Guia da Semana

Após longos anos vivendo às margens, sendo alimentada pela esperança por dias melhores, a música eletrônica produzida no Brasil, enfim, respira sem aparelhos e segue com um futuro brilhante pela frente. Tudo fruto dos coletivos e da grande quantidade de produtores que trabalham sem parar em busca do seu devido espaço, além do reconhecimento e de uma graninha – já que ter dois trampos é sufocante o suficiente para qualquer um.

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Bem, nada disso acima é certeiro, mas devemos concordar que a qualidade das produções nacionais cresceram. Confira abaixo os 10 lançamentos que realmente mereceram a nossa atenção neste começo de ano.

Viní – Bandida

E foi também pela rasteirinha que Viní lançou uma das suas melhores tracks até o momento. “Bandida” conta com o ritmo que vem crescendo e ganhando cada vez mais uma forma – mesmo que a gente saiba que as coisas vão mudando a cada dia. Sobre a faixa, Viní diz:

“Quando o lance da rasterinha pipocou (porque acho que ainda não 'explodiu'), eu notei que muita gente já tava meio que gastando o beat de 'Quero Bunda' do MC Tipocki, desde então, eu pensei em 'elevar o nível jogo', criar o beat de rasterinha sem fazer o uso de nenhum loop, aí eu comecei a montar, escolhendo percussão uma por uma, gastei um tempinho trampando pra deixar naquele groove bem orgânico e pronto, estava feito! Aí eu comecei a pirar mais no lance dos timbres, pensando em usar sons já conhecidos e que funcionam muito bem em músicas de outras vertentes. Comecei a trabalhar nesses samples me baseando mais ou menos no que fez esse pessoal da Mad Decent na época do moombahton/moombahcore. Até que tudo me pareceu bem harmônico e senti que a música tava pronta pra ser tocada.”

Projeto Nave Feat. CESRV – MIXTAPE

O Projeto Nave e o CESRV estiveram juntos reconstruindo 41 tracks do rap nacional de forma instrumental. O resultado é realmente impressionante, pois, além de refrescar nossas memórias com verdadeiras obras que remetem ao início do movimento no Brasil, os dois lados do K7 conseguem te segurar e te ensinar ao mesmo tempo.

De Sampa – Hue EP

Paulista declarado em seu nome, De Sampa é um músico mascarado que lançou recentemente seu segundo EP, batizado de HUE, que engloba boas doses de um sombrio R&B eletrônico em uma melancolia tocante. Com três faixas, o trabalho substitui Err, de 2013 e é tão misterioso quanto quem está por trás da máscara. Falamos com ele (por e-mail, é claro) e descobrimos um pouco sobre HUE.

“Para o meu processo criativo, eu me alimento intensamente de arte. Artes plásticas, filmes, música, arquitetura, moda. Junto tudo isso que me faz entrar em um estado mental inexplicável e uso como combustível para me inspirar. Cada vez mais eu aprendo a usar melhor minhas inspirações e influências, que vão de Stevie Wonder, David Bowie, How To Dress Well e Kanye West a James Turrell, Oscar Niemeyer, Stanley Kubrick, David Lynch, Zaha Hadid. Por mais que estes últimos não sejam da indústria musical (exceto o Lynch), eu consigo extrair música de suas obras. Por isso, os considero como influências.”

Don L Beira da Piscina


O Don L é um dos caras que mais tem representado no hip hop nacional atualmente, e "Beira de Piscina", seu novo clipe, mostra um pouco disso. Não apenas pelas belas imagens captadas por Toddy Ivon, não apenas na boa base que acompanha a track do início ao fim, mas principalmente por conta das boas letras e do bom flow que o rapper tem. O vídeo vem como um dos bons lançamentos desse ano pelo conjunto da obra!

