Existem artistas que, apesar da idade, conseguem subir em um palco e dar o seu show. Existem também aqueles que não tem mais esse preparo mas deixaram suas composições de herança para o mundo. E existe Roger Hodgson.
Quem foi ao Espaço das Américas na noite desta quinta-feira não viu apenas um ex-líder de uma banda antiga tocando seus hits. Viu um ícone de 64 anos relembrando uma geração inteira por meio de uma voz que resiste ao desgaste do tempo.
Acompanhado de um belíssimo violão de 12 cordas, Roger Hodgson começou a noite com o sucesso “Take The Long Way Home”. Logo de cara, ele mostrou que, além de cantor, multi instrumentista e compositor, é alguém preocupado em imergir na cultura dos lugares em que passa.
Com um papel nas mãos, ele arrisca algumas palavras em português recebendo de resposta o aplauso dos fãs. Aplausos que se multiplicaram com a introdução de “Lovers in the Wind”.
As risadas também fizeram parte da noite. Para anunciar um dos maiores hits do Supertramp, Roger brincou e aproveitou para elogiar as mulheres brasileiras. “Eu sonhava em ir para a California e ver as mulheres bonitas de lá. Se eu soubesse que o Brasil era assim eu teria chamado essa próxima música de "Breakfast in Brasil”.
O hit que intitulou o épico álbum “Breakfast in America” esquentou de vez a plateia, a ponto da casa de shows ganhar um clima de estádio de futebol com os gritos de “olê olê olê olê Roger Roger”. O cantor, por sua vez, não pareceu entender muito, mas fez questão de agradecer. O grito se repetiria várias vezes no decorrer da noite.
Qualquer um que conheça minimamente o Supertramp sabe que um dos seus diferenciais é a presença do Saxofone nas canções. Vale dizer que o instrumento estava muito bem representado pelo músico Aaron McDonald. Aliás, não só ele. Clarinetes, flautas transversas e teclados também passaram pelas mãos de Aaron e foram executados com perfeição.
“Logical Song” causou um novo frenesi no público. Usando Aaron como tradutor, Roger introduziu a canção seguinte com uma pergunta: “Se você fosse um animal selvagem capturado por humanos, preferiria morrer ou viver enjaulado?”.
As interrogações dos fãs logo foram esclarecidas com a apresentação de “Death and a Zoo”. Uma das canções menos conhecidas do repertório foi uma das mais emocionantes, não só pela letra pesada, como também pelos elementos sonoros que mais pareciam trilha de filmes hollywoodianos.
O clima alegre logo tomou conta do ambiente com o sucesso “Dreamer”. Antes de se despedir pela primeira vez dos fãs, Roger emocionou a todos com a performance da épica “Fool's Overture”.
A longa e nostálgica introdução de piano levou os mais velhos a relembrarem uma época em que músicas como essa eram consideradas obras-primas, e não objetos sem valor comercial.
“Give a Little Bit” deu um pouquinho mais de saudade e suor para a insaciável plateia. Para encerrar, a alegre e inspiradora “It’s Raining Again” terminou com a despedida definitiva de Roger e sua banda.
Para o público, restou as lembranças de um show memorável e à altura da história que as composições carregam. Para o seu compositor, restou uma promessa de “volto logo” e o longo caminho para casa.
Por Ezio Jemma
Atualizado em 24 Out 2014.