Guia da Semana

Imagina caminhar durante horas (ou até dias) por uma trilha sinuosa sujeito às mais diversas intempéries naturais e, de repente, se deparar com uma cidade meticulosamente erguida na Era Pré-Colombiana - e praticamente intacta - a 2.400 m de altitude nos andes peruanos. "Amazing". "Increíble". "Stupéfiant". "Deslumbrante". O idioma - que traduz a mistura de nacionalidades ali presentes - pode até ser diferente, mas o brilho nos olhos de quem se vê diante da imponência arquitetônica carregada de energias ancestrais, este sim, é inconfundível e supera qualquer comunicação verbal.

Há 100 anos, o brilho nos olhos vinha do professor norte-americano Hiram Bingham, que ao avistar o monumento em granito cinza e branco, em formato de um condor, logo quis chamá-lo de "cidade perdida dos Incas". E talvez nenhum outro nome seja mais adequado para definir os remanescentes arqueológicos de uma cidade que foi levantada em torno do século 15, resistiu à ferrenha colonização espanhola, e ficou oculta durante cinco séculos. Foi Bingham quem revelou sua existência ao mundo, em uma expedição patrocinada pela Universidade de Yale e a National Geographic, mas há registros que mostram que outros já haviam passado por ali.

O difícil acesso a Machu Picchu - pela floresta tropical à revalia das correntezas do Rio Urubamba - explica a manutenção por tantos anos de suas ruínas. Pouco se sabe sobre a finalidade de sua construção e o que teria levado os seus antigos habitantes a abandoná-la. Alguns pesquisadores acreditam que teria sido uma espécie de convento das virgens do Deus Sol. Outros creem que o local foi feito para a observação dos astros e que a cidade foi interditada quando o soberano Inca morreu.

Mesmo com todas essas especulações, não restam dúvidas que o local era considerado sagrado e, por isso, somente o Inca, a nobreza e algumas mulheres especiais podiam visitá-lo. Carregado de mistério e misticismo, o santuário já foi ponto de encontro de diversos grupos esotéricos e a verdade é que é difícil encontrar alguém que, ao chegar lá, não se deixe envolver por essa atmosfera.

Toda a excelência do trabalho em pedra e a disposição perfeita de seus terraços feitos para a agricultura em meio à montanha, fazem com que Machu Picchu seja considerado também uma das grandes engenhosidades do homem. O monumento é reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade e integra a lista das Sete Novas Maravilhas do Mundo. Sejam atraídos pelo misticismo ou pela arquitetura, um milhão de turistas viajam para o local anualmente - e as comemorações de seu centenário este ano prometem atrair ainda mais visitantes.

Foto: Marjorie Ribeiro

O trem que sai de Cuzco ou Ollantaytambo leva o turista até Águas Calientes, o povoado mais próximo de Machu Picchu

Quando ir

A melhor época para visitar é de maio a setembro, no Inverno andino. As temperaturas são mais baixas, mas é o período relativamente seco. Os meses de janeiro e fevereiro são os que mais chovem, sendo que em fevereiro a trilha inca é bloqueada por causa das chuvas. Mas Machu Picchu só é fechada nos dias em que chove muito, e logo depois, é reaberta.

Como chegar

É possível ir a Cuzco por um voo direto ou, para quem tiver mais tempo, percorrer o trajeto terrestre clássico dos mochileiros. O percurso por terra começa por Corumbá, no Mato Grosso, e inclui uma viagem pelo popular "trem da morte" - apelido hoje mais assustador do que realista do trem que liga Quijarro a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. De lá, toma-se vários ônibus que passam por La Paz, Copacabana (no Lago Titicaca), Puno e Cuzco. Outra possibilidade é fazer metade por avião, até Santa Cruz de La Sierra, e continuar o resto por terra.

Para chegar de Cuzco a Machu Picchu a opção mais requisitada é Trilha Inca, que dura de três a cinco dias - a mais comum é a de quatro - e refaz o caminho feito pelos antigos habitantes, caminhando e acampando em meio a fascinantes paisagens andinas e amazônicas. O pacote pode ser comprado em hostels ou em uma das diversas agências de viagem em Cuzco, por em média R$ 200 dólares, incluindo guia, estrutura de camping e entrada para Machu Picchu.

Quem não quiser desembolsar essa grana toda, tiver pouco tempo ou preferir algo com menos esforço físico, uma alternativa que também promete espetáculo aos olhos é ir pelo trem de vista panorâmica. Todos os dias saem vagões de Cuzco ou Ollantaytambo (a 60 km de Cuzco) até Águas Calientes, vilarejo mais próximo do santuário. Os bilhetes devem ser comprados anteriormente pelo site da Peru Rail ou adquiridos em agências.

Para os mochileiros que tiverem com o dinheiro contado, uma possibilidade é ir de van até a hidrelétrica, em Santa Tereza, e de lá andar três horas até o povoado. Essa é, sem dúvida, a opção mais barata, mas deve-se estar disposto a enfrentar uma viagem que pode levar 10 horas em uma estrada de chão, cheia de curvas e à beira de um abismo.

Enfim, Machu Picchu

Foto: Clara Coelho

Para ir de Águas Calientes até Machu Pucchi, é necessário percorrer uma trilha ou pegar um ônibus

Quatro horas da manhã é o horário que a maioria dos turistas saem de suas hospedagens em Águas Calientes e rumam, finalmente, ao aclamado destino final: Machu Picchu. A trilha é basicamente feita em escadarias e pode levar duas horas - mas pare cinco minutinhos para admirar o nascer do Sol onde quer que você esteja, fará toda diferença. Para quem quiser dormir um pouco mais, há um ônibus que leva ao santuário em apenas 15 minutos.

Um dos motivos para que a caminhada comece logo de madrugada é porque muitos querem subir a montanha mais alta do santuário, a Wayna Picchu, a 2.720 m de altitude. O número de visitantes diários autorizados é limitado a 400. A subida é exaustiva e bastante íngreme, com partes escorregadias, principalmente em meses de chuva, e outras protegidas por cabos de aço. Mas a visão que se tem de cima de todo o Parque Arqueológico é sublime.

A entrada para visitar Machu Picchu em um dia custa US$ 50. Quando chegar lá, vale a pena acompanhar as ricas explicações históricas dos guias, que geralmente estão incluídos nos pacotes de excursões. Dica: leve filtro solar, lanchinho e bastante água para se hidratar durante a caminhada e não ter que pagar os valores abusivos cobrados no quiosque do parque.

Fotos: Marjorie Ribeiro

Atualizado em 13 Set 2011.