Tradicionalmente, a festividade era uma forma de agradecer ao deus Sol pelas boas colheitas
Homens com trajes que remetem aos sacerdotes da civilização pré-colombiana mascam folha de coca, para se preparar espiritualmente para o ritual. Às primeiras batidas do tambor, o poderoso Inca se aproxima e sinaliza o início da cerimônia. Todos se ajoelham e os alimentos são erguidos e levados ao centro da roda como uma forma de oferenda. Duas lhamas são sacrificadas para predizer um futuro próspero.
Nos minutos que se seguem, cada um agradece, em pensamento, as bonanças dos meses anteriores. O soar característico das flautas quebra o silêncio e, ao som de zamponhas e quenas - instrumento de sopro tipicamente andino -, homens e mulheres começam a dançar. As mantas de lã compridas e coloridas que cobrem os corpos giram conforme a música, em um verdadeiro espetáculo aos olhos. É hora de celebrar!
Há milhares de anos, a Festa do Sol - ou Inti Raymi, em quéchua - era realizada pelos incas em 24 de junho, poucos dias após o solstício de inverno. "A comunidade se reunia nessa data para festejar e agradecer ao deus Sol o período de colheita", explica Maria Nazareth Ferreira, uma das coordenadoras do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (CELACC), da USP (Universidade de São Paulo).
Hoje em dia, a celebração é revivida por nativos, na fortaleza em ruínas do Parque Arquelógico de Sacsayhuamán, próximo à cidade de Cusco - a antiga capital do Império Inca -, no Peru. Todos os anos, turistas curiosos de vários continentes vão até lá para assistir de perto ao evento milenar.
Foto: Gihan Tubbeh/ PromPerú
A Inti Raimy atual mantém vivos os traços culturais da civilização pré-colombiana
Por mais que atualmente o espetáculo seja também voltado ao turismo regional e internacional, a diretora da Casa da Cultura Latino-Americana (CAL) da UNB (Universidade de Brasília), Ana Queiroz, ressalta sua importância. "Essa festividade é um patrimônio imaterial da humanidade e a sua reprodução, que resgata o passado de povos ancestrais, é muito importante para aquela comunidade por trazer um potencial de pertencimento a um lugar e uma tradição cultural", ressalta.
Cultura e religião
A religião era extremamente importante para a civilização inca. Sua população acreditava que o Sol (Inti) era uma entidade divina e que seus reis descendiam dele. Diversos monumentos sagrados foram construídos, próximos às mais altas e inalcançáveis montanhas andinas, como o Templo do Sol, em Cusco. Assim como as construções eram feitas em homenagem à divindade, o costume de mascar folha de coca vem da crença de que o ato deixaria a pessoa mais próxima, espiritualmente, de Inti.
Não fica difícil entender, portanto, a relevância de uma festa que era considerada uma forma de agradecimento ao deus por sua glória e a de seu povo. O ponto alto da cerimônia é o sacrifício das lhamas, que é mantido até hoje. A data registra também o momento em que o Sol está mais longe da Terra, ao mesmo tempo em que simboliza o início de um novo ano incaico.
Foto: Gihan Tubbeh/ PromPerú
Com trajes típicos, os nativos relembram a comemoração do Ano Novo de seus ancestrais
E por mais estranho que posso parecer aos acostumados com o calendário cristão, a impressão de participar da festividade em terras andinas, em 24 de junho, é sim de estar em mais um Ano Novo - tamanha é a celebração! Para quem deseja sentir tudo isso de perto, o Guia da Semana selecionou pacotes de viagens de diversas agências de turismo. Confira!
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*Preços consultados em maio de 2011 e sujeitos a alterações sem aviso prévio
Atualizado em 6 Set 2011.