Guia da Semana

"Caminho de ferro mandaram arrancar/ Velho maquinista com seu boné/ Lembra do povo alegre que vinha cortejar/ Maria Fumaça não canta mais". Canta, sim! O cantor Milton Nascimento provavelmente não se referia ao bairro da Mooca, na Zona Leste de São Paulo, quando compôs a canção Ponta de Areia, pois os tradicionais dois apitos, que sinalizam a partida do trem, ainda soam na redondeza todas sextas, sábados e domingos.

É quando a Maria Fumaça passa pelas ruas do bairro para levar alegria aos visitantes-passageiros e para relembrar os mooquenses de como seus antepassados chegaram até a terra brasiliana. O Trem Cultural, como é denominado o passeio de Maria Fumaça, passou a fazer parte do roteiro turístico paulistano em 5 de abril de 1998.

A iniciativa surgiu com a parceria entre a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), que já desenvolvia trabalho na área. "O passeio foi criado justamente para relembrar a vinda dos imigrantes para o Brasil", informa Sidnei Gonçalves, diretor financeiro da ABPF - Regional São Paulo.

O passeio

O Trem Cultural fazia parte das atrações do Memorial do Imigrante, também situado na Mooca, e percorria o trecho pertencente ao Ramal Ferroviário dos Imigrantes. A máquina saáa da Estação do Memorial, passava pela Rua da Mooca, pela entrada da Estação do Brás e retornava ao ponto de saída.

Porém, como o museu está em reforma, a Maria Fumaça está operando com um novo percurso: partida da Parada Rua Visconde de Parnaíba, visita ao pátio ferroviário - mantido pela ABPF -, passagem pela Rua da Mooca, pela entrada da Estação Brás e retorno ao ponto inicial.

Todos os monitores da ABPF trajam roupas que são réplicas das usadas pelos antigos funcionários da SPR

De acordo com o diretor financeiro da ABPF, no passeio pelo pátio há vários exemplares de materiais rodantes históricos, como uma das primeiras máquinas elétricas da América Latina da década de 20, um carro-restaurante dos anos 50 e uma locomotiva Box - que ganhou esse nome por ter aparência fechada, aerodinâmica reta e cabines angulares.

O passeio tem duração de 25 a 30 minutos e percorre 1,5 km sobre os antigos trilhos e dormentes. Além das saídas aos sábados, domingos e feriados, a Maria Fumaça também tem disponibilidade de realizar passeios agendados nas quintas e sextas, de acordo com Anderson Alves Conte, que é membro da ABPF.

"O mais comum é recebermos grupos escolares nas visitas agendadas. Antes eles vinham ao Memorial do Imigrante e casavam com o passeio do trem. Com a reforma do museu, eles visitam outros pontos turísticos de São Paulo, como o Museu da Língua Portuguesa e o Mercado Municipal casado com a Maria Fumaça", explica Conte.

Carga emotiva

A nostalgia literalmente toma conta de todos os visitantes que passeiam na Maria Fumaça. E não é para menos! É muito fácil transportar-se mentalmente para o passado ao chegar até a estação, ser recepcionado por monitores com vestimentas de época, como as dos funcionários da antiga ferrovia São Paulo Railway (SPR), e ter o seu bilhete de trem picotado da mesma maneira como faziam no século passado.

Os monitores membros da ABPF contam os fatos que compuseram a história da ferrovia no Brasil e principalmente destacam as curiosidades do trecho local. "Existem fatos que as pessoas não fazem ideia, como o motivo para o término dos trens de passageiros", comenta Anderson.

Foto: Divulgação/ABPF-SP

Locomotiva nº 5, que puxa o Trem Cultural, pertenceu à ferrovia Central do Brasil

Além da locomotiva a vapor, o trem está operando com um carro de passeios de 1900, um carro de Correio e Bagagem de 1914 e um outro de primeira classe, feito de aço, que pertenceu à Cia. Paulista na década de 50, de acordo com Sidnei. A bordo de máquinas tão antigas, o visitante poderá ter a sensação de reviver experiências de seus antepassados.

Conte destaca que as pessoas realmente se emocionam diversas vezes durante o passeio de Maria Fumaça. "Nesta simulação do passado que fazemos, as pessoas ficam emocionadas na hora que picotamos o bilhete e quando soa o apito, pois se lembram da época de seus pais ou avós que andavam trem", ressalta. Ele ainda comenta que a maioria dos visitantes são famílias e que vão para o passeio de Maria Fumaça a convite das crianças, que costumam ter fascínio por trem.

A história

A grande estrela do passeio é uma composição movida por uma locomotiva a vapor de 1922, produzida pela empresa americana Baldwin. O apreço pelo trem é tão grande que até conquistou um codinome: Martinha. "A Locomotiva Nº 5 ganhou o apelido de Marta do engenheiro que fez o seu restauro, mas se popularizou como Martinha. Ele realizava esse trabalho por hobby, chegava até a colocar dinheiro do seu bolso para consertar os trens e, em troca, ele dava um nome a cada um", explica Gonçalves.

O trem pertenceu à primeira ferrovia do país, a Central do Brasil, que vai do Rio de Janeiro até São Paulo, na região de Sabaúna. A Martinha era uma locomotiva de manobras de pátio ferroviário, ou seja, ficava restrita apenas àquele local. Porém, por motivos ainda desconhecidos, a máquina foi encontrada em uma praça pública na cidade de Cachoeira Paulista, interior de São Paulo.

Foi em 1998 que a Martinha passou a correr pelos trilhos da SPR, a primeira ferrovia do Estado de São Paulo e segunda do Brasil, que teve papel fundamental para a imigração. "A SPR foi criada pelos ingleses para o transporte de carga, no caso, o café do interior do Estado de São Paulo até o Porto de Santos. Posteriormente, também passou a transportar passageiros. Eles eram os imigrantes, que vinham do Porto de Santos até a Hospedaria dos Imigrantes, onde passariam pela triagem até chegar às lavouras de café", explica Sidnei Gonçalves.

Seja pela curiosidade em conhecer um pouco da vida de seus antepassados, pelo fascínio do universo das ferrovias ou simplesmente para fazer um programa cultural aos finais de semana, o passeio do Trem Cultural é uma excelente experiência!

Crédito: Divulgação/ABPF-SP


Serviço

Saídas: sábado, domingo e feriado
Horário: 11h às 16h
Preço: R$ 6
Telefone: (11) 2695-1151
Site: www.abpfsp.com.br

Foto de abertura: Divulgação/ABPF-SP

Atualizado em 13 Set 2011.