Ela nasceu Anna Luiza e até lançou dois discos com esse nome. Apesar de parecer numerologia, na verdade uma artista com nome semelhante registrou antes, então adotou seu sobrenome. A carioca estudou violão, canto, piano, percussão e mais um monte de coisas relacionadas à música.
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Com 10 anos de carreira e três discos de estúdio, ela grava seu primeiro DVD, no Teatro Rival, produzido por Roberta Sá, junto com Rodrigo Vidal. O show conta, ainda, com participações especiais de Erasmo Carlos e Lucas Vasconcellos, do Letuce. O Guia da Semana bateu um papo com ela sobre a trajetória e as expectativas. Confira!
De Anna Luisa para Anna Ratto, o que mudou nesses 10 anos de carreira?
10 anos é um tempo significativo. Ao mesmo tempo, não é nada. Voa!... Mas, sei lá. Imagino que todo o artista se perceba como uma pedrinha a ser esculpida. E esse é um processo sem fim... Tem que ser. Se você se acha pronto, de início, verá, provavelmente, depois de 10 anos, que não estava. Porque não há nada que te melhore mais do que o tempo, a repetição, a insistência, o fazer, fazer de novo, e de novo... Deu pra experimentar muito, errar, acertar. Vai rolando uma espécie de "seleção natural", e vai ficando mais fácil entender o que você faz bem.O que tem verdade. E ir descartando o que não é bacana.
Parece fácil e natural, mas é uma análise constante. As escolhas vão clareando. O palco, o próprio canto. A gente vai encontrando uma zona de maior conforto, e isso, naturalmente te leva a uma expressão melhor. Acho que é isso. Vejo um crescimento. E vem muito mais por aí, se Deus quiser! O Ratto foi força de uma circunstância chata naquele momento. Mas que só me fez bem. É meu sobrenome. Mas que mudou de status. Virou nome próprio. Isso mexe, sem querer. Modifica a estrutura, um pouco. Hoje, acho ótimo esse contraste, essa estranheza. Acho forte e, de certa forma, tem refletido, positivamente.
Você foi elogiada por Nelson Motta, que a considera uma das melhores vozes da chamada "nova MPB". A responsabilidade aumenta?
Isso foi numa resenha que ele fez do meu primeiro disco - "Do Zero" - quando ainda apresentava um programa chamado "Sintonia Fina". Foi um susto delicioso, quando li! Claro que a responsabilidade é imensa. Ele é um formador de opinião, dos mais importantes. Sabe tudo de música brasileira. É da geração das nossas cantoras mais exuberantes. Mas também me deu uma sensação maravilhosa de "alívio" e confirmou ou reforçou, de alguma forma, que eu estava caminhando na direção certa... Pelo menos. A gente fica muito à flor da pele, num primeiro trabalho. Ainda pisa em ovos. Foi libertador saber que ele "curtiu"...
A nomenclatura 'MPB' sempre soou meio genérica, devido à pluralidade da nossa cultura. Como você poderia definir o seu som, suas influências?
É sempre uma questão mesmo, essa coisa da definição... Acaba sobrando pra MPB e, ao mesmo tempo, não satisfaz... Nem a quem faz, nem a quem pergunta. Mas é MPB! Claro que é. As minhas influências tem muito de ritmos regionais, como o maracatu, o xote, o baião, o ijexá... Mas também o reggae, o ska, e até o tango... Meu último disco tem arranjos bem mais pops que os dois primeiros, por exemplo. Poderia até ser mesmo considerado um disco pop, no todo.As próprias composições têm essa pegada.
Os outros, mesmo mencionando os ritmos, têm também uma leitura ousada. Longe de ser conservadora. A gente sempre tenta desconstruir isso. Com cuidado, mas tenta. Adoro o tradicional também, mas não é o que eu faço. Tem sempre muitos riffs e solos de guitarra. Mais recentemente, os teclados, hammond e barulhinhos, entraram com força. Adoro barulhinhos!
