Guia da Semana

Por Vivian Ortiz

Uma viagem ao passado, sem a necessidade de máquinas do tempo. É assim que o visitante se sente ao conhecer Ouro Preto, localizada a 97 quilômetros da capital Belo Horizonte. Isso porque, por meio de casarões coloniais, igrejas barrocas e arquitetura do século 18 é possível conhecer melhor o passado de nosso país.

A histórica cidade atrai visitantes de todo o país, além de estrangeiros. Quem vai costuma se apaixonar e recomendar aos amigos. É o caso da nutricionista Elizabeth Salgado, de 50 anos, de São Paulo. Ela e o marido passaram quatro dias visitando Ouro Preto em agosto de 2010.

Para Elizabeth, uma das melhores lembranças da viagem, além da linda paisagem e da ótima comida, foi a receptividade da população local. "Cheguei lá sem reservar nada, mas antes de estacionar o carro, ainda na rua, fomos recebidos por guias de turismo que, muito simpáticos e receptivos, nos orientaram sobre hospedagem e como circular pela cidade".

Pura história
Na realidade, os 300 anos comemorados em 2011 são referentes a fundação de Vila Rica, lugarejo erguido a partir da exploração das minas de ouro, que cresceu e acabou se tornando Ouro Preto. Segundo o historiador Alex Fernandes Bohrer, autor do livro Ouro Preto, um Novo Olhar (Scortecci Editora), era 8 de junho de 1911 quando o então governador, Antonio de Albuquerque, fundou a primeira Vila de Minas Gerais, que na época formava com São Paulo uma única capitania.

"Normalmente, antes de ser vila, era fundado um arraial, ou seja, algumas casas em torno da capela. Se ele crescesse, ou merecesse atenção do governo português, aí sim aquele local era promovido a vila", diz. Após ser elevado a esse status, construía-se uma câmara de vereadores, que governava localmente o termo, palavra usada na época para designar o que hoje seria o município. "O arraial que existia em Vila Rica teoricamente foi fundado treze anos antes, porém não existem documentos para comprovar tal informação", explica Alex Fernandes Bohrer.

Reconhecimento
Tanta riqueza histórica foi reconhecida ainda no século 20. No ano de 1933, o presidente Getúlio Vargas decretou Ouro Preto como monumento nacional e, em 1980, a cidade ganhou da Unesco o título de patrimônio mundial da humanidade. Para o historiador Bohrer, mesmo que Ouro Preto não tivesse preservado nada disso, e hoje fosse uma cidade de visual moderno, ela já teria um papel marcante na história do Brasil.

Inicialmente, segundo ele, porque a cidade marca o surgimento de Minas Gerais, sendo a primeira sociedade urbanizada do Brasil. Fenômeno parecido ocorreu apenas no século 19, no oeste norte-americano. "Mesmo assim, essas cidades nos Estados Unidos foram construídas sobre estruturas de madeira, frágeis. Isso é diferente das cidades fundadas em Minas Gerais, que são sólidas, com ruas calçadas e grandes estradas interligando essas cidades".

Inclusive, devido a própria geografia mineira, com vilas de fácil comunicação entre si, surgiu pela primeira vez na história do Brasil o sentimento de que nós éramos diferentes dos portugueses. "Isso eclode como o movimento da Inconfidência Mineira, em que um grupo de intelectuais e pessoas importantes na capitania tentaram separar Minas Gerais de Portugal", explica o historiador. "Até então, uma pessoa que morava em nosso país no século 16 se via como um português que nasceu no lado de cá do Atlântico".

Grandes memórias
Cenário de grandes acontecimentos no passado, Ouro Preto não traz boas memórias apenas para os turistas. Quem nasceu e cresceu brincando naquelas tortuosas ladeiras de pedra também se lembra com carinho da cidade. Para o historiador Alex Fernandes Bohrer - que contou um pouco da história da cidade nessa matéria-, o lugar mais especial de Ouro Preto é a matriz de Nossa Senhora de Nazaré, localizada no distrito de Cachoeiro do Campo.