"É o primeiro clipe em que eu apareço, mostro minha cara, e isso tem um impacto direto com o público. Esse vídeo teve mais a visão do Toddy Ivon, mas já me permitiu aprender várias coisas. Estou muito empolgado com um dos próximos vídeos que vou lançar, que é uma parceria com um artista que admiro muito, o cartunista Rafael Campos Rocha, o criador de Deus, Essa Gostosa. É um clipe em que a minha música dialoga com esse personagem criado por ele, em animação e vídeo, além de ser uma das minhas músicas preferidas da mixtape. Tem outros vídeos ainda sendo produzidos, mais com a visão dos vídeo-makers e dentro das condições que temos pra trabalhar no momento".

Silva – Vista Pro Mar

Não que o lance de fazer um projeto autoral aqui no Brasil seja fácil, mas convenhamos que o Silva já conquistou a galera. Seu som é leve e mais orgânico que Claridão (seu último lançamento), mas ainda conta com os elementos eletrônicos que deram destaque ao músico capixaba. Com 11 tracks, o self made Vista Pro Mar mostra que Silva, como músico solitário, ocupa tanto espaço como uma multidão.

Sugar Kane – Ignorância Pluralística



O Sugar Kane mudou de formação de novo na gravação do álbum Ignorância Pluralística, mas a essência da banda, que conta apenas com Alexandre Capilé como seu integrante original continua a mesma. As influências, sim, essas foram diferentes de tempos atrás.

“Nesse disco buscamos fazer o que realmente gostamos, então não nos prendemos a nada, nem ao nosso passado na hora de criar. Devido a festa que temos em SP onde tocamos várias bandas que gostamos, o disco teve muita influência desses grupos. Varia entre os clássicos da nossa vida, como ACDC, Queens Of The Stone Age, Pearl Jam, Nirvana... com sons mais crus dos anos 80, como Black Flag, TSOL, Circle Jerks e também sempre com um pé no punk rock dos anos 90, banda como Bad Religion, NOFX.

Amiri - Antes, Depois Mixtape

O Amiri faz parte do grupo DiQuintal e é um dos bons nomes do rap nacional e a sua mixtape Antes, Depois é uma prova disso. Contando com sons novos e antigos (que é explicado no comecinho do compilado), o trabalho acumula 21 canções cheias de impacto, tanto pelas suas letras, quanto pelos beats, assinados por nomes como Laudz, D.A.C. e DJ Latiff.

MC Pedrinho & MC Livinho - Dom Dom

Ouvir o que está tocando nos carros pela cidade é uma boa forma de descobrir o que é sucesso de verdade e o que é jabá para rádio e TV. Naldo, por exemplo, nunca foi um sucesso de porta-malas, já MC Beyoncé tocou pelas tampas levantadas por todos os lugares. Em 2014, a música mais tocada pelas ruas de São Paulo é "Dom Dom Dom", do MC Pedrinho, um moleque que ainda não engrossou a voz, mas já fala sobre receber boquetes bons de novinhas experientes que nasceram com esse dom. Dom, dom dom...

Kid Foguete – Pure Places

Quando ouvi o Kid Foguete pela primeira vez, eu contava com uma nota no Noisey em que dizia que a banda insistia no revival emo que está rolando com a volta de algumas bandas pioneiras no estilo choramingoso e nostálgico. Pesquisando um pouco mais, encontrei isso aqui, onde eles explicam o lance do som deles:

"Às vezes falam que somos shoegaze. Até faz sentido, mas a gente não se define muito. Cada um traz uma bagagem bem diferente e o único cuidado que tomamos é não ficarmos muito roqueiros. Pensamos bem o BPM das músicas pra não ficar tudo acelerado. Seguramos bem a mão em tudo. A regra no ensaio é sempre tocar menos. Quanto menos a gente tocar deixando a música cheia, melhor".

Omulu X Comrade – Bagulho Doido

Não há dúvidas de que "Bagulho Doido” é a mais representativa faixa lançada no Brasil neste ano. Omulu e Comrade fizeram com que a rasteirinha invadisse de vez as pistas, ao mesclar seus elementos com o twerk, dando toda potência à track. Sem dúvidas, esta é a mais brasileira de todas as lançadas até agora.

Por Rodrigo Guarizo

Atualizado em 27 Mai 2014.