Guia da Semana

Crédito: Marcos Hermes

O voo do cantor no palco do Natura Nós

"Gente, vamos devagar, eu já sou um pai de família", disse o cantor e pianista Jamie Cullum logo nos primeiros momentos do seu show no festival Natura Nós, realizado no último dia 21, em São Paulo. Bobagem. Em um espetáculo com um pouco mais de uma hora, ele correu várias vezes de uma extremidade a outra do palco, despiu-se do seu hypado e bem afeitado terno e se jogou do piano para o chão, como se fosse os braços do público presente, que por sua vez, ficou extasiado e até intrigado com a apresentação. Isso porque este londrino de 31 anos e pai da pequena Lyra, de 3, colocou no bolso o festival no qual a estrela maior era o havaiano Jack Johnson e que contou ainda com a britânica Laura Marling e as brasileiras Maria Gadú e Roberta Sá.( veja aqui a coluna sobre o festival).

O segredo? A junção perfeita de melodias jazzistas executadas ao piano com uma infinita palheta de referências pop desse talentoso pianista, que já prepara seu próximo trabalho, o sexto em estúdio. Dessa vez, a mistura explosiva será com os sons eletrônicos feitos na Califórnia por grupos como Flying Lotus e DJs como Wang e Mark Farina."Não vejo limites do piano com essas sonoridades. Pelo contrário, o bom mesmo é misturar tudo, fazendo uma grande mixagem em nome da boa música", disse ao Guia da Semana um pouco antes de subir aos palcos.

Piano precoce
Na estrada desde 2003, Jamie Cullum poderia até receber o título de gênio precoce, pois desde os 17 anos é a sensação dos clubes de jazz e dos críticos londrinos. Depois de dois discos independentes, a Universal resolveu apostar alto no garoto, fazendo uma grande ação para o lançamento de Catching Tales, em 2005, colocando Mind Trick e Get Your Way nas paradas mundiais de sucesso.

Quatro anos depois, a mistura de pop com jazz ganhou novas roupagens com o álbum The Persuit. No álbum, composições próprias desse multiartista, como I`m All Over It e Mixtape, dividem espaço com a releitura dançante de Don`t Stop the Music, gravada originalmente por Rihanna (veja o clipe ao final da matéria).

Crédito: Marcos Hermes


O artista prefere não declarar datas nem o nome do novo projeto, mas garante que as misturas de jazz com as sonoridades atuais vão continuar em alta no seu caldeirão sonoro, que tem espaço até para a música brazuca. "Como artista, admiro a música brasileira, e faço questão de colocar um pouco do ritmo daqui nos meus trabalhos, como músicas de Celso Fonseca". Confira o bate-papo.

Guia da Semana: O que é o jazz para você?
Jamie Cullum: Não é algo fácil de responder. Quando eu começo a tocar música eu descubro o jazz, é um sentimento de liberdade que toca o seu coração e mente.

Guia da Semana: Como você avalia The Persuit?
Jamie Cullum: Gosto muito da mistura que alcancei com The Persuit, mesmo que às vezes eu confunda as pessoas. Você tem de ter confiança no que sente e em você para falar para o mundo.

Guia da Semana: E como você faz isso na sua música?
Jamie Cullum: Não é algo fácil de explicar, mas imagino como um sentimento de alegria que tomasse de assalto, pois é assim que me sinto quando toco, uma criança numa loja de brinquedos com um cheque em branco. Minha música tem uma clara intenção de comunicar o meu mundo abstrato.

Guia da Semana: Há algum outro trabalho em andamento?
Jamie Cullum: Já estou em produção do novo álbum, para o meio do próximo ano. Não tem como definir o que será ainda, tenho de reunir as minhas ferramentas e ver o que acontece. Mas estou interessado na cena eletrônica que vem emergindo da Califórnia, particularmente de Los Angeles. Gente como Flying Lotus, para mim, um movimento vivo, que dá um passo maior na música atual, trazendo o jazz para o eletrônico e me soando extremamente atual.

Guia da Semana: Você se vê como responsável pela junção do jazz e a sonoridade musical do mundo pop?
Jamie Cullum: Não sou o único que faz isso, os Beastie Boys também juntam hip hop com jazz. Acho fantástico como eles fazem essa mistura, verdadeiras loucuras musicais.

Guia da Semana: Quem você gosta de ouvir na música brasileira?
Jamie Cullum: Admiro a música brasileira e faço questão de colocar um pouco do ritmo daqui nos meus trabalhos. Gosto da Roberta Sá, Seu Jorge, Celso Fonseca, e claro, Maria Rita (com quem o cantor dividiu os palcos nos shows de 2006).

Guia da Semana: O que você espera da apresentação?
Jamie Cullum: É sempre surpreendente tocar no Brasil, já é a minha segunda vez aqui. Quando você abre o palco para grandes nomes como Jack Johson, sabe que as pessoas vêm para vê-lo, logo o artista tem de ganhar o público nas primeiras músicas...

Guia da Semana: Mas você sabe também que muitos vieram para assistí-lo e ouvir sua música...
Jamie Cullum: Talvez, mas temos de satisfazer a todos os fãs, e deixá-los felizes por estarem ouvindo e se divertindo na pláteia como você no palco.


Atualizado em 6 Set 2011.