Beto Braga (à direita) oferece um exemplar de seu livro para o diplomata do Peru, Bruno Zetola
Já imaginou viajar do sul até o norte do continente americano de carro? Para quem acha que o feito é impossível, saiba que essa façanha já foi realizada há mais de 40 anos. Em 1928, três brasileiros embarcaram em dois automóveis Ford Modelo T e partiram do Rio de Janeiro rumo à América do Norte. A missão dos desbravadores era descobrir, abrir e projetar uma rota que daria início à construção de uma rodovia que interligasse as Américas, que viria a ser chamada de Carretera Panamericana.
Sob o comando do Tenente Leônidas Borges de Oliveira, o observador Francisco Lopes da Cruz e o mecânico Mário Fava, a equipe conseguiu completar a 'Expedição Brasileira da Estrada Panamericana', percorrendo 28.000 quilômetros e passando por 15 países. Foi essa história fascinante que protagonizou os últimos doze anos da vida de José Roberto Faraco - ou Beto Braga, como é conhecido - e o levou a escrever o livro O Brasil através das três Américas, lançado em abril deste ano, pela Canal 6 Editora.
Não contente com a homenagem que prestou à incrível façanha dos expedicionários brasileiros, Beto embarcou em uma moderna caminhonete Ford Excursion XLT com sua família (a esposa Márcia e os filhos Caio e Renato) para refazer o trajeto completo da Carretera Panamericana. A Nova Expedição teve início no último dia 16 de abril - quando a viagem original completava 83 anos - e conta o apoio do governo brasileiro, pelo intermédio do Ministério das Relações Exteriores Eles irão percorrer 62.000 quilômetros durante quase um ano e cruzar 17 países, do extremo norte - em Prudoe Bay, no Alaska - até o extremo sul - em Ushuaiua, na Argentina.
A missão dos novos expedicionários é divulgar a história da 'Expedição Brasileira da Estrada Panamericana' e consolidar o seu reconhecimento através de encontros com autoridades de cada país que passarem. Em uma pausa da viagem, que está na América do Sul e já passou pela Argentina, Bolívia e Peru, Beto Braga conversou com o Guia da Semana e contou detalhes da produção do livro e as novidades da Nova Expedição.
Foto: Divulgação
O então presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt entrega uma carta de reconhecimento à Expedição ao Tenente Leonidas. Francisco Lopes esta à esquerda de Roosevelt, na foto, e Mario Fava ao fundo, com terno preto
Guia da Semana: Como surgiu a ideia de escrever o livro O Brasil através das três Américas?
Beto Braga: Durante alguns anos, residi na Bolívia e conheci o filho do Comandante Leônidas Borges de Oliveira. Ele me contou que seu pai havia feito uma viagem de automóvel, em 1928, do Brasil até os Estados Unidos. Diante da minha incredulidade, mostrou-me as anotações que falavam da viagem feita por seu pai e, para minha surpresa, não só era verdade, bem como era a história do Projeto da Carretera Panamericana.
Guia da Semana: De que maneira deu-se o processo de apuração dos fatos e quanto tempo levou para publicar a obra?
Beto Braga: No primeiro momento, o trabalho ficou concentrado na leitura do livro de anotações do Comandante Oliveira. Em seguida, consegui encontrar o mecânico Mario Fava, ainda vivo e com grande acervo documental e fotográfico, e o mais importante é que estava com uma incrível lucidez. Munido deste material, comecei as pesquisas em jornais da época e internet, dentre outras fontes. Resumindo, foram oito anos recolhendo material e informações.
Guia da Semana: Qual foi sua intenção em escrever o livro em português, inglês e espanhol?
Beto Braga: O livro foi a maneira que encontrei para divulgar e resgatar esta página perdida na história das Américas. Como a maioria dos países envolvido na aventura é de língua hispânica, surgiu a necessidade do espanhol. Os carros que conduziram a Expedição foram idealizados, fabricados nos Estados Unidos e eram da marca Ford, empresa que esperamos obter apoio para a divulgação da incrível façanha automobilística. Por isso, precisamos do inglês. Dessa maneira, vamos permitir que historiadores, amantes do automobilismo, aventureiros e outros interessados por este enredo tenham acesso à história dos três homens que lutaram pela união dos países do Continente Americano, através de uma rodovia.
Guia da Semana: A Expedição da Carretera Panamericana percorreu 15 países das três Américas, em dez anos, e fatos inusitados não faltam nessa história. Qual episódio do livro você destaca por achar único, exótico ou até engraçado?
Beto Braga: São várias as passagens que merecem ser marcadas, como as improvisações de combustíveis, acidentes indescritíveis e encontros com grandes homens da época, como Henry Ford, Franklin Roosevelt, Eliot Ness, entre outros. Mas para mim o fato histórico mais marcante e inusitado é o encontro com Augusto Cesár Sandino - um revolucionário nicareguense que era contra o domínio dos Estados Unidos na Nicarágua - e seu Estado Maior, a poucas horas antes de seu fuzilamento.
Foto: Divulgação
Caio, Renato, Márcia e Beto Braga no Lago Titicaca, durante a Nova Expedição
Guia da Semana: Você está na primeira etapa da Nova Expedição Carretera Panamericana. Por que decidiu reviver os passos de Leônidas, Francisco e Mário?
Beto Braga: Desde o primeiro momento que tive acesso a esta história, tomei como minha missão pesquisar, divulgar e buscar o reconhecimento da incrível façanha. Tenho convicção da importância do valor histórico dos documentos, das fotos e das informações que acumulei sobre a Expedição, por isso escrevi o livro O Brasil Através das Três Américas. Planejei a Nova Expedição com o intuito de resgatar o feito grandioso e a autoria do projeto da Carretera Panamericana para os intrépidos expedicionários brasileiros.
Guia da Semana: Sua família está acompanhando-o neste projeto. Como está sendo o convívio de vocês? Cada um possui uma função específica durante as viagens da Nova Expedição?
Beto Braga: Sempre tivemos uma convivência ótima e aqui não está sendo diferente. Todos nós discutimos as atitudes necessárias e as tarefas são divididas de acordo com as situações, como dirigir, por exemplo, pois as distâncias percorridas exigem um rodízio. É claro que algumas funções, como a responsabilidade pela manutenção do automóvel, a função de fotógrafo e de cinegrafista já são pré-estabelecidas. De uma forma geral, a viagem proporciona uma experiência ímpar na nossa convivência.
Guia da Semana: Vocês estão na estrada há mais de um mês. Como está sendo a viagem?
Beto Braga: A viagem está apenas começando. Nestes mais de quarenta dias percorremos cerca de 10.000 km, dos 62.000 km planejados. As imagens que desfilam pelos nossos olhos são indescritíveis. Quando acreditamos que vimos as paisagens mais impressionantes, somos surpreendidos por algo ainda mais impactante.
Guia da Semana: Você pretende escrever um novo livro contando as curiosidades e as aventuras da viagem?
Beto Braga: No retorno ao Brasil, em 2012, estaremos com milhares de horas de filmagem e incontáveis fotografias. O material todo será editado e, posteriormente, transformado em outros livros, documentários e programas de televisão. A divulgação do impacto sócio-econômico e cultural, provocado pela Carretera Panamericana em todos países, durante estes 80 anos, com certeza será o ponto chave para o reconhecimento do trabalho dos Expedicionários.
Quem quiser saber todos os passos da família Braga, basta acessar ao blog novaexpedicao.blogspot.com
Atualizado em 6 Set 2011.