O Afrobeat é um gênero musical nascido nos anos 1960, na África, especificamente na parte sul da Nigéria. Ele mistura diversos tipos de percussão africana com música yorubá, jazz, highlife, funk, dentre outros ritmos sociais, políticos e contestadores da época. Desde sua origem até hoje, o gênero tem se reinventado e se tornado progressivamente mais popular, já que o ocidente demorou a descobrir a música africana.
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A década de 1960 foi muito importante para produção cultural de grande parte do mundo, já que enquanto Caetano Veloso, Gilberto Gil e Os Mutantes estavam fazendo a Tropicália acontecer por aqui, The Doors, Jimi Hendrix e Janis Joplin estavam revolucionando o rock nos Estados Unidos e Bob Marley estava começando a colocar a Jamaica de ponta cabeça. Paralelamente a tudo isso, a efervescência do período estava fazendo nascer, pelas mãos de Fela Kuti, Tony Allen e companhia, um dos gêneros mais originais da música mundial, o Afrobeat, que no palco reunia mais de 10 músicos multi-instrumentistas e dançarinas em improvisações elétricas e longuíssimas para o padrão da época.
A música que veio do continente irmão é componente essencial daquela que produzimos por aqui, desde que o samba é samba, para não falar das outras influências, que se estendem por toda a cultura brasileira. Conheça alguns dos maiores nomes que se utilizam do gênero, escute preciosidades dessa batida e conheça algumas experimentações dele com a música atual.
Fela Kuti
Fela Anikulapo Ransome Kuti é nome do nigeriano precursor do gênero. Ele é filho de ativistas sociais e, desde a infância, esteve em contato com diversas opiniões e lutas políticas da África, que acabaram por influenciar diretamente a música que viria a desenvolver.
Ele estudou música em Londres, teve contato com os Panteras Negras e o trabalho de Malcon-X nos Estados Unidos, onde também ouviu muito jazz e fez uma de suas primeiras gravações, a “The ’69 Los Angeles Sessions”. De volta para sua terra de origem, ele fundiu com os diversos sons africanos o que havia absorvido na Europa e América e também iniciou movimentos de contestação em relação ao que estava acontecendo política e socialmente na Nigéria e, por extensão, em toda África.
Ele era multi-instrumentista e seus métodos ficaram tão conhecidos quanto a música que desenvolveu por serem novos e bastante caóticos. A história de Anikulapo, como depois passou a ser chamado, é muito vasta, plural e está presente na biografia do músico, chamada “Fela, Esta Vida Puta”, escrita por Carlos Moore em 1982 e lançada no Brasil em 2011.
Tony Allen
O baterista foi parceiro de Fela na criação do Afrobeat. Ele, diferentemente do parceiro de criação, está vivo e já participou de diversos projetos musicais no Brasil. Neste ano, o baterista fez uma parceria com o trio Metá Metá.
O disco, chamado de Alakorô, foi lançado no início do ano pelo selo Goma Gringa e possui apenas faixas inéditas. Dá o play aí embaixo e confere um trecho essa preciosidade.
Seun Kuti e Egypt 80
Seun Kuti, assim como outros filhos de Fela, deu continuidade aos trabalhos do pai. O filho caçula do mestre, Seun Anikulapo Kuti, continua trabalhando com a banda Egypt 80, criada por Fela no fim dos anos 1970.
Ele gravou, em 2008, o álbum “Many Things” e em 2011 “From Africa With Fury: Rise”, mas apenas no início deste ano lançou o primeiro trabalho à frente da Egypt 80, banda da qual faz parte desde os oito anos de idade e que assumiu aos 15, quando o pai morreu.
Neste domingo, dia 28, Seun Kuti e Egypt 80 se apresentam de graça, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, às 18h. O show faz parte das atrações do Mês da Cultura Independente.
Bixiga 70
A banda brasileira não é de Afrobeat pura e simplesmente, mas funde o ritmo com outros para encontrar sua sonoridade. Eles fazem uma leitura contemporânea do ritmo africano com música latina e brasileira instrumental. A banda é formada por 10 músicos, que também são pesquisadores, e deixa o tradicional um pouco de lado para fazer experimentações e extrair novos sons a partir das tradições.
Em 2012 eles também tocaram junto com Tony Allen, na Virada Cultural, e falaram com o ObaOba a respeito da parceria, da influência do Afrobeat e dos demais gêneros na construção de sua música. Neste sábado, dia 27, eles se apresentam em Cataguases, Minas Gerais.
Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou
A Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou atuou entre os anos de 1960 e 1983 explorando além do Afrobeat, o funk, o soukus e outros ritmos. No começo do milênio, anos 2000, eles começaram a ser reconhecidos para além da África graças a gravadora alemã Analog Africa, que lançou uma complilação com as músicas do grupo de Benin. Aqui no Brasil foi o selo Goma Gringa que neste ano lançou uma coletânea em vinil, com oito faixas, da Orchestre Poly-Rythmo.
Apesar do líder Mélomé Clément ter falecido em 2012, eles mantêm as atividades e também se apresentam gratuitamente no vale do Anhangabaú neste domingo, dia 28, às 16h. No intervalo entre os shows da Orchestre Poly-Rythmo e Seun Kuti rola discotecagem dos DJs Haru, MZK, RamiroZ e Vini Marson. Ou seja, um prato mais do que cheio para quem gosta do gênero de Fela.
Por Mariana Zoboli do Carmo
Atualizado em 5 Dez 2014.