Quem achou que Araguaia, a trama das 18h da Globo, fosse ter um quê de Pantanal - sucesso da Manchete que desbancou a Globo em 1990 - se enganou. A atual novela de Walter Negrão em nada lembra a saga de Benedito Ruy Barbosa. Primeiro, porque a história não é uma "saga", mas sim uma trama calcada em misticismo indígena. E, segundo, porque longas tomadas que mostram a paisagem da região retratada funcionavam muito bem às 22h em 1990, mas não seriam bem-recebidas numa trama das seis hoje em dia.
A fotografia de Araguaia, digna de cinema americano, é o que primeiro salta aos olhos. Os stockshots que mostram paisagens ribeirinhas são sabiamente usados para pontuar ou localizar o telespectador na trama. Mas nada além disso, a não ser para dar uma beleza brejeira à novela. Como elemento artístico, funciona muito bem. Os cenários - muito carregados, cheios de objetos - seguem uma tendência das novelas atuais: vitrine para vender coisas na internet. Os figurinos são corretos e condizentes. Enfim, pode-se concluir que a direção artística da novela é o seu ponto alto.
O elenco, muito bem dirigido, é formado por veteranos que garantem a qualidade artística que a novela propõe. Lima Duarte, Laura Cardoso, Eva Wilma, Júlia Lemmertz, Murilo Rosa, Otávio Augusto, Gésio Amadeu, Turíbio Ruiz e Ângelo Antônio são atores tarimbados, que dão crédito à novela. Os novatos com papéis de destaque se sobressaem nas cenas com os veteranos. Em especial, vale ressaltar dois nomes desconhecidos do grande público: Flávia Guedes e Luciana Carnielli, que vivem as empregadas Aspásia e Lurdinha, respectivamente. As atrizes já foram responsáveis por cenas ora hilárias, ora de muita sensibilidade dramática. Prometem.
Na reta final da novela, o experiente Walter Negrão nos mostrou uma história linear, sem grandes sobressaltos, mas também sem barrigas - aquele ponto da trama em que nada acontece. Em princípio, a história sobre uma maldição indígena pouco interesse despertou nos telespectadores. Mas, ao longo do tempo, acabou por chamar a atenção e, com certeza, hoje tem seu público cativo - ainda que a audiência não seja lá essas coisas.
Araguaia é o exemplo de uma novela muito bem dirigida, com um elenco seguro em um texto de qualidade de um autor experiente. Produção caprichada, com os mais altos recursos técnicos e artísticos. Tudo muito bem estruturado para apresentar uma história muito linear. Está longe de ser uma novela ruim. Mas também não é excelente: não inova, não surpreende, não gera buchicho. É uma novela correta. É mais uma novela de Walter Negrão!
Leia as colunas anteriores de Nilson Xavier:
Jaqueline, a alma de Ti-Ti-Ti
A novela que foi sem ter sido
O retorno de O clone. Maktub!
Quem é o colunista: Nilson Xavier.
O que faz: Autor do "Almanaque da Telenovela Brasileira" e criador do site Teledramaturgia.
Pecado Gastronômico: doces e sobremesas.
Melhor lugar do mundo: São Paulo.
O que está ouvindo no carro, mp3, iPod: quase um pouco de quase tudo.
Fale com ele: [email protected]
Atualizado em 10 Abr 2012.