Tradicional no calendário de festivais alternativos e frequentado principalmente por quem gosta de música eletrônica, o Universo Paralello ofereceu, no início de 2010, uma rica programação artística e cultural para todos os gostos. Além de quatro ambientes musicais (Pista Principal, Alternativa, Goa e Chill Out/Palco Paralello), com bandas, produtores e DJs conceituados, era possível encontrar cinema, teatro, exposições fotográficas, galeria de artes plásticas e visuais, circo, arte 3D, além de aulas de meditação, terapias, oficinas e workshops. Para chegar até este verdadeiro "Woodstock eletrônico" era necessário primeiro desembarcar no aeroporto de Salvador, para depois enfrentar mais quatro horas de ônibus.
Uma verdadeira cidade construída em madeira, palha, bambu e tecidos coloridos foi montada com serviços funcionando 24 horas. Este ano, a principal novidade era a localização. Antes o "UP", como é carinhosamente chamado, era realizado na praia de Pratigí, sendo esta sua primeira edição na Ilha d'Ajuda, o que trouxe alguns pontos positivos e negativos.
Positivos pela beleza natural e proximidade do aeroporto de Salvador, negativos em relação a infraestrutura. Mesmo quem chegou no primeiro dia, encontrou o festival já bastante cheio, e teve certa dificuldade para comprar fichas de bebidas e utilizar banheiros e chuveiros.
Bastou uma volta para perceber que determinado "assunto" estava predominando entre público e funcionários: a falta de água. Consequentemente, banheiros e chuveiros tiveram sua manutenção e funcionamento completamente prejudicados.
Muitas pessoas saíram do espaço, já que era permitido voltar, para tomar banho e usar o banheiro na casa de moradores da região. Algo que rapidamente se transformou em novo "serviço" oferecido na portaria do festival.
Enfim, música
Foto: Divulgação
Para chegar até a Pista Principal do Universo Paralello era necessário atravessar todo o festival, uma árdua caminhada na areia fofa sob sol quente. Uma grande arena com lindos tecidos fluorescentes foi montada, sendo o palco principal no formato de uma grande embarcação. A abertura do espaço ficou por conta de uma tribo indígena, que dançou e entoou cânticos tradicionais.
O "main floor" é também o grande ponto de encontro do festival, onde todos se misturam e se divertem. Nele a trilha sonora foi o trance psicodélico, em suas mais variadas vertentes: Psy, Goa, Progressive, Night, Dark, Morning, além do Suomi e Psybreaks. Artistas respeitados internacionalmente fizeram a alegria dos presentes, com destaque para os lives: AKD, Fearsome Engine, Psynema, Liquid Soul, Logica e Aerospace, entre muitos outros.
Antes do réveillon, uma breve pausa na programação musical para a pista receber decoração/produção extra. Tendo em vista o aniversário de 10 anos, a virada foi comandada pelo experiente DJ Swarup, idealizador do Universo Paralello. Junto com a queima de fogos, uma sequência nostálgica e explosiva de tracks que marcaram época no festival manteve a multidão em euforia generalizada. De arrepiar.
Além de um show impecável de laser, seis telões hipnotizaram o público, sendo dois deles em forma de coração, nas laterais do palco. No centro, dentro de uma grande estrutura de madeira trançada, estava um terceiro e grandioso coração vermelho que pulsava. Uma pista digna de grandes festivais internacionais.
Alternativa: a festa dos núcleos
Para quem prefere sonoridades menos viajantes e mais dançantes, a Pista Alternativa foi uma boa pedida. Com uma estrutura esférica de metal no centro, coberta com lycra no teto e uma "varanda" no fundo, estava com ares de verão europeu em Ibiza. A cabine do DJ tinha o formato de um grande fone de ouvido.
Sonoridades do house, techno, electro e vertentes transformaram a "curva da praia" em um verdadeiro club a beira mar. Nesta edição, a programação da Alternativa foi dividida entre importantes núcleos da cena eletrônica nacional. A cada dia, estes coletivos realizavam suas festas particulares no comando do som, entre eles Carambola Records, Tropical Beats, Kraft, Wild Artists, Fiction e outros.
Na opinião do publicitário Matheus Chalita Prado, o DJ Vajrapani, que se apresentou na Alternativa junto com o pessoal da SunDayAway, a confraternização foi positiva. "Acho importante a participação de diversos núcleos, pois abre oportunidade para artistas regionais se lançarem na cena. Houve também um crescimento de som e estrutura da pista em geral, que dividida desta forma atraiu um público maior e diversificado".
Pista Goa
Foto: Divulgação
Pela terceira vez montada no festival, a Pista Goa foi um sucesso. Após a saturação do pejorativamente chamado "psypop" e com o desgaste das grandes festas comercias, começou na cena trance um revival Goa (Índia), com o público que realmente gosta de trance sendo filtrado pelo interesse, com festas menores, porém melhores.
Foi neste clima de resgate às origens e muita música séria, que a Goa embalou os entusiasmados "tranceiros" que por ali passaram. Com bastante sombra e uma praia logo em frente, a riqueza de detalhes na decoração ecologicamente correta surpreendeu a todos. A ideia do palco também merece destaque, com uma Kombi no estilo "furgão hippie" recebeu os artistas.
O Chill Out serviu para recarregar as baterias e aliviar pensamentos. Grupos, DJs, lives e projetos experimentais tiveram seu espaço dentro da eclética programação, que este ano funcionou também como Palco Paralello (bandas).
O local era uma grande bolha de lycra branca, com uma decoração extremamente simples. Um tubo de água formava um intrigante redemoinho dentro, com mangueiras transparentes de águas borbulhantes subindo por um coqueiro central. Quem esteve nas últimas edições do Universo Paralello sentiu falta de um Chill Out melhor e maior.
De volta à civilização
A expectativa com relação ao Universo Paralello é sempre grande, tanto para quem já foi como para quem está indo pela primeira vez. Logo, em se tratando da comemoração dos 10 anos do maior festival alternativo do Brasil, esperava-se a melhor das edições. Infelizmente esta não foi a impressão da maioria.
Superados os imprevistos, o UP continua como uma ótima opção de Réveillon, sempre com música e arte de qualidade, tendo a natureza como pano de fundo. Um evento onde o participante pode escolher entre passar todos os dias na pista de dança, ou deixar-se levar pela extensa programação cultural. Independente da escolha, o resultado é uma liberdade quase mágica, refletida em sorrisos.
Após seis dias acampado na Praia do Garcez, o corpo começa a pedir um pouco de descanso, enquanto a mente organiza um mosaico de lembranças, incluindo a valiosa troca de experiências com pessoas do Brasil e do resto do mundo.
Existem rumores de que a partir de agora o festival passará a ser bienal, porém nada foi confirmado pela organização que, em breve, postará um comunicado sobre a décima edição no site oficial do Universo Paralello.
Atualizado em 6 Set 2011.