Guia da Semana

Foto: Rafael Salles


Um dos atrativos do teatro, nos dias de hoje, está nas diferentes roupagens adotadas com o intuito de agradar aos mais variados tipos de público - dos que preferem grandes espetáculos tradicionais aos que prestigiam apresentações ao ar livre e até peças feitas em becos à luz de velas. Nessa linha de inovações, o Grupo Teatro Enlatado leva aos palcos, ou melhor, às ruas, uma maneira diferente de interpretar: o Teatro Drive-Thru, que ocorre na Praça Roosevelt, centro de São Paulo, sextas e sábados, das 21h à meia-noite.

A dinâmica é simples: um local de fácil acesso, uma cena rápida, barata e que aproxima o teatro da plateia, inclusive quem não tem acesso aos grandes teatros - principalmente devido aos preços exorbitantes cobrados, muitas vezes. No estilo fast-food, existe um menu com as cenas, onde o cliente se "serve" da que mais o agradar. "Muitas pessoas que vêm nos ver dizem que não vão ao teatro porque não entendem as peças, acham caras, chatas e, às vezes, demoradas. E conseguimos atrair este público", conta à atriz Maíra de Grandi, idealizadora do projeto e que também faz parte do elenco.

Inovação

A iniciativa surgiu depois que Maíra voltou de um curso de Artes Cênicas na Austrália, com a intenção de fazer teatro dentro de uma caixa. Ao lado dos demais integrantes do Grupo Enlatado, chegaram ao Drive-Thru. Considerada uma intervenção-teatral, propõe o uso de espaços físicos - desde calçadas, parques e estacionamentos até grandes salões e eventos fechados. "Usamos a ideia do teatro como um produto, uma coisa que a pessoa pode consumir individualmente, rápido, expresso e prático, como um hambúrguer, por exemplo", explica Maíra.

Pechincha

As cenas duram de três a quatro minutos e o cenário é uma cabine de acrílico, com dois metros de comprimento por um metro de largura. Dividida ao meio por uma parede de vidro, a intenção é separar o produto do consumidor, criando uma relação de compra e venda. O espectador é recebido pelo funcionário do mês, que fica na parte de fora, ao lado do menu.

Foto: Rafael Salles


Ao escolher o número da cena que irá assistir, é cobrado o valor simbólico de R$ 1,99, e o pagante ainda ganha uma bala e um adesivo da companhia. "Chegamos a esse valor por causa das lojinhas de rua. Não ganhamos dinheiro com essa bilheteria. Vendemos a ideia para diferentes lugares e eventos. Fora isso, estamos planejando viajar o Brasil e temos projeto de ir a Buenos Aires", destaca a atriz.

Menu teatral

Os seis monólogos à disposição do público são criados a partir de temas contemporâneos e envolvem doses de humor e crítica, incluindo datas comemorativas, como Dia dos Namorados, Mães, Pais, etc. Porém, a cada um deles, a experiência é única, já que as cenas são individuais. O ator em questão depende da reação de quem o está assistindo e, para isso, é necessário se adaptar a cada momento.

O Grupo alega que a intenção é quebrar o instinto de "sociedade de consumo", onde todos adquirem a mesma coisa sempre. "A intimidade é muito forte. Para um grande público o foco é variado. Já na cabine, é o ator e o espectador, olho no olho. Às vezes, conversam comigo, falam da vida, choram e eu não consigo concluir a cena. É difícil manter um foco", ressalta Maíra.

Foto: Rafael Salles


Prato cheio

A interação com as pessoas e a proposta de levar uma experiência teatral dentro de um mínimo espaço físico e de tempo, não é tarefa simples, segundo a idealizadora. A preparação do elenco é puxada, pois os atores estão sujeitos a repetir a mesma cena até quatro ou cinco vezes por noite. "Trabalhamos com um público muito diverso. Estamos no meio da rua. Temos experiência com várias pessoas. Inclusive, muitas delas nunca foram ao teatro e assistem a gente. Chega a ser engraçado".

Quanto às criticas, Maíra parece não se incomodar. "Até agora, as pessoas de teatro aprovaram a ideia. Estamos localizados na frente de casas com peças tradicionais. Acho que todo mundo que faz teatro sabe da dificuldade de atrair público para uma peça, especialmente quando se trata de um grupo novo. Foi o que pensamos", diz.


Atualizado em 10 Abr 2012.