"Eu cresci atrás dessa igreja. Foi lá que aprendi a jogar bola e onde vi muitos flertes, namoros e casamentos começarem", relembra. Para Bohrer, as igrejas são um dos grandes charmes da cidade, pois mantêm o visual do século 18 e, assim como naquela época, continuam sendo um espaço de convívio para os moradores. "Em Cachoeira do Campo, é rara a pessoa não ter esse carinho pela matriz".


Pontos Turísticos
Se você pretende voltar no tempo e conhecer a linda Ouro Preto, confira alguns dos diversos pontos turísticos da cidade.

Igrejas
Matriz da Nossa Senhora do Pilar
A enorme quantidade de ouro em seus altares, a riqueza dos ornamentos e detalhes são os exemplos máximos do barroco brasileiro. Logo na entrada, há a reprodução da ressurreição de Cristo, feita pelo mestre Aleijadinho.
Serviço: Praça Mons. Castilho Barbosa (Centro Histórico) / Terça-feira a aomingo, das 9h às 16h45 / R$ 7

Matriz da Nossa Senhora de Nazaré
Afastada do centro, a igreja é um bom motivo para visitar o distrito de Cachoeira do Campo, a 22 quilômetros de Ouro Preto. Construída entre 1725 e 1755, traz detalhes da primeira fase do barroco mineiro, como os altares folheados a ouro.
Serviço: Praça Felipe dos Santos (Distrito de Cachoeira do Campo) / Não tem horário de funcionamento. Basta procurar o sacristão e pedir para abrir a igreja.

Matriz da Nossa Senhora da Conceição
A igreja foi construída entre os anos de 1727 e 1746, com projeto e execução de Manuel Francisco Lisboa, pai do Aleijadinho. Trata-se de um valioso patrimônio artístico, pois abriga belos trabalhos em talha e retábulos lindamente ornados. Em sua sacristia foi montado o Museu Aleijadinho, dedicado a arte sacra. O mesmo ingresso vale ainda para a igreja de São Francisco de Assis.
Serviço: Praça Antonio Dias (Centro Histórico) / Terça-feira a sábado, das 8h30 às 12h e das 13h30 às 17h, e domingo, das 12h às 17h / R$ 7

Museus
Museu da Inconfidência
Criado em 1938, com a finalidade de abrigar objetos e documentos relacionados aos fatos históricos da Inconfidência Mineira e a seus protagonistas, o museu expõe obras de arte e de valor histórico, consideradas expressivas para o conhecimento da formação de Minas Gerais.
Serviço: Praça Tiradentes, 139 (Centro Histórico) / Terça-feira a domingo, das 12h às 18h / R$ 6

Museu do Oratório
Inaugurado 1998, apresenta uma coleção - única em todo o mundo - de 162 oratórios e 300 imagens dos séculos 17 ao 20. Caracterizando-se pela diversidade de tipos, de tamanhos e de materiais, o acervo oferece detalhes valiosos da arquitetura, pintura, vestuário e costumes da época em que foram produzidos, permitindo uma verdadeira viagem antropológica pela história do Brasil.
Serviço: Rua Brig. Musqueira (Centro Histórico) / Diariamente, das 9h30 às 17h30 / R$ 4

Museu de Arte Sacra
Inaugurado em 2000, localiza-se na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar. O acervo conta com 400 peças produzidas entre os séculos 17 e 19. São peças religiosas e profanas dos períodos Maneirista, Barroco, Rococó e Neoclássico e abrangem a história da antiga Vila Rica durante o período áureo da mineração do ouro. Elas estão distribuídas em oito vitrines temáticas.
Serviço: Praça Mons. Castilho Barbosa (Centro Histórico) / Terça-feira a Domingo, das 9h às 16h45 / R$ 7

Por Vivian Ortiz

Atualizado em 13 Set 2011.