O universo dos jovens dos anos 70 é o tema de Hair, em montagem da dupla Moeller e Botelho
Desde os idos da Grécia Antiga, a música é parte inseparável da arte dramática. Dos cantos ditirambos, passando pela ópera até a popularização dos vaudevilles e teatros em revista, essa relação, cheia de amor, ora ganha, ora perde força nos palcos brasileiros. Em 2010, todos os sinais foram positivos e os musicais fizeram bonito, recebendo críticas elogiosas e ampliando o repertório nacional.
O ano começou com montagens ainda de 2009 em pleno fôlego como O Despertar da Primavera, que aportou em São Paulo após temporada carioca. Na terra da garoa, a peça fez alvoroço com a nudez da atriz Malu Rodrigues, que apesar de já ser maior de idade, viveu uma adolescente na montagem. A cena foi censurada, levantando protestos e debates sobre a liberdade artística.
A dupla Charles Moeller e Charles Botelho, responsáveis por O Despertar, emplacaram ainda mais uma esse ano. Hair, também trouxe o universo da juventude para os palcos, dessa vez, num clima de paz, amor e loucura setentista. Junto com Beatles num céu de diamante (2008), a peça compõe a trilogia juvenil da dupla de encenadores há mais tempo na estrada, em se tratando de musicais.
Midas musical
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Falabella e Vilela em cena com A Gaiola das Loucas, encenada no Rio e em São Paulo
Outro nome consolidado dessa cena é Miguel Falabella, um verdadeiro Midas. Homens vestidos de mulher, disputas entre famílias e confusões sentimentais: tudo entra nas montagens dirigidas pelo ator, que busca inspiração direta nos espetáculos da Broadway que renderam filmes de grande bilheteria.
Não tem como dar errado. Ainda mais com Edson Celulari vivendo a gorda dona de casa Edna Turnblad em Hairspray. O ator deu banho na montagem, vivendo o mesmo papel já estrelado pelo americano John Travolta. A peça foi marcante também na vida dos atores Danielle Winits e Jonathas Faro, que se apaixonaram durante o espetáculo e já tem até um filho a caminho.
Outro travestido foi Diogo Vilela, na pele do transformista Abin/Zazá em A Gaiola das Loucas. O clássico de Mel Brooks conta a história desse personagem e de seu marido, Georges (vivido por Falabella), às voltas com o noivado de seu único filho com uma menina de família tradicional. Mais uma vez, sucesso de público e crítica.
Duas escolas
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Na vertente que valoriza as histórias nacionais, Bixiga arrancou aplausos ao contar histórias desse italianíssimo bairro
Ainda na escola americana, as megaproduções O Rei e Eu, Cats e Mamma Mia! passaram pelas principais capitais. Figurinos vindos diretamente de Nova Iorque, meses de ensaios rigorosos com profissionais do exterior e vastos elencos com até 70 atores em cena. Tudo afinadinho e sem nenhum deslize, mostrando que o teatro brasileiro sabe fazer espetáculos com alto padrão de qualidade.
Outra vertente da produção nacional é a que investe nas histórias da música e dos músicos do país. Em destaque, Lamartine Babo contou a vida de um dos maiores compositores de década de 40 e 50, autor de marchinhas de carnaval e de hinos dos grandes clubes de futebol. Correndo por fora, mas com a mesma expressão criativa, Bixiga falou do cotidiano desse italianíssimo bairro paulistano, terra do samba de Adoniran Barbosa, um personagem digno de um musical só para ele. Uma das muitas propostas que estão sendo estudadas para serem levadas aos palcos em 2011.
Atualizado em 6 Set 2011.