Mais uma vez, a força pungente dos operários do bairro da Mooca, em São Paulo, foi responsável pela realização de um grande feito em 1924. Os empregados de uma fábrica de tecidos uniram os clubes de várzea do bairro Extra São Paulo Futebol Clube e Cavalheiro Crespi Futebol Clube para formar apenas um time, o Cotonífico Rodolfo Crespi Futebol Clube, que em apenas seis anos se transformou no Clube Atlético Juventus.
Desde então, não há um mooquense que não tenha profunda admiração pelo time. Mesmo que torça para algum outro clube de futebol, o Juventus não deixa de ser o time do coração. Esse mérito é devido a um passado glorioso na história do futebol, principalmente a partir da década de 30, quando estreou na elite do futebol estadual.
Foi em 14 de setembro de 1930 que o Juventus ganhou o apelido de 'Moleque Travesso', após o a vitória por 2 a 1 em cima do Corinthians, no Parque São Jorge. O codinome foi dado pelo jornalista Tomas Mazzoni, da Gazeta Esportiva, pois a conquista parecia mais a travessura de um moleque que se atrevia a vencer um gigante em seus próprios domínios.
Paixão inveterada
Mesmo fora da série principal do futebol brasileiro há anos, os torcedores do Juventus continuam nutrindo um amor muito forte pelo clube e lotando o Estádio Conde Rodolfo Crespi, mais conhecido como Estádio da Javari, por se localizar na rua homônima da Mooca. De acordo com o ex-vice-presidente do time Angelo Eduardo Agarelli, o Juventus é um time diferente dos demais porque mantém a tradição do chamado futebol romântico.
"O Estádio é um dos responsáveis por essa paixão, pois mantém as mesmas características de quando foi reinaugurado, na década de 40, após uma ampla reforma. A torcida fica tão próxima ao campo que é possível até ouvir as conversas entre os jogadores. O local também se torna um ponto de encontro de amigos, em dias de jogos. Além disso, o fanatismo que o mooquense tem pelo bairro transfere-se para o Juventus", discorre Agarelli, que é filho de um dos fundadores do Juventus, Angelo Agarelli, e está escrevendo um livro sobre a história do Clube.
Até o Rei Pelé nutre um carinho especial pelo campo da Rua Javari. Segundo o craque afirma no site oficial do Santos Futebol Clube, o gol mais bonito - entre os 1281 que fez ao longo de sua carreira - foi feito em 2 de agosto de 1959, no jogo em que o Santos venceu o Juventus por 4 a 0.
Outro juventino, o consultor de tecnologia da informação Breno Farber, também reforça que a torcida do clube incentiva muito o futebol romântico. Esse estilo tem como característica preservar seu charme e ter jogadores que realmente suam a camisa pelo time, sem pensar apenas em aparecer para os times do exterior, como acontece nos dias de hoje. Assim, o Juventus atrai cada vez mais torcedores que compartilham desse ideal e extrapolam as fronteiras da Mooca.
Foto: Divulgação
Reprodução da partida de 2 de agosto de 1959 entre Santos e Juventus, em que Pelé fez o gol mais bonito de sua carreira
No entanto, mesmo com muita paixão, Breno revela que torcer para o clube da Rua Javari não é uma tarefa muito fácil. "Os títulos são poucos, mas têm um peso muito grande para nós. Assim, por sermos uma comunidade pequena, é muito importante que sejamos sempre unidos", explica.
Torcida organizada
O Clube Atlético Juventus tem uma das torcidas organizadas mais antigas do Brasil, a Ju Jovem. A equipe completa 30 anos no próximo dia 6 de setembro e conta com a participação de torcedores de todas as idades, mas com presença majoritária da velha guarda. Um dos fundadores da torcida é o taxista Sérgio Mangiullu, que mesmo não morando mais na Mooca mantém uma ligação muito forte com o bairro de origem.
"Decidimos formar a Ju Jovem porque a maioria dos grandes times da época já tinha as suas torcidas organizadas, como a Gaviões da Fiel do Corinthians, a Torcida Jovem do Santos e a Leões da Fabulosa da Portuguesa", conta Sérgio. Antigamente, uma das marcas registradas da Ju Jovem era chegar nos jogos em um veículo tipo Kombi, com todos os integrantes. Hoje, o líder da torcida comenta que essa tradição já não pode ser mais cumprida, pois o número de juventinos aumentou.
Nos últimos anos, surgiu outra facção da torcida, a Setor 2, que ganhou esse nome por ficar sempre nessa ala do estádio, localizado atrás de um dos gols. Segundo Angelo, essa torcida se tornou uma das atrações dos jogos, afinal, é composta basicamente por jovens. "Eles adotam o estilo das torcidas argentinas, os hinchas, que levam faixas, bandeiras e cantam músicas de incentivo ao time durante toda a partida", relata.
Foto: Angelo Eduardo Agarelli
A jovem torcida juventina Setor 2
Dias dos jogos
Quando o Juventus entra no gramado do Estádio da Javari, a tradição fala mais alto no bairro da Mooca. Nesses dias, as famílias saem às ruas rumo ao campo do Juventus para assistir aos jogos. "Nos momentos que antecedem as partidas, as ruas fronteiriças são coloridas com o grená da camisa dos torcedores indo em direção ao estádio. Em caso de vitória, é comum os juventinos ficarem esperando os atletas saírem do vestiário para cumprimentá-los", fala Agarelli.
Para o torcedor Breno, um jogo na Rua Javari é uma experiência sensacional e obrigatória para todas as pessoas que gostam de futebol. Ele ainda conta que, nos dias de jogos, os pontos de encontro são os bares ao redor do estádio e, depois da partida, a comemoração continua na região. De acordo com Sérgio, o estabelecimento que mais atrai os juventinos é o Bar do Giba, que é todo ornamentado com referências do Juventus.
Outra atração dos jogos é a presença do cannoli, um doce típico italiano que é vendido no Estádio da Javari. O doceiro Sr. Francisco é uma figura carimbada no campo, já que é ele quem produz essa delícia feita com massa fina frita, tipo folhada, em formato de canudo e recheada com creme de laranja. "O Sr. Francisco, nos intervalos das partidas, é cercado furiosamente pelos torcedores em busca da aquisição desse troféu. Há pessoas que vão ao estádio com o principal objetivo de comer o famoso cannoli", comenta o ex-vice-presidente do Juventus.
Quem já ficou com vontade de vivenciar a emoção de um jogo do Clube Atlético Juventus, deve esperar até meados de julho. Isso porque o time está na série A3 e sua próxima disputa é a Copa Paulista, na qual vai concorrer a uma vaga para a Copa do Brasil, caso fique em primeiro lugar, ou para a série B do Brasileiro, se for o vice-campeão. Separe sua camisa grená e branca, reúna os amigos e prepare-se para ver o show de bola do Moleque Travesso!
Principais conquistas do Juventus 1934 - Campeão Estadual da Liga Amadora de São Paulo (LAF) 1971 - Campeão do Torneio Paulistinha 1983 - Campeão da Taça de Prata (equivalente à série B do Campeonato Brasileiro) 1985 - Campeão da Taça São Paulo de Futebol Juniores 1986 - Campeão do Torneio Início (equivalente ao Campeonato Paulista) 1997 - Vice Campeão Brasileiro da Série C 2005 - Campeão Paulista Série A2 2007- Campeão da Copa Federação Paulista de Futebol |
Foto de abertura: Divulgação
Atualizado em 13 Set 2011.