A vibração paroxística do frevo é realmente uma coisa assombrosa. É, enfim, um verdadeiro allegro num presto nacional. É, sem dúvida, o entusiasmo, a ardência orgíaca, mais dionisíaca de nossa música nacional. E aquele rapaz que dançou! Mas será possível que uma coreografia, assim, ainda se conserve ignorada dos nossos teatros e bailarinos? Que beleza! Que leveza admirável!
Antes mesmo de o frevo ser conhecido nacionalmente, Mário de Andrade já versava sobre o ritmo e dança que têm raízes nas classes populares recifenses - embora tenham se consolidado em Olinda. "É difícil precisar quando o frevo surgiu já que foi um processo de formação espontâneo. Data-se 1907 porque foi a primeira vez que a palavra apareceu nos jornais e o próprio poder público encampou isso como identidade nacional", explica a antropóloga Rita de Cássia de Araújo.
Segundo ela, os primeiros clubes pedestres apareceram em meados de 1860 e cresceram consideravelmente a partir de 1880 e 1890, com a proclamação da República e a abolição da escravidão. A orquestra que passava pela cidade atraía trabalhadores urbanos, artesãos, cacheiros, além de vadios, prostitutas e malandros que estavam nas ruas. Por causa de seus frequentadores, o frevo não era nada bem visto pela imprensa e a elite local. Na época, o carnaval celebrado era o de máscaras e fantasias, que reunia os poderosos e ricos da cidade.
Somente a partir da década de 1920, com o Modernismo e o movimento de exaltação das raízes brasileira é que a imagem do frevo começou a mudar. "Na década de 1930, quando acontece a oficialização do carnaval pelo poder público, ele passa a ser considerado símbolo da identidade nacional", afirma Rita.
Influências culturais
A palavra "frevo" vem de "ferver" e refere-se à efervescência, agitação e o frenesi que o ritmo causava quando passava pelas ruas recifenses. Há estudiosos que acreditam ainda que a expressão é resultado da maneira incorreta como as pessoas mais humildes flexionavam o verbo "ferver", trocando a ordem das letras "e" e "r".
Um caldeirão de movimentos culturais formou o frevo atual, na definição de Rita de Cássia Araújo. Desde a orquestra que era originalmente formada por bandas militares aos desfiles nas ruas que remete aos cortejos de irmandades religiosas. A dança, por exemplo, é fortemente influenciada pelos capoeiristas que passavam pelas ruas.
Já o ritmo tem suas origens na modinha, dobrado, polca, quadrilha e maxixe, de acordo com o compositor e pesquisador de música popular brasileira, Renato Phaelante. No começo, a manifestação recifense era somente orquestrada e, com o tempo, foi incorporando canções com letras.
"Com o surgimento das marchas evidentes nas troças e clubes do carnaval do Recife, as mensagens nos desfiles se fizeram necessárias para destaque de suas alegorias. Mais adiante, quando o frevo foi introduzido nos salões, houve a necessidade de letras que pudessem ser entoadas pelos foliões", diz.
E o que simboliza o guarda-chuva tão característico do frevo? A sombrinha atual, pequena e colorida, é alegórica e existe somente pelo espetáculo visual. Mas Rita de Cássia explica que, no período de formação, as camadas populares incorporaram o costume de utilizá-la para se proteger do sol ou passar elegância.
Além disso, o acessório poderia ser transformado em uma arma. "Há diversas caricaturas que mostram um passista apontando um guarda-chuva na barriga de outra pessoa", lembra. Assim, a sombrinha que estava às mãos acabava por integrar naturalmente a dança.
Tipos de Frevo
Frevo de rua - instrumental, feito para ser executado a céu aberto, por troças, clubes pedestres e pelas multidões que os acompanha na rua
Frevo de canção - possui uma introdução orquestrada para acompanhamento de uma letra e seu andamento é um pouco mais lento.
Frevo de bloco - chamado antigamente de marcha de bloco é executado por orquestras de pau e cordas que, por sua vez, acompanham os blocos carnavalescos mistos do Recife.
Atualizado em 13 Set 2011.