Trinta e quatro anos depois do último show do Queen em São Paulo, no Morumbi, nem o fã mais otimista da banda inglesa poderia imaginar que os veria novamente em solo paulistano. Quanto menos, tocando um set list de 26 músicas em duas horas e vinte de espetáculo.
Pois o tempo parece não ter feito mal nenhum aos dois integrantes que ainda representam o grupo original, Brian May (68) e Roger Taylor (66) (John Deacon, o baixista, se aposentou nos anos 90 e tem sido uma figura reclusa desde então). Na noite desta quarta-feira (16 de setembro), no Ginásio do Ibirapuera, ambos protagonizaram solos surpreendentemente longos e vigorosos – May passeando pelo palco e interagindo com o público, Taylor travando um duelo com o filho, também bateirista, Rufus Taylor.
Apesar de a maioria do público ter pago seus salgados ingressos para ver a dupla (especialmente May, cuja sombra projetada no pano que cobria o palco abriu o show), quem estava sob os holofotes era o cantor Adam Lambert, que vem acompanhando a banda desde 2011, substituindo a não-tão bem sucedida parceria do grupo com Paul Rogers.
Trinta anos mais jovem que os colegas veteranos, Lambert subiu ao palco com humildade, mas também com segurança e muita presença de palco – qualidade essencial para um músico encarregado de preencher a vaga outrora ocupada por Freddy Mercury. Se as caras e bocas de Lambert incomodaram parte dos fãs (não duvidem, houve comentários homofóbicos em pleno show do Queen), seu alcance vocal logo convenceu o público – não tão potente nos graves, como Mercury, mas inabalável nos agudos.
O show começou pontualmente às 22h com “One Vision”, sobre um palco elegantemente iluminado com um telão oval ao fundo, formando a letra “Q” com a ajuda de uma rampa lateral. Para “Killer Queen”, Lambert deitou num sofá roxo vitoriano e incorporou a protagonista da canção. Já em “Somebody to Love”, o cantor se mostrou mais à vontade e arriscou algumas brincadeiras com o público.
A qualidade do som foi um ponto baixo da noite: “sujo” e abafado, dificultava a compreensão das letras em algumas músicas. O estrago só não foi maior porque o público inflou os pulmões e cantou junto, tornando o vocalista um acessório quase dispensável em alguns momentos.
O auge da noite, como já era esperado, foi a apresentação de “Love of My Life”, cantada por Brian May e acompanhada em coro por todo o ginásio. “Nós sabemos o quanto essa música é amada no Brasil. Essa é a música de vocês”, declarou May, antes de dedilhar os primeiros acordes. Uma projeção de Mercury no telão encerrou a canção e emocionou o guitarrista.
A banda seguiu com sucessos como “Under Pressure”, “Save Me” e “Who Wants to Live Forever” até alcançar outro pico com “Radio Gaga”, entoada com as tradicionais palmas do público e com imagens de “Metrópolis”, de Fritz Lang, ao fundo. “Crazy Little Thing Called Love” e “The Show Must Go On” seguraram o coro até a esperada apresentação de “Bohemian Rhapsody”, auxiliada por uma projeção do clipe no telão. Mais uma vez, as imagens de Mercury levaram os fãs às lágrimas.
O grupo manteve a tradição e encerrou a noite com a dobradinha “We Will Rock You” + “We Are The Champions”, com May vestindo uma camiseta do Brasil e Lambert com uma coroa e a bandeira brasileira como manto, em referência ao vocalista original.
Para quem testemunhou a maratona dos músicos nesta apresentação em São Paulo, fica até difícil acreditar que o Queen tocará novamente nesta sexta-feira no Rock in Rio. Para quem está aguardando pelo show na capital carioca, fica a certeza: será inesquecível.
Por Juliana Varella
Atualizado em 17 Set 2015.