O que você anda ouvindo por aí? Estamos falando de música...
Tenho ouvido bastante o pessoal mais novo. Que não toca nas rádios, mas tem talento de sobra. O próprio Lucas Vasconcellos, que vai participar com a gente, acaba de lançar um disco lindíssimo! Tenho conhecido melhor e adorado Alice Caymmi. Curto Marcia Castro, Mariana Aydar, João Cavalcanti, Ylana Queiroga, Amarante, Lia Sabugosa, Alexia Bomtempo... Mas sigo escutando, pra sempre: Baby, Gal, Elis, Rita, Cássia, Gil, Caetano, Erasmo, Roberto, Chico, Lenine, Ney, Pedro Luís, Nação Zumbi... etc e tal!
Na gravação do DVD, você dividirá o palco com Erasmo e Lucas Vasconcellos. O que cada um representa pra você e como eles influenciam seu trabalho?
O Erasmo tá sendo um sonho maravilhoso. Ele é dos "monstros sagrados" da nossa música. Gravei “Cachaça Mecânica”, dele e do Roberto Carlos, no segundo disco. Um primor de 1973, que o Rodrigo Vidal (meu produtor musical) me apresentou. Pirei muito!!... E vamos dividí-la "ao vivo". Ele é dos nossos maiores, sem dúvida! Uma obra fantástica. Os lados "B" também são incríveis, além das populares, sempre ótimas. Vale muito pesquisar. Ir lá na década de 70... Aliás, 70 é luxo. Que fase... Vai ser uma celebração! Uma honra ter um registro ao lado de uma preciosidade dessas...
O Lucas é outro talento! Já adorava o "Letuce". E andei vendo outras coisas dele, projetos paralelos e tal. Com Katia B., por exemplo. E chapei com o seu disco novo, autoral, lançado recentemente. Chama "Falo de coração". O título já é demais, de bom. A ideia inicial era chamá-lo pra integrar a banda. Ele traz referências outras. Tem essa onda contemporânea, ousada. Ele topou. Vai estar, portanto, do começo ao fim do show, com sua varinha de condão! Mas não dava pra não puxá-lo pra "frente", em algum momento do show! Um super artista/compositor. E fiquei com muita vontade de cantar “Eu Não Vou Chorar Por Fora” (dele), em duo. Ele curtiu também, e vamos fazer!
Com composições autorais, você também se destaca como intérprete. Qual a diferença, pra você, na sensação de cantar suas músicas e as de outros?
Geralmente, canto canções dos outros que eu não me vejo compondo, mas me sinto dizendo. E quero muito dizer. E pode parecer esquisito mas, muitas vezes, sinto mais facilidade em cantar essas que as minhas. Gravo mais rápido. Visto a carapuça e canto. Flui mais rapidamente... Emperro mais nas minhas. Até ficar de bem total com elas... Leva mais tempo. Talvez por uma auto-exigência, por estar mais exposta, diretamente. Não sei. Mas no fim, elas ficam no mesmo lugar, no mesmo saco. Tudo sou eu. :)
O que o público pode esperar do show? Não vale dizer que é surpresa...
Uma festona! Um "auto-retrato", uma catarse, um resumo do meu trajeto até aqui. Mas nem tão resumido, prometo (risos). Um show enérgico, solar, concebido com muito capricho por uma equipe maravilhosa, cheia de talento e amor. Trabalhar com os amigos é uma dádiva. Roberta Sá e Rodrigo Vidal são como irmãos. Estamos animados! David Pacheco, que estará na direção geral, é super cuidadoso. A minha banda (de feras), formada também de amigos de longa data. A parte técnica, a produção, o Canal Brasil... (estou) Muito feliz com a parceria com o canal! Sou fã da qualidade da programação. Uma honra! E o Tremendão... O Lucas... O cenário da Gigi Barreto está delicadíssimo também. Tudo é sonho. Vai ser supimpaço!
Por Marco Sá
Atualizado em 7 Fev 2014.