Nesta noite de quarta-feira, o Beco 203, na Rua Augusta, tinha um ar diferente. Enquanto o DJ estalava a música nos ouvidos, pouca gente se mexia, a maioria já posicionada na frente do palco da casa, encarando o céu infinito pintado em tecido e preso na parede. Eram poucas as pessoas que andavam por lá, cumprimentando conhecidos e recalibrando os copos vazios.
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Quando, lá pras 23h começou o burburinho, a banda Fresno subiu no palco e os poucos que ainda não estavam, se juntaram na boca do gol e a casa encheu. Não só de gente, mas daquele sentimento que mistura conhecimento e expectativa.
A promessa era tocar o EP Eu Sou A Maré Viva na íntegra, o que foi executado por dezenas de vozes, já que Lucas Silveira dividiu, em vários momentos, o microfone com o público, transformando o show quase em coletivo. Mas não era só isso que o grupo tinha planejado para a noite. Fazendo um BIS quase maior do que o show, como Lucas brincou, eles tocaram ainda “Diga Parte 2” (do Infinito), “Crocodilia” (do EP Cemitério das Boas Intenções) e trechinhos de antigos sucessos como “Em Cada Poça Dessa Rua Tem Um Pouco de Minhas Lágrimas”, dando um verdadeiro presente aos fãs que acompanham a banda há anos.
A banda Fresno comemora em 2014 quinze anos de existência, já passou por muitas fases, trocou integrantes, repaginou o som, apostou em novidades. Agora, com somente Lucas e Vavo da formação original, e os pernambucanos Thiago Guerra, na bateria, Mario Camelo, no teclado, e Tom Vincentini, no baixo, o flerte que eles vinham tendo com um som mais pesado, sem rótulos e impactante, desde Cemitério das Boas Intenções e Infinito, virou relacionamento sério.
O álbum tem 5 músicas: "À Prova de Balas", "Manifesto", "Eu Sou A Maré Viva", "O Único A Perder" e "Icarus". O single Manifesto conta com participações de Emicida e Lenine, e tem uma mistura de sotaques que só ouvindo para entender (e adorar). Gravado em um sítio na Represa de Igaratá (São José dos Campos), e produzido por Lucas Silveira, já estava na lista dos mais vendidos da iTunes Store antes mesmo de ser lançado, na pré-venda.
"Eu Sou A Maré Viva" é mais uma prova de que desde que a Fresno surgiu, veio para ficar. As letras marcantes, a melodia intensa, o instrumental feito como o rock é para ser (com peso e sem medo) e os vocais característicos de Lucas dão ao EP cara de realização.
Depois de representar a América Latina no EMA da MTV europeia em 2013 com louvor e tocar bastante pelos Estados Unidos este ano, eles voltaram ao Brasil para a turnê de divulgação do EP, que fica muito bonito executado ao vivo (mesmo sem Lenine e Emicida), exatamente porque a banda pareceu não se preocupar com a perfeição mimética e germânica das músicas gravadas, mas por apresentá-las como uma onda, em movimento, levando junto quem estivesse por perto.
Ao fim do show, a banda continuou no palco distribuindo sorrisos e começou o disco set com uma versão de "Manifesto" mixada pelo Modern Dealer, embalando o resto da noite com rock e indie nas pickups.
Por Julia Bueno
Atualizado em 10 Abr 2014.