Fernando de Souza consegue avistar a Sala São Paulo, a Pinacoteca do Estado e o Museu da Língua Portuguesa. Ele também ouve frequentemente as canções entoadas pelos alunos da Universidade Livre de Música. Porém, se quiser se locomover até qualquer um destes lugares durante a noite, ao invés de caminhar alguns quarteirões, terá de ir de táxi. " É estranha a sensação de morar em um bairro onde existe um toque de recolher não declarado", afirma.

A região em que Fernando mora é popularmente conhecida como "cracolândia". O nome está na ponta da língua não só dos paulistanos, como de todos os brasileiros. Reportagens sobre crianças fumando pedras de crack sem a menor discrição são tratadas como assunto corriqueiro nos telejornais de todas as emissoras de TV. Durante o dia, o local atrai os amantes da tecnologia barata, principalmente a automotiva. Esse tipo de comércio, aliás, é um dos ganchos utilizados pela Prefeitura de São Paulo para colocar em prática o Projeto de Intervenção Urbanística da Nova Luz.

A idéia começou a ser desenvolvida em 2005, na época da gestão de José Serra, do PSDB. O então prefeito aprovou uma lei que viabiliza a concessão de benefícios fiscais às empresas interessadas a investir na região. Agora, dois anos depois, o burburinho e as atividades práticas tornaram-se mais freqüentes e visíveis. Basicamente, o projeto consiste em transformar a região em um pólo tecnológico, restaurar os edifícios históricos e os espaços públicos e construir novas possibilidades de habitação destinadas à classe média. Para que isso se dê de maneira efetiva, a Prefeitura já realizou algumas ações.

Recentemente, o órgão, junto com a subprefeitura da Sé, promoveu operações de "limpeza" no local, retirando sem-tetos das ruas e tentando inibir as atividades ilegais. A última notícia oficial foi a de um leilão envolvendo a construtora Odebrecht e a incorporadora imobiliária Company S.A.. As empresas disputam uma área de 103 mil metros quadrados que será desapropriada.

Foto: Fernando de Souza
A maior reclamação dos moradores tem sido sobre a questão da desapropriação de alguns imóveis. " Tudo o que sabemos até o momento é o que aparece nas matérias publicadas em jornais", diz Fernando. Ele alega não conhecer ninguém que foi comunicado oficialmente sobre a possibilidade de ter seu apartamento ou casa incluído na lista dos que estão no espaços de "utilidade pública" designado pela Prefeitura. Já Rosi Carmona, assessora de gabinete da subprefeitura da Sé, garante que tudo está sendo feito da maneira correta. " Quem quiser mais informações, pode ligar aqui que esclarecemos tudo o que for possível", afirma.

O fato é que algumas áreas realmente serão desapropriadas. Segundo o secretário das Subprefeituras Andrea Matarazzo informou à Folha de S. Paulo, em matéria publicada em 19 de maio deste ano, esse processo deve começar em até seis meses. Os proprietários serão notificados e podem entrar com ação na justiça caso não concordem com o valor oferecido, que normalmente é o venal, o que isenta o pagamento de possíveis investimentos feitos nos locais, como reformas e melhorias de um modo geral.

Se tudo correr como planejado, as construções na área devem começar em 2008 e Fernando, amante fervoroso do Centro, provavelmente não terá mais a vista de alguns dos principais pontos culturais de São Paulo da janela de sua sala de estar.


Para saber mais informações sobre o projeto e as desapropriações, basta entrar em contato com algum dos órgãos envolvidos:

? Subprefeitura Sé
End.: Avenida do Estado, 900.
Tel.: 3329-8200.
Acesse o site.

? EMURB
End.: Rua São Bento, 405 - 10º, 15º e 16º andar.
Tel.: 3242-2622.
Acesse o site.



Outra história do Centro

Um dos investimentos de Mafra, o Bar D´Hotel Cambridge
Foto: Divulgação.


Francisco Mafra Filho foi um dos pioneiros a apostar no potencial cultural e de entretenimento do Centro de Sampa. Seu primeiro estabelecimento no local foi inaugurado em 16 de abril de 2000. De cara, já começou com um clássico: o Bar D´Hotel Cambridge. Localizada na Nove de Julho, próxima ao Terminal Bandeira, a casa começou a atrair modernos e saudosistas, que ali passaram a promover os mais variados tipos de festa. A região, quase que abandonada na época, contrastava com o luxo decadente das dependências do antigo hotel. A combinação kitsch agradou e hoje Mafra também é proprietário do Picasso Bar, Tarsila Bar e Restaurante, Portinari Bar e, em breve, deve abrir o Salvador Dali, todos no mesmo prédio.

Morador da região, Mafra optou pelo Centro para situar seus empreendimentos de maneira lógica: " A concorrência era bem menor". Segundo o empresário, não existia vida noturna na época em que abriu o Bar D´Hotel. " A única opção era o Bar Brahma, que ainda por cima fechava cedo, depois não tinha nada", conta. Na época, os baladeiros fizeram sua parte e adotaram de vez as festas como programa favorito. Fácil de entender quando se deixa de gastar horas dentro do carro para atravessar uma curta avenida, como é de praxe na Vila Olímpia, por exemplo. Ou então quando a catraca do metrô fica a poucos metros da porta da casa noturna.

Apesar do investimento no Centro, inclusive na restauração e reforma dos locais onde estão instalados seus bares, danceterias e casas noturnas, Mafra garante que nunca foi procurado pela Prefeitura durante a revitalização da área. No entanto, é evidente que sua iniciativa ajudou no processo, bem como o público que foi cativado pelo charme decadente dessa parte tão peculiar da cidade. Ao que tudo indica, na Nova Luz deve acontecer o inverso: antes a revitalização, depois a vida cultural e noturna. No final das contas, os notívagos agradecem.

Confira outras opções variadas para divertir na região central:

? Amigo Leal: Rua Amaral Gurgel, 165 - Vila Buarque.

? Bar Barão: Rua Barão de Duprat, 561 - Centro.

? Bar Léo: Rua Aurora, 100 - Santa Efigênia.

? Bastidores Bar e Espaço Cultural: Rua Canuto do Val, 97 - Santa Cecília.

? Biroska: Rua Canuto do Val, 9 - Santa Cecília.

? Café Piu Piu: Rua Treze de Maio, 134 - Bela Vista.

? Cantho: Rua do Arouche, 32 - Centro.

? Clube Caravaggio: Rua Álvaro de Carvalho, 40 - Centro.

? Clube Glória: Rua Treze de Maior, 830 - Centro.

? Clube Vegas: Rua Augusta, 765 - Bela Vista.

? Drosophyla: Rua Pedro Taques, 80 - Consolação.

? Espetinho, Cerveja & Cia: Rua Canuto do Val, 41 - Santa Cecília.

? Estadão: Viaduto Nove de Julho, 193 - Anhangabaú.

? Inferno Club: Rua Augusta, 501 - Consolação.

? Madame Satã: Rua Conselheiro Ramalho, 873 - Bela Vista.

? Outs: Rua Augusta, 486 - Consolação.

? Salve Jorge: Praça Antonio Prado, 17 - Centro.

? Sapori Di Rosi: Avenida Ipiranga, 200 - Centro.

? Teatro Mars: Rua João Passalacqua, 80 - Bela Vista.

Atualizado em 1 Dez 2